Carlos Reichenbach, cineasta gaúcho associado ao cinema marginal e à Boca do Lixo paulistana.

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Diretor de filmes como ‘A Ilha dos Prazeres Proibidos’ e ‘Garotas do ABC’

Cineasta Carlos Reichenbach em foto de 2008 (Foto: Leonardo Aversa/Agência O Globo)

Carlos Oscar Reichenbach Filho (Porto Alegre, 14 de junho de 1945 – São Paulo, 14 de junho de 2012), cineasta gaúcho. Cineclubista, crítico, influenciado pelo cinema japonês e os filmes B americanos, também foi diretor de fotografia e câmera (dos filmes dele e alheios). Começou com curtas e fez filmes de encomenda na Boca do Lixo, sempre sem perder seu estilo pessoal, repleto de citações de cineastas muitos deles desconhecidos e só depois cultuados e de literatura. Até finalmente ser reconhecido como um dos mais talentosos e influentes cineastas do cinema paulista. Em particular surgido na Boca do Lixo.

 

Capaz de trafegar do brega ao erudito, unindo em seus longas-metragens referências que vão do neorrealismo de Roberto Rossellini à linguagem pop de seriados como “CSI”, o cineasta Carlos Oscar Reichenbach Filho dirigiu 22 produções entre “Esta rua tão Augusta” (1966) e “Falsa loura” (2007). Todas pautadas por um instinto de invenção e um interesse por contrastes socioculturais, elas a garantiram a Reichenbach — chamado de Carlão pela classe cinematográfica — tanto o sucesso de bilheteria quanto a consagração entre os teóricos.

 

Ator em cerca de 20 filmes, Reichenbach estreou como diretor nos longas em 1968, assinando um dos episódios de “As libertinas”: “Alice”. Em 1977, seu “A ilha dos prazeres proibidos”, uma produção com reflexões estéticas e políticas das mais sofisticadas, atraiu seis milhões de pagantes em toda a América Latina (1,9 milhão só no Brasil). O filme configurou-se como um dos maiores sucessos da Boca do Lixo, região paulistana que ao longo das décadas de 1970 produziu uma safra de sucessos de bilheteria, a maioria regados a sexo, com destaque para a pornochanchada. Ao longo dos anos 1980, quando a Boca começava a dar sinais de desgaste, Reichanbach levou suas reflexões estéticas ao auge com “Filme demência” (1985), uma adaptação de “Fausto”, considerada sua obra-prima. Na década seguinte, em 1993, com a produção cinematográfica nacionala paralisada pelo fim da Embrafilme, ele emplacou outro cult: “Alma corsária”.

Nome associado ao cinema marginal e à Boca do Lixo paulistana, Reichenbach dirigiu 22 filmes, entre eles “Lilian M: Relatório Confidencial” (1975), “Sede de Amar” (1979), “Amor, Palavra Prostituta” (1982) e “Alma Corsária” (1993), ao longo de mais de 40 anos de carreira.

Seu último longa foi “Falsa Loura”, de 2007, com Rosane Mulholland, Cauã Reymond e Maurício Mattar no elenco.

Em 2010, durante o Festival de Brasília, Reichenbach afirmou que seu próximo projeto seria o filme “O Anjo Desarticulado”, vencedor do Prêmio Estímulo do Ministério da Cultura. A vontade do diretor era que a soprano norte-americana Barbara Hendricks estivesse no elenco.

TRAJETÓRIA:

Reichenbach nasceu em Porto Alegre em junho de 1945, mas foi em São Paulo que se consagrou como um dos principais nomes do cinema nacional.

Ignorado pela Academia, mas detentor de diversos prêmios em festivais nacionais como Gramado, Brasília e Ceará, ele via com maus olhos as recentes tentativas do Brasil de buscar um Oscar. “Isso é uma sandice. Uma das coisas mais funestas que aconteceu nos últimos tempos é esse tipo de cobrança”, decretou em entrevista em 2008. “Ou se faz filme pra ver no Brasil, ou se faz filme para festival. Isso tem provocado a despersonalização brutal do nosso cinema. Mal do Oscar que nunca premiou Nelson Pereira dos Santos”, provocou.

Na mesma entrevista, realizada por ocasião do lançamento de “Falsa Loura”, o cineasta defendeu as possibilidades de compartilhamento de filmes na internet, especialmente para o resgate de trabalhos históricos, que não encontram mais espaço nas salas de cinema ou locadoras.

“Sou frequentador de cinema assíduo desde os 15 anos. Nunca fiz a conta, mas devo ter visto mais de 2.000 ou 3.000 filmes na minha vida toda. E às vezes ainda me assusto: que filme é esse? Nunca vi”, disse. “Filmes são para serem vistos. As pessoas têm que ter direito a esse acesso. O espaço está mudando. O cinema hoje não é só mais o cinema de shopping center”, concluiu.

