Foi o primeiro radialista a transmitir um Grand Prix do exterior

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Foi o primeiro a transmitir de forma regular as corridas de Fórmula 1

O pioneirismo do Barão e seu amor pelo automobilismo continuam nos Fittipaldi

Wilson Fittipaldi (Santo André, 4 de agosto de 1920 – Rio de Janeiro, 11 de março de 2013), o Barão, pai de Emerson.

Emerson Fittipaldi é um pioneiro. Ninguém questiona. Foi o primeiro piloto brasileiro a vencer uma etapa do Campeonato de Fórmula 1, em 1970, e a conquistar o Mundial, em 1972. Mais: o primeiro a ser campeão na Fórmula Indy, em 1989, e a celebrar duas vitórias na corrida mais famosa do mundo, as 500 Milhas de Indianápolis, em 1989 e 1993. O que pouca gente sabe, no entanto, é que esse caráter de pionerismo faz parte de uma tradição familiar. E nesse sentido, nenhuma obra teve a importância para o automobilismo da deixada por seu pai, o radialista, promotor e empresário Wilson Fittipaldi, carinhosamente conhecido com o Barão.

“Posso ter passado o amor pela velocidade aos meus filhos, mas não o talento”, disse o Barão em entrevista em 2005.

Em 1940, a construtora Auto Estrada S/A construiu o autódromo de Interlagos. Na realidade, mal asfaltou um circuito brilhantemente concebido pelo engenheiro britânico Louis Romero Sanson, numa remota área de sua propriedade, distante do núcleo urbano de São Paulo. “Eu ia lá narrar as corridas para a rádio Excelsior, onde trabalhava.” O então proprietário da Rádio Panamerica, Paulo Machado de Carvalho, no fim de 1946, foi pessoalmente à concorrente Rádio Excelsior agradecer aquele jovem de 26 anos, radialista apaixonado por automobilismo.

“Eu conhecia o dono de um restaurante próximo que me emprestou a linha telefônica para transmitir a corrida. Os outros não conheciam direito as dificuldades de Interlagos”, falava o Barão, já naquela época bastante ativo na busca de patrocinadores para viabilizar seu trabalho. Por sua iniciativa, as rádios Panamericana e Record transmitiram em rede. Mas Paulo Machado Carvalho tinha mais a dizer ao Barão: convidou-o para se transferir para a Rádio Panamericana. Não é tudo, teria um programa de automobilismo, diário, Esportes e Motor, para começar das 20h30 às 20h45. A relação entre o Barão e a Rádio Panamericana deu tão certo que ele a deixou apenas em 1980.

Foi Barão o primeiro radialista a transmitir um Grand Prix do exterior. Chico Landi havia vencido o GP de Bari de 1948, com a Ferrari, marca criada um ano antes pelo mais tarde Comendador Enzo Anselmo Ferrari. E a repercussão foi tão grande que Carvalho enviou o Barão para lá no ano seguinte. “Eu levava dois gravadores imensos, impensáveis para os dias de hoje”, lembrou na época. “E usava ternos de linho que para o verão europeu me fizeram sofrer o tempo todo. Mas tudo era novidade para mim, estava tão entusiasmado que, na realidade, não me perturbava tanto.”

Desta vez a Ferrari de Chico teve um problema e ele não terminou a prova.

Logo depois, a visão e o pioneirismo do Barão foram decisivos para o Brasil conquistar tanto sucesso nas pista no mundo todo durante décadas. “Em 1952, a Auto Estrada estava cansada de não ganhar nada com o investimento em Interlagos e loteu a área de um milhão de metros quadrados”, disse. “Consegui me infiltrar na Secretaria de Esportes, o que ajudou a Prefeitura a adquirir o autódromo e salvá-lo. Para chegar lá, cruzávamos uma ponte de madeira, sobre o Rio Pinheiros, onde passava um carro de cada vez. E era comum o piloto parar no box para reclamar da presença de um cavalo no meio da pista.”

A PRIMEIRA VOLTA DE EMERSON
Foi em 1956 que Emerson se deixou contaminar de vez pelo que o pai fazia, ao dar uma volta como passageiro numa das carreteras que se deslocaram do Rio Grande do Sul para Interlagos. “Na viagem para cobrir a corrida do Chico eu assiti à largada da Mille Miglie, em Brescia, e disse a mim mesmo que promoveria algo semelhante no Brasil, mas em vez de ser pelas estradas do País, como na Itália, seria em Interlagos, as Mil Milhas Brasileiras.”

A oportunidade para Emerson sentir a aproximação da curva 3, no fim do Retão, a 200 km/h, era aquela. “Lembro como se fosse hoje”, comentou Emerson, numa entrevista para o livro sobre os 50 anos das Mil Milhas, promovido e organizada pelo seu pai. A competição viria a ser a mais tradicional do calendário brasileiro.

O direito esportivo das corridas pertencia ao Automóvel Clube do Brasil, com sede no Rio, então capital Federal. “Havia de tudo naquele clube. Todos estavam saturados dos desmandos e da sua ineficiência. Tínhamos de pagar altas taxas para ter nada em troca”, disse. “Um grupo de abnegados começou a trabalhar para mostrar para a FIA que precisávamos outra entidade para cuidar do automobilismo.”

CBA
O Barão e o publicitário Mauro Salles, dentre outros, foram os responsáveis pela criação da Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA) e ajudaram a convencer a FIA de que o melhor para o Brasil seria transferir os direitos do Automóvel Clube para a nova Confederação. “Foi uma batalha duríssima, mas conseguimos”, comentou na ocasião.

O pai de Emerson Fittipaldi foi o primeiro também a transmitir de forma regular as corridas de Fórmula 1, no começo dos anos 70. Sempre pela Rádio Panamericana. E em 1972, aquele gene ativo repassado ao filho mais jovem manifestou-se na plenitude ao levá-lo a celebrar o primeiro título mundial, com vitória, pela Lotus, em Monza. “Larguei tudo após a bandeirada e saí correndo para abraçar o Emerson”, declarou o Barão, emocionado – como estão agora os que apreciam automobilismo no Brasil ao saber de sua morte.

Além dos filhos Emerson e Wilson, tornaram-se pilotos profissionais o neto, Christian, e agora um bisneto, Pietro Fittipaldi, que surge com a mesma gana que o bisavô passou para os filhos. O garoto já foi campeão de uma categoria da Nascar, aos 15 anos.

(Fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/esportes – Esportes – Velocidade – Livio Oricchio – O Estado S. Paulo – 11 de março de 2013)

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