Djuna Barnes, uma das mais renomadas e, ao mesmo tempo, desconhecida autora da literatura modernista americana do século XX

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DJUNA BARNES; POETA E NOVELISTA

Djuna Barnes (Cornwall-on the-Hudson, Nova Iorque, 12 de junho de 1892 – 18 de junho de 1982), uma das mais renomadas e, ao mesmo tempo, desconhecida autora da literatura modernista americana do século XX.

Como costumava dizer, ela foi ‘a mais famosa desconhecida do século’. De fato, sua literatura, ainda que conte com admiradores do porte de Graham Greene e James Joyce, tem sido cultuada por pouco fiéis, e sua escrita tem uma característica marcada pelo humor negro e ironia.

Djuna escreveu clássicos de temática lésbica, como ‘Almanaque das Senhoras’ e ‘O Bosque da Noite’ (1936), romance que narra o angustiado caso de amor homossexual entre Nora Flood, a protagonista, e a jovem Robin Vote.

Nascida em Cornwall-on-Hudson, nos arredores de Nova Iorque, no dia 12 de junho de 1892, Djuna era de uma família nem um pouco convencional. Seu pai Wald, um pintor frustrado, acreditava na liberdade sexual e mantinha, sob o mesmo teto, duas famílias: a com a esposa e a da amante. Além disso, saía com as mulheres da vizinhança. Sua avó, Zadel, era jornalista e acreditava no feminismo.

Djuna não estudou em escola pública porque seu pai não acreditava no sistema educacional regular. Para ele, a educação familiar seria mais importante e enriquecedora. Sua casa era frequentada por artistas de destaque, tais como Jack London e Franz Liszt. A excentricidade da família de Djuna marcou a tal ponto sua história que foi passada para um de seus livros, ‘Ryder’. Aos 16 anos, a americana foi submetida a uma relação sexual forçada com um vizinho, pois seu pai acreditava que já estava na hora de ela conhecer o sexo. Djuna nunca mais perdoou o pai por aquela agressão nem os irmãos, pelas constantes tentativas de abusarem sexualmente dela.

Quando Wald abandonou a família, Djuna decidiu ir para Nova Iorque trabalhar como jornalista para sustentar a mãe e os irmãos. Seus comentários sarcásticos e as matérias inusitadas tornaram-na, rapidamente, uma das mulheres mais bem pagas da época. Foi colunista especial de teatro em vários jornais e revistas. Entre 1920 e 1921, três de suas peças foram encenadas.

No mesmo ano de 1921, Barnes foi enviada a Paris como correspondente da McCall’s. Imersa no cenário modernista de Paris, a americana ficou na Europa por cerca de 20 anos. Na capital francesa, conheceu Natalie Barney, uma rica herdeira americana que se tornou anfitriã de um dos salões culturais de maior sucesso durante toda a metade do século XX. A ‘Academia de Mulheres’, como ficou conhecido o local, reunia grandes escritoras, como Radclyffe Hall, Mina Loy e Janet Flanner, e servia como ponto de encontro de artistas de todos os tipos, mas principalmente de lésbicas e homossexuais. Natalie, homossexual assumida que teve um rápido romance com Djuna, patrocinava os jovens talentos do salão e foi uma das pioneiras a defender o ‘orgulho gay’. A saloniére e os encontros na Academia de Mulheres foram fonte de inspiração para um dos primeiro grandes sucessos de Djuna: ‘Ladies Almanack’. As ilustrações do livro foram feitas pela própria Djuna.

Bissexual, Djuna conheceu, como sempre disse, o ‘grande amor de sua vida’ em Paris: a escultora Thelma Wood. Thelma vivia bêbada nos bares e nightclubs parisienses. Além de sua infidelidade e do ciúme de Djuna, o hobby noturno de Thelma foi um dos motivos que provocou a deterioração do relacionamento das duas. Após oito anos de união, elas se separaram. A história desse amor ficou registrada em ‘Nigthwood’ (que acaba de receber tradução brasileira), considerada sua obra-prima. Quando o romance saiu, Thelma o odiou, chegando a dar uma bofetada em Djuna. Mas, mesmo assim, a americana se sentiu vingada.

Beirando os 50 anos, Djuna foi encontrada pela amiga Peggy Guggenheim em uma clínica de desintoxicação na Inglaterra. Peggy decidiu mandar a amiga de volta a Nova Iorque e, sozinha em seu apartamento no Village, Djuna decidiu escrever seu último livro ‘The Antiphon’, um retratado pervertido da família. Essa foi a forma encontrada pela escritora de se vingar da mãe, do pai e dos irmãos. Por quarenta anos, Djuna permaneceu isolada em seu apartamento, sem receber visitas, e vivendo de uma mesada das amigas Peggy e Natalie. Morreu aos noventa anos, em 1982.

