Foi coautor da primeira proposta de um arranjo experimental para fazer teletransporte em laboratório

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Pioneiro do teletransporte

Foi coautor da primeira proposta de um arranjo experimental para fazer teletransporte em laboratório

O físico carioca Luiz Davidovich, professor da UFRJ, foi coautor da primeira proposta de um arranjo experimental para fazer teletransporte em laboratório. O trabalho foi feito nos anos 1990 em parceria com um colega brasileiro e colaboradores franceses. A concepção desse trabalho foi descrita no perfil de Davidovich publicado na piauí de outubro. Mas vale voltar ao tema para um relato mais detalhado de como ele foi feito.

No teletransporte quântico, que o físico carioca pesquisava naquele momento da sua carreira, não é exatamente a matéria que é transportada de um ponto a outro, como acontece no seriado Jornada nas Estrelas. A informação sobre um determinado átomo ou partícula é que é transmitida para um outro local.

Esse feito só é possível devido a um estranho fenômeno do mundo quântico: o emaranhamento de partículas. Dois átomos ou fótons que se encontrem nesse estado são ligados por uma “conexão íntima” que faz com que mudanças sofridas por um se reflitam no outro, ainda que estejam a milhares de quilômetros de distância um do outro.

O protocolo experimental proposto pela equipe de Davidovich recorria à conexão de dois átomos emaranhados para que a informação sobre o estado de um fosse transmitida para o outro. A ideia de explorar o emaranhamento para permitir o teletransporte de estado quântico foi proposta pela equipe de Charles Bennett, pesquisador da IBM, e apresentada em um artigo clássico publicado na Physical Review Letters em 1993.

Luiz Davidovich se animou ao ler o trabalho de Bennett. A ideia do teletransporte quântico não era apenas simples e elegante: era factível. Naquele ponto, o brasileiro já passara duas longas temporadas trabalhando com a equipe do colega francês Serge Haroche, da École Normale Supérieure, em Paris. Estava familiarizado com as cavidades de espelhos do laboratório Kastler Brossel, capazes de manipular átomos e fótons individuais.

Davidovich começou a se perguntar como o protocolo engenhoso de teletransporte proposto por Bennett poderia ser executado com aquele equipamento. Decidido a atacar o problema, ele arregimentou um aliado de longa data: o colega Nicim Zagury, que fora seu professor de graduação na PUC-Rio nos anos 1960 e teria sido seu orientador de mestrado, não tivesse Davidovich sido expulso da universidade devido a seu envolvimento com política estudantil.

No início de 1994, a dupla passou um mês intenso em Paris, bolando a concepção de um experimento para o teletransporte de átomos. Davidovich se lembra bem dos dias em que atacou o problema com Nicim. “Parecíamos jovens adolescentes, trabalhando desde a manhã até tarde da noite”, disse. “Não era óbvio como aquilo teria que ser feito, envolvia muitos cálculos. Mas acabamos conseguindo encontrar uma solução.” E descreveu o processo com um adjetivo que aparece sempre que fala de grandes desafios teóricos: “Foi muito divertido”.

O trabalho da dupla foi a base da primeira proposta de um arranjo experimental que permitisse realizar o protocolo concebido por Bennett. O experimento foi descrito em artigo publicado em agosto de 1994 na Physical Review A, assinado por Davidovich, Zagury e três pesquisadores do time de Haroche.

Mas ele acabou nunca saindo do papel. Fazer o teletransporte com fótons – e não com átomos, como propunha a equipe franco-brasileira – exigia um aparato bem mais simples e foi a estratégia adotada nos primeiros experimentos do tipo feitos em 1997 pelo grupo do austríaco Anton Zeilinger, do Instituto de Física Experimental da Universidade de Viena. Executar o experimento concebido em 1994 deixou de ser uma prioridade. Mas Serge Haroche não descarta que seu grupo venha um dia a realizá-lo.

Em seu apartamento no Rio de Janeiro, Nicim Zagury explicou como são os trabalhos de física teórica em parceria com Davidovich. “Surge uma ideia, geralmente proposta pelo Luiz, e começamos a discutir. Nessa hora não nos incomodamos de falar besteira”, disse. “Às vezes é preciso parar e verificar se uma certa ideia realmente funciona e, se for preciso, fazer alguma conta numérica. Não foi o caso no problema do teletransporte, ali teve só cálculo algébrico.

(Fonte: www.revistapiaui.estadao.com.br – 21/10/2011 – Pioneiro do teletransporte/ Por Autor: Bernardo Esteves)

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