Foi a primeira criança negra a estrelar um comercial de TV

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‘Biba’ foi 1ª criança negra a estrelar comercial no Brasil

Cinthya Rachel como Biba em ‘Castelo Rá-Tim-Bum’ (Imagem: Reprodução)

 

 

Cinthya Rachel, atriz que fez a 'Biba' no 'Castelo Rá-Tim-Bum' foi a 1ª criança negra a protagonizar um comercial no Brasil. (Imagem: Arquivo pessoal)

Cinthya Rachel, atriz que fez a ‘Biba’ no ‘Castelo Rá-Tim-Bum’ foi a 1ª criança negra a protagonizar um comercial no Brasil. (Imagem: Arquivo pessoal)

 

Pioneirismo e protagonismo. Duas palavras que podem descrever a carreira da atriz, apresentadora, jornalista, escritora, dubladora e influencer digital Cinthya Rachel.

Embora seja mais lembrada pelo público pela série infantil ‘Castelo Rá-Tim-Bum’, exibida pela TV Cultura nos anos noventa, sua importância vai bem além dos portões do castelo do Doutor Victor.

Em 1987, ela foi a primeira criança negra a estrelar um comercial de TV.

O sucesso da publicidade abriu portas não só para a extrovertida menina de apenas sete anos, mas para a representatividade numa época carente de referências negras na cultura de modo geral.

“Ninguém me inspirava porque não tinha ninguém. Cresci e as pessoas falavam de referência, aí eu fui perceber que eu não tenho referências. Havia mulheres adultas, mas crianças e adolescentes na minha época realmente não existia. Fui a primeira”, diz Cinthya a Ecoa, desde a sua casa em Buenos Aires, na Argentina, onde vive há 8 anos.

Dois anos após o êxito do comercial de uma marca de refresco, a artista conquistou outro feito inédito: foi a primeira apresentadora infantil negra.

O programa matinal ‘Cometa Alegria’, que dividia com o ator Patrick de Oliveira no final da década de oitenta, na extinta Rede Manchete, se tornou mais um sucesso em seu currículo.

“Eu só fui perceber esse pioneirismo há pouco tempo, acredite se quiser. Você não percebe muito enquanto está vivendo as coisas; hoje analisando vejo a importância que foi isso.”

Pele ‘cor de chocolate’ 

Recentemente, ao ler reportagens do passado sobre sua carreira, ela notou que ninguém sequer mencionava que ela era negra. “Nem se escrevia no jornal que eu era negra, era tipo ‘a moreninha’, ‘pele cor de chocolate’, nem se falava essa palavra, é uma loucura pensar isso em retrospectiva”.

A ausência de referências na mídia fez com que Cinthya levasse um tempo para se enxergar como uma criança negra.

 

Cinthya Rachel no comercial do refresco Tang. (Imagem: Arquivo pessoal)

Cinthya Rachel no comercial do refresco Tang. (Imagem: Arquivo pessoal)

 

“Lembro que quando assistia a Xuxa, eu queria ser Paquita, mas achava que não podia porque o meu cabelo não era liso. Eu não me entendia como mulher negra naquela época, porque a gente era invisibilizado, não falavam nem qual era a minha cor no jornal”.

Comerciais, TV e jornalismo 

Cinthya Rachel nasceu em Santos, no litoral de São Paulo, mas a família se mudou para a capital paulista quando ela tinha 3 anos. Antes do comercial do refresco Tang, ela já tinha feito outros, começou aos 5 anos de idade.

Decidiu cursar a faculdade de jornalismo influenciada pelo programa juvenil que apresentava na TV Cultura. “Foi algo que me chamou muita atenção essa parte de apresentação, e eu pensei o que eu podia fazer para aprender mais e para ter um diploma na área”.

Ao longo de 37 anos de carreira, a atriz passou por todas as emissoras de TV brasileiras. Além da TV Cultura, ela participou da minissérie ‘Abolição’, na Globo. Na Record, teve um quadro no programa ‘Domingo da Gente’ e também foi repórter na Record Internacional. Trabalhou como repórter também na Band, no ‘Programa Raul Gil’, e no SBT, no programa da Eliana; e na TV Gazeta participou do programa de culinária ‘Cozinha Amiga’.

Ela ainda se aventurou na música, no grupo ‘Jairzinho e a Patrulha do Barulho’, no fim dos anos oitenta, ao lado da irmã Vânia Estela e da cantora Luciana Mello. O sucesso musical fez com que eles viajassem por todo o país, cantando inclusive nos shows de Xuxa.