 

OBRA
 The Book of Repulsive Women: 8 Rhythms and 5 Drawings (1915)
Primeiro livro de poemas de Djuna Barnes Three from the Earth (1919)
Peça Kurzy from the Sea (1920)
Peça An Irish Triangle (1921)
Peça She Tells Her Daughter (1923)
Peça A Book (1923)
Coleção de poemas líricos, desenhos e histórias Ryder (1928)
Inspirado na história de sua própria família Ladies Almanack (1928)
Inspirado em sua convivência com Natalie Barney e na Academia de Mulheres Nigthwood (1936)
Inspirado em seu caso de amor com a escultora Thelma Wood. Teve introdução de TS Eliot

 The Antiphon (1958)
Peça em versos. Último trabalho de Djuna no qual faz um retrato pervertido de sua família

 Spillway (1962)

 Selected Works (1962)

 Vagaries Malicieux (1974)

 Creatures in na Alphabet (1982)
Publicação póstuma

 Smoke and Other Early Stories (1982)
Livro de contos, foi publicado após a morte da escritora

 I Could Never Be Lonely without a Husband: Interviews by Djuna Barnes (1987)
Diversas entrevistas feitas por Djuna para o Theater Guild

 Djuna Barnes’s New York (1989)

 At the Roots of the Stars: The Short Plays (1995)

 Poe’s Mother: Selected Drawings (1996)

 Collected Stories of Djuna Barnes (1996)

 

 

Djuna Barnes, poeta e novelista era uma reclusa cuja obra literária de vanguarda ganhou grande aclamação nas décadas de 1920 e 30.

 

Sua obra de complexidade proibitiva inclui duas coleções de contos e poemas, dois romances e uma peça escrita em versos. Uma nova coleção de poemas, “Creatures in an Alphabet”, será publicada pela Dial Press em outubro.

 

‘Nightwood’ em 1937

 

Miss Barnes conquistou os círculos literários de vanguarda em 1937, quando publicou o que continua sendo sua obra mais famosa, “Nightwood”. amá-la – é contada, no estilo de coro grego, por um médico.

 

TS Eliot, que escreveu uma introdução para o livro, considerou-o “a grande conquista de um estilo, a beleza do fraseado, o brilho da sagacidade e caracterização, e uma qualidade de horror e desgraça muito próxima da tragédia elisabetana. ”

Miss Barnes, que gostava de ser chamada de “The Barnes”, nasceu em Cornwall-on-Hudson, NY, em 1892. Ela estudou arte no Pratt Institute no Brooklyn e mais tarde na Art Students’ League de Manhattan. Ela trabalhou como repórter e ilustradora para The Brooklyn Eagle e passou a trabalhar para The New York Press, The World e McCall’s.

Na década de 1920, ela foi atriz em Provincetown Players, de Eugene O’Neill, e mais tarde foi uma figura célebre nos salões literários de Nova York, Paris e Londres. Mas ela se retirou dessa vida e, em uma rara entrevista em 1971, ela explicou:

”Anos atrás eu costumava ver as pessoas, eu tinha que ir, eu era jornalista, entre outras coisas. E eu costumava ser a vida da festa. Eu era bastante gay e bobo e inteligente e todo esse tipo de coisa e perdi muito tempo. Eu costumava ser convidado por pessoas que diziam: ‘Chame Djuna para jantar, ela é divertida’. Então eu parei.” Primeiro livro em 1923

Ela publicou seu primeiro livro, uma coleção de contos e poemas intitulada “Um livro”, em 1923. Cinco anos depois, ela publicou um romance, “Ryder”, que se tornou um best-seller.

No mesmo ano, Miss Barnes também – privada e anonimamente – publicou “Ladies Almanack”. Ela mesma vendeu o livro, disse ela, “vagando pelas ruas de Paris”.

”A Night Among the Horses”, outra coleção de contos e poemas, foi publicada em 1929. Vinte e um anos se passaram entre a publicação americana de ”Nightwood” e seu próximo trabalho publicado, uma peça escrita em versos intitulada

”A Antífona.”

Perguntada se ela planejava escrever sobre suas trocas com Gertrude Stein e outros escritores, ela disse uma vez: “As memórias de Lillian Hellman e de todas essas pessoas são tão nojentas – quero dizer, ela é uma mulher legal – mas são todas tão terríveis, por que devo adicionar a ele?”

Em 1943, ela ganhou um breve reconhecimento por seu trabalho como artista, quando seus desenhos e pinturas foram exibidos na galeria Manhattan de Peggy Guggenheim.

A senhorita Barnes era membro do Instituto Nacional de Artes e Letras e recebeu uma bolsa sênior do National Endowment for the Arts em 2003.

Djuna Barnes faleceu em sua casa em Greenwich Village na sexta-feira à noite 18 de junho de 1982. Ela tinha 90 anos.

A senhorita Barnes viveu em um apartamento de um quarto em Patchin Place por 41 anos, evitando a fama que cercava outros membros do círculo literário parisiense de James Joyce e Gertrude Stein. Ela estava com a saúde debilitada há vários anos.

(Fonte: https://www.nytimes.com/1982/06/20/arts – New York Times Company / ARTES / Os arquivos do New York Times / Por Suzanne Daley – 20 de junho de 1982)

Sobre o Arquivo
Esta é uma versão digitalizada de um artigo do arquivo impresso do The Times, antes do início da publicação on-line em 1996. Para preservar esses artigos como eles apareceram originalmente, o The Times não os altera, edita ou atualiza.
Ocasionalmente, o processo de digitalização apresenta erros de transcrição ou outros problemas; continuamos a trabalhar para melhorar essas versões arquivadas.

(Fonte: http://revistaquem.globo.com/Revista/Quem – REVISTA ÉPOCA)

Copyright © 2013 – Editora Globo S/A

(Fonte: Veja, 9 de junho de 2004 – ANO 37 – N° 23 – Edição 1857 – Veja Recomenda/ Livros – Pág: 165)

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