Carlos Gomes, célebre compositor de ópera, o maior gênio da música brasileira.

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O Guarani, a ópera que sumiu do repertório enquanto o gênero sumia do Brasil

Carlos Gomes (Campinas, 11 de julho de 1836 – Belém, 16 de setembro de 1896), célebre compositor de ópera, o maior gênio da música brasileira.

Foi um compositor de imaginação melódica, com grande inspiração e fluência, e suas heterodoxias harmônicas tanto podem considerar-se erros quanto inovações.

Carlos Gomes e suas óperas caíram no justo esquecimento que merecem. O compositor era um símbolo reacionário da monarquia, e que sobreviveu demais numa república que gerou verdadeiros gênios da música nacional, como Villa-Lobos, Camargo Guarnieri.

Carlos Gomes era simplesmente um compositor a mais de óperas italianas, haja vista a língua em que foram escritos seus libretos. É importante contrapor essa visão revisionista ao elogio ufanista que acariciava Carlos Gomes.

Dois títulos são indisputáveis, possivelmente por falta de competidores: o de maior músico brasileiro do século XIX e o de maior compositor brasileiro de óperas.

Também não se pode desprezar aquilo que foi considerado a grande façanha de Carlos Gomes: frequentar como bolsista o conservatório de Milão, diplomar-se e estrear a sua primeira grande ópera no Teatro Alla Scala.

Lembra-se que, depois de O Guarani, o compositor não mais acertou o compasso com o gosto do público italiano: o Salvator Rosa teve algum sucesso, mas a Fosca, a Maria Tudor e o Condor foram fracassos.

Isso explica o retorno do compositor ao Brasil, onde estreou em 1889 a sua segunda melhor ópera, Lo Schiavo. Quanto a comparar Carlos Gomes com Villa-Lobos, trata-se de um exercício tão extravagante quanto confrontar Gounod com Prokofiev.

A maneira isenta de julgar Carlos Gomes consiste em situá-lo no meio musical em que se desenvolveu, Milão, na década de 1860. A Itália, recém-unificada, tinha apenas um grande compositor, Giuseppe Verdi, que já era considerado músico da velha-guarda.

A jovem geração reunia talentos como os de Arrigo Boito, Amilcare Ponchielli, Franco Faccio, Angelo Mariani e Alfredo Catalani. Eram críticos azedos de Verdi, que transformara a ópera num lupanar segundo um panfleto de Boito, e entusiastas de Wagner.

Só que, além de musicalmente incultos pelos padrões germânicos, conheciam escritos de Wagner, mas não as suas partituras.

O que pensavam ser música wagneriana, como o Mefistofele, de Boito, não passava de imitação de Meyerbeer, o famoso compositor de grandes efeitos sem causas. O que havia de aproveitável nas ideias desses jovens acabou sendo posto em prática pelo próprio Verdi, o único italiano da época que tinha competência para isso.

Carlos Gomes não aderiu à jovem guarda, o que não seria recomendável para um bolsista estrangeiro, mas por ela foi influenciado, até porque era com os seus participantes que tinha de competir. Nessa competição, que confronta O Guarani com a Gioconda, de Ponchielli, a Wally, de Catalani, e o Mefistofele, de Boito, até que o brasileiro se sobre-sai.

Em matéria de desenvolvimento temático, arte tipicamente germânica, Carlos Gomes tinha dificuldades frequentemente, mas não mais do que os seus concorrentes italianos.

(Fonte: Veja, 23 de fevereiro de 1994 – ANO 27 – N° 8 – Edição 1328 – MÚSICA/ Por MARIO HENRIQUE SIMONSEN – Pág: 106/107)

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