Flávio Império, o mais importante cenógrafo do teatro brasileiro, além de professor de Urbanismo.

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Flávio Império: o artista de todas as artes

Flávio Império (São Paulo, 19 de dezembro de 1935 – São Paulo, 7 de setembro de 1985), o mais importante cenógrafo do teatro brasileiro, além de arquiteto, poeta, pintor, artista plástico e professor de Urbanismo.

Era defenido como um maestro da Florença renascentista, tinha em comum com aqueles magníficos artistas florentinos a capacidade de ser genial em vários campos da arte. Pintor, artista plástico, arquiteto, professor de Urbanismo e poeta, Império notabilizou-se por seu trabalho como cenógrafo. Seus cenários não eram apenas belos quadros. Como arquiteto, sabia criar espaços tridimensionais. Ele possuía concepções geniais de divisão cênica.

Império começou sua carreira em 1959, com os cenários da peça Morte e Vida Severina, para o Teatro Natal, em São Paulo. Nos anos 60 participou das montagens do Teatro Oficina (Roda Viva e Andorra) e do Teatro de Arena (O Melhor Juiz, O Rei, Arena Conta Zumbi e Arena Conta Tiradentes), ao lado de grandes nomes como Augusto Boal, Paulo José, Juca de Oliveira e Gianfrancesco Guarnieri. Um de seus últimos trabalhos foi para a peça A Falecida, de Nélson Rodrigues, quando reproduziu com perfeição o clima trágico da obra. Se fosse possível estabelecer um elo de ligação entre as diversas tendências do tetaro brasileiro contemporâneo esse elo passaria por Flávio Império. Império também fazia cenários para shows de música. os brilhos de cetim que instalou nos palcos de Maria Bethânia foram uma marca registrada da cantora.

Na criação dos cenários, Império usava, muitas vezes, materiais pouco ortodoxos, como botas de borracha, purpurina e tecidos baratos. “Os projetos cenográficos são feitos com os mesmos materiais do século XIX”, gostav de dizer. “Papelão, tecido, madeira. Só mudou a luz, que hoje é elétrica.” Ao contrário dos mestres polivalentes da Renascença, contudo, Flávio Império não deixou discípulos.

Embora com a saúde seriamente debilitada desde 1983 – período em que sofreu ataques consecutivos de herpes, e sérias crises renais – ele aceitou o convite de uma velha amiga, a cantora baiana Maria Bethânia, para a criação dos cenários de seu show na capital paulista. Na estreia do espetáculo, a 18 de julho, no Palace, réplica do Canecão carioca, Flávio Império fez questão de estar presente, emboara ainda mais definhando. Foi uma de suas últimas aparições públicas. Sua morte aumentou para 204 o número de vítimas fatais de AIDS em todo o Brasil – e a terceira, comprovadamente, no centro ou na periferia dos meios artísticos nacionais: o primeiro foi o costureiro Markito, que morreu em junho de 1983, aos 31 anos, e o segundo, o ator e diretor Luiz Roberto Galizia, vitimado aos 33 anos, em fevereiro de 1985. Ambos, como Império, eram homossexuais. Flávio Império faleceu dia 7 de setembro de 1985, aos 49 anos, de septicemia generalizada, causada pela AIDS, em São Paulo.

(Fonte: Veja, 18 de setembro de 1985 – Edição 889 – DATAS – Pág; 99 – Comportamento – Pág;85/86)

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