David Nasser, foi o mais talentoso jornalista brasileiro, que sempre soube unir o bom senso à lógica

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Nasser: a estrela da velha O Cruzeiro

David Nasser (Jaú, 1° de janeiro de 1917 – Rio de Janeiro, 10 de dezembro de 1980), jornalista e letrista de música popular. Paulista de Jaú e carioca adotivo foi fiel a sua passional visão do mundo, nasceu no dia 1.° de janeiro. Também por isso Nasser se transformou num panfletário cujos artigos e reportagens, às vezes brilhantes na forma, frequentemente corriam ao sabor de ódios e amores exacerbados ou míopes. Começou a trabalhar aos 14 anos, em 1934 como contínuo das empresas Diários Associados de Assis Chateaubriand. O conglomerado jornalístico reunia no mesmo prédio a redação dos jornais “Diário da Noite” e “O Jornal”, e a revista “O Cruzeiro”. Aos poucos, tornou-se jornalista das empresas dos Diários Associados. Iniciou-se profissionalmente depois do golpe do Estado Novo de Getúlio Vargas em 1937. Foi contratado, em 1936, pelo jornal “O Globo” dirigido por Roberto Marinho. Saiu em 1943 insatisfeito por não poder realizar ou assinar reportagens importantes.
Entre suas frases favoritas, havia uma que merece figurar em seu epitáfio: “Meus amigos não têm defeitos. Meus inimigos, se não tiverem, eu invento”.

Ele foi o mais talentoso jornalista brasileiro, que sempre soube unir o “bom senso à lógica”, diz seu amigo Jean Manzon (1915-1990), o fotógrafo francês que nos anos 40 e 50 formou com David Nasser uma dupla célebre. Foi, certamente, o mais conhecido e popular de sua época – nos tempos áureos da poderosa revista O Cruzeiro, raros leitores ignoravam quem era David Nasser, e talvez nenhum outro jornalista brasileiro o tenha igualado em notoriedade nacional. Mas ele pertenceu a um tempo em que jornalistas famoso podiam prescindir de informações, lógica e, quando preciso, de maiores escrúpulos técnicos. Numa das reportagens que fez com Manzon, registrou o primeiro contato jornalístico com os índios xavantes. Poucos leitores souberam que, se Manzon efetivamente viajava no avião que os índios tentaram abater a flechadas, Nasser descreveu a cena, com brilho e emoção, sem jamais ter presenciado o ataque.

TEMPO E ESTILO – David Nasser comandou campanhas históricas. A mais célebre foi a que moveu contra os assassinos de Aída Curi, a jovem atirada de um edifício em Copacabana, no Rio de Janeiro, em 1957. A Nasser, no caso um implacável aliado da promotoria, com certeza se deve a primeira condenação de homicidas da classe média alta registrada pela Justiça brasileira. Mas a ele também se podem creditar algumas sombrias alianças. Na quinta-feira (11 de dezembro), depois de um discurso de despedida do ex-ministro Armando Falcão, o caixão com seu corpo baixou à sepultura envolto na bandeira da Scuderie LeCocq, matriz do “esquadrão da morte” – um grupo de matadores formado por policiais cariocas que tinham em David Nasser seu patrono, um aliado incondicional. As versões de David Nasser sobre pequenos e grandes fatos nem sempre refletiam a realidade. Aumentavam e criavam fatos apenas para aumentar a venda de “O Cruzeiro”.

Ao morrer, além de uma coluna na revista Manchete, Nasser tinha seis fazendas com 2 000 alqueires de terra e centenas de cabeças de gado no interior de São Paulo e Paraná. Remanescente de uma geração de jornalistas à qual importava não a busca da informação, a apuração dos fatos ou a precisão da notícia, mas, sim, o estilo romanesco, a teatralidade e a retórica, é provável que hoje os artigos e reportagens de Nasser estejam definitivamente roídos pelo tempo. Ficarão mais permanentes algumas das letras que fez para quase 400 músicas, como a popularíssima “Nega do Cabelo Duro”. Até morrer no dia 10 de dezembro de 1980, aos 63 anos, de insuficiência renal, no Rio de Janeiro, Nasser foi fiel a sua passional visão do mundo.

(Fonte: Veja, 17 de dezembro, 1980 – Edição n.º 641 – Datas – Pág; 107 – IMPRENSA – Pág; 32)

Morre, em 10 de dezembro de 1980, aos 63 anos, o polêmico jornalista David Nasser, repórter da revista O Cruzeiro, também compositor popular, em 1980.
(Fonte: Zero Hora – ANO 50 – N.° 17. 594 – 10 de dezembro de 2013 – ALMANAQUE GAÚCHO/ Por Ricardo Chaves – Pág; 46)

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