Foi um pioneiro na divulgação da literatura brasileira em Portugal

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Foi um pioneiro na divulgação da literatura brasileira em Portugal

Adolfo Victor Casais Monteiro (1908-1972), professor, poeta e ensaísta português. Foi um pioneiro na divulgação da literatura brasileira em Portugal desde 1935, com seu estudo da poesia de Ribeiro Couto. Continuando essa difusão, focalizou em conferências e ensaios o romance social nordestino (Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Rachel de Queiroz) e a poesia de Manuel Bandeira. Viu no romance brasileiro moderno – principalmente no que denominava “realismo lírico” de Jorge Amado – um modelo a ser seguido pelos escritores “neo-realistas” portugueses liderados por Alves Redol e Ferreira de Castro.

A espontaneidade da linguagem literária brasileira lhe parecia um modelo a ser seguido para transmitir uma denúncia social sem preciosidades de estilo e com um diálogo já muito próximo da fala diária. Nasceu no Porto em 1908 e morreu em São Paulo em 1972. Exilara-se em 1954 no Brasil (onde ensinou em várias universidades, com uma breve passagem pelos EUA perto do fim da vida) por motivos políticos, mas não apenas por esses (proibição de ensinar); na verdade, a opção pelo Brasil, deveu-se sobretudo a um desejo de liberdade, não só dos poderes de facto em Portugal mas também face aos meios da oposição portuguesa, que percebeu serem pouco apropriados a heterodoxos como ele (as afinidades entre as reflexões de Casais Monteiro e Eduardo Lourenço a este respeito merecem ser notadas).

Na sua opinião, o estudo dos escritores do nordeste serviria de “antídoto para o estilo altissonante oco de conteúdo”, pois era uma forma de narrar “enxugada de toda retórica”. É ainda durante a sua licenciatura, na Faculdade de Letras do Porto, em Ciências Históricas e Filosóficas, num meio influenciado por Leonardo Coimbra, que se estreia nas Letras com os poemas de Confusão (1929). Depois de ter obtido qualificação pedagógica em Coimbra, começa a ensinar no Porto em 1934 (Liceu Rodrigues de Freitas).

A partir de 1954, escolheu o Brasil como residência definitiva, passando a escrever com frequência em suplementos literários, a publicar livros e a lecionar em faculdades de letras, como a de Araraquara e a da Universidade de São Paulo. Sua atividade crítica foi sumamente importante para o conhecimento da poesia de Fernando Pessoa e Mário de Sá Carneiro tanto no Brasil como na França, ressaltando o valor europeu e não só português desses poetas modernistas. Data de 1938 sua excelente introdução, em francês, à poética de Fernando Pessoa, apresentação que ampliou em sua edição brasileira de “A Poesia da Presença” e “Estudos sobre a Poesia de Fernando Pessoa”, entre 1958 e 1959.

Sem formular propriamente uma “doutrina literária” coerente, Adolfo Casais Monteiro defendia porém, com seu arsenal corajosamente polêmico, uma literatura engajada do ponto de vista político-social, mas que não rebaixasse seu conteúdo estético. Não admitia que se sacrificasse a forma pelo conteúdo.

“Scholar” europeu, conhecia com grande versatilidade tanto a literatura russa quanto a americana, a francesa como a inglesa, ou a espanhola, notadamente novelistas dos séculos XIX e XX. Manteve sempre em vista a atividade artística e literária em Portugal (onde nunca voltou), como as dedicatórias dos poemas dos últimos livros deixam perceber. Depois de décadas sem que a Censura permitisse, sequer, a publicação do seu nome, em 1969 a Portugália Editora lança o volume Poesias Completas, marcando a recepção da sua Obra pela geração que fará o 25 de Abril.

Como professor, essa multiplicidade de perspectivas críticas o aproximou, nos últimos anos, do ensino da Teoria da Literatura, com comparações interessantes entre uma escola literária e outra, de pesquisas sobre a influência de escritores de um país em outro.

Sua breve tentativa de criar ficção ficou restrita a “Adolescentes” (1946), romance menor e que não tem significação permanente na sua obra.

Foi como poeta (“Confusão”; “Poemas do Tempo Incerto”; “Canto de Nossa Agonia”, etc.) que deixou versos de grande contenção emotiva e fluente espontaneidade (“Aos ventos espalhei a cinza dos meus gestos/ Num desprezo de mim, fiz-me poeta”) embora de importância claramente inferior à sua contribuição crítica. Esta, como justamente a definia, era uma forma também válida de criação artística. Casais Monteiro morreu no dia 24 de julho de 1972, aos 64 anos, quando se preparava para ministrar um curso de Teoria da Literatura na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, em São Paulo.

(Fonte: Veja, 2 de agosto, 1972 – Edição n.° 204 – DATAS – Pág; 38)

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