Virou boneca 

O êxito de ‘Castelo Rá-Tim-Bum’ rendeu até uma boneca inspirada na sua personagem Biba. Cinthya lembra que a boneca foi lançada em uma era dominada por apresentadoras de TV loiras. “Eu sempre fui criada para ser muito humilde nas minhas conquistas, acho que até hoje não assimilei que tinha uma boneca que era a minha cara”.

Na ocasião, ela fez questão de ir à fábrica para participar da concepção, e hoje avalia como foi importante aquela iniciativa: “Hoje eu não acho que a boneca era muito parecida comigo, o cabelo não era cacheado como era o meu, mas foi o possível naquele momento. E é de uma importância muito grande a criança negra poder ter uma boneca parecida com ela. Isso sim é incrível, a criança poder se ver ali é sensacional”.

A atriz vê avanços na questão da representatividade dos negros e negras na televisão, mas reconhece que ainda há um longo caminho para se alcançar a igualdade.: “Hoje existe muito mais espaço. É o suficiente? De modo algum. É muito mais do que na minha época? Muito mais. Na época de criança tinha eu, entendeu? Hoje é muito maior sem sombra de dúvida, mas não é o suficiente”.

Nessa coisa de ator tem o perfil, muitas vezes na descrição do personagem vem: ‘fulano é sei lá o quê, negra’, então só chama quando está isso na descrição, nos outros personagens não vem escrito ‘branco’. E o negro pode fazer qualquer tipo de personagem.

Novela aos 15 anos

Em 1995, a Rede Manchete voltava à teledramaturgia com ‘Tocaia Grande’, baseada no romance de Jorge Amado. Fazer novela não estava nos planos de Cinthya, mas ela aceitou o convite e encarou o desafio. O resultado ela avalia que não foi tão positivo.

“Morava em São Paulo e tinha que ir para o Rio para gravar, era muito cansativo, gravava o dia inteiro, acordava cinco e pouco da manhã, chegava à noite. Não acho que é vida para ninguém, principalmente para uma adolescente de 15 anos. A gente se acha super esperta, mas não é, muito assédio, muita coisa que hoje entendo, mas na época não entendia direito”, reflete.

O ritmo alucinante das gravações desencadeou uma crise de estresse e labirintite nervosa, que só melhorou quando ela retomou a sua rotina em São Paulo. Mesmo sendo o sonho de muitas jovens atuar em uma novela, por opção ela não quis fazer outras. “Conheci muitas pessoas legais, vi como se faz uma novela, aprendi muitas coisas, mas eu não gostei dessa experiência, tanto que eu nunca mais aceitei fazer”.

Dublagem e mudança de país 

Há oito anos morando em Buenos Aires com o marido, o argentino Gastón Marano, e o filho Joaquín, de cinco anos, Cinthya atualmente trabalha como dubladora e influenciadora digital.

Aos 42 anos, ela olha para o passado e faz uma retrospectiva sem nenhum deslumbramento com o sucesso. “É uma trajetória muito longa, de muito trabalho, uma trajetória muito interessante em relação à representatividade, e hoje vejo a importância disso”.

Ela se emociona ao lembrar quando uma jovem negra contou que havia decidido estudar Comunicação Social influenciada por ela. Mesmo sem planos de voltar a morar no país, ela mantém uma relação estreita com os seus fãs brasileiros através das redes sociais, que sempre demonstram muito carinho.

“Não passa um dia sem que eu não receba uma mensagem de alguém falando não só do ‘Castelo’, mas principalmente da propaganda do refresco, de como acabei sendo uma referência para as pessoas, eu acho que isso faz valer tudo.”

(Créditos autorais: https://www.uol.com.br/ecoa/ultimas-noticias/2023/06/15 – PESSOAS/ por André Aram/ Colaboração para Ecoa – 15/06/2023)

Nota do repórter: em meados dos anos oitenta, o programa infantil ‘ZYB Bom’, da Rede Bandeirantes, contava com seis apresentadores, entre eles uma menina negra chamada Juliana, que não deu continuidade à carreira artística depois. A atração durou apenas um ano. … – Veja mais em https://www.uol.com.br/ecoa/ultimas-noticias/2023/06/15/cinthya-rachel-foi-a-1-crianca-negra-a-protagonizar-um-comercial-no-brasil.htm?cmpid=copiaecola

 

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