Filmografia

Dir.: 1967- Esta Rua Tão Augusta (CM)

1968 – As Libertinas (epis. Alice. Teresa Sodré, Célia Assis)

1969 – Audácia, a Fúria dos Desejos (epis. A Badaladíssima dos Trópicos. Cléo Ventura, Maria Cristina Rocha)

1971 – Corrida em Busca do Amor (David Cardoso, Gracinda Fernandes)

1973- O Guru e os Guris (CM. Produtor e diretor de fotografia)

1974 – Lilian M – Relatório Confidencial (Célia Olga, Benjamin Cattan)

1977 – Sede de Amar ou Capuzes Negros (Sandra Bréa, Roberto Maya). A Ilha dos Prazeres Proibidos (Neide Ribeiro, Roberto Miranda)

1978 – Império do Desejo (Roberto Miranda, Aldine Muller)

1979 – Amor Palavra Prostituta (Patrícia Scalvi, Zaira Bueno)

1980 – Paraíso Proibido (Jonas Bloch, Vanessa Alves). Sonhos de vida (CM).Sonhos Corsários (CM)

1982 – As Safadas (epis. A Rainha do Fliperama)

1983 – Extremos do Prazer (Luiz Carlos Braga, Vanessa Alves)

1985 – Filme Demência (Ênio Gonçalves, Emílio Di Biasi)

1986 – Anjos do Arrabalde (Betty Faria, Clarisse Abujamra)

1988 – City Life (epis. Desordem em Progresso)

1994 –Olhar e Sensação (CM). Alma Corsária (Jandir Ferrari, Carolina Ferraz)

1999 – Dois Córregos, Verdades Submersas (Carlos Alberto Ricelli, Beth Goulart)

2002 – Equilíbrio e Graça (CM). 2003 – Garotas do ABC (Michelle Valle, Rocco Pitanga)

2005 – Bens Confiscados (Betty Faria, Renan Augusto)

2007- Falsa Loura (Cauã Raymond, Rosane Mulholland)

Repercussão

A ministra da Cultura, Ana de Hollanda, lamentou a morte do diretor. “A cultura brasileira acaba de perder o grande cineasta Carlos Reichenbach. Sentiremos sua falta. Inquieto, vanguardista que, por trilhar caminhos menos usuais entre os cineastas tradicionais, foi taxado como autor de filme marginal e da Boca do Lixo. No entanto, apaixonado pelo cinema em si, foi autor de obras-primas como “Anjos do Arrabalde” e “Álma Corsária”.”

A apresentadora Marina Person expressou seus pêsames. “Estou muito triste, nem sei por onde começar a falar do Carlão. O primeiro filme que fiz fora da faculdade foi um filme dele, o “Alma Corsária”. Ele era uma cara muito generoso, que gostava de ensinar os outros.”

Sara Silveira, sócia e amiga, também mostrou sua tristeza. “Morreu a pessoa que me ensinou tudo, meu mestre, meu melhor amigo, um cara jovem. É muito triste. Ele é a pessoa mais importante da minha vida, me ensinou tudo que eu sei de cinema. É um dos artistas mais importantes desse país.”

“Ele é um querido. A gente perde um grande apaixonado pelo cinema, principalmente, pelo cinema brasileiro”, diz a atriz Luciele Di Camargo. “Ele fazia os filmes com as próprias mãos para fazer acontecer. Estou bem triste.”

O cineasta Carlos Reichenbach morreu dia 14 de junho de 2012, em São Paulo, vítima de uma parada cardíaca. Carlão, como era conhecido no meio do cinema, completou 67 anos exatamente neste dia 14 de junho.

— Carlão era um cara que circulava pelos festivais brasileiros sempre vibrante. É uma perda imensa para a nossa cultura — diz o ator José de Abreu, que trabalhou com Reichenbach em “Anjos do Arrabalde (As professoras)”, eleito melhor filme no Festival de Gramado de 1977.

Sua protagonista, Betty Faria, que trabalhou com Reichenbach ainda em “Bens confiscados” (2005), lembra do cineasta como um mestre.

— Carlão era um cinéfilo, que conhecia tudo e dava aulas para a gente — diz Betty.

Jovens atores que trabalharam em “Falsa Loura”, como Cauã Reymond, lembram que Reichenbach filmava pregando a liberdade:

— Ele dava espaço para a gente criar, ao mesmo tempo que sabia exatamente o que queria do filme. Era um cara extremamente culto e, ao mesmo tempo, muito simples — diz Cauã.

(Fonte: www.cinema.uol.com.br – Do UOL, em São Paulo – 15/06/12)
(Fonte: www.noticias.r7.com/blogs/rubens-ewald-filho/2012/06/15)

(Fonte: https://oglobo.globo.com/cultura – CULTURA / POR RODRIGO FONSECA – 14/06/2012)

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