Antenor Nascentes, foi de grande importância para o estudo da língua portuguesa no Brasil

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É considerado um dos mais importantes estudiosos da Língua Portuguesa do Brasil no século XX.

Prof. Nelso Attilio Ubiali com o prof. Antenor Nascentes em Londrina / junho de 1967 (Foto: www.filologia.org.br/Divulgação)

Prof. Nelso Attilio Ubiali com o prof. Antenor Nascentes em Londrina / junho de 1967 (Foto: Filologia.org.br/Divulgação)

 

Antenor Nascentes (Rio de Janeiro, 19 de junho de 1886 – Rio de Janeiro, 6 de setembro de 1972), filólogo, tradutor de Beaumarchais e Goethe, primeiro Professor Emérito do Colégio Dom Pedro II e do país, foi de grande importância para o estudo da língua portuguesa no Brasil, havendo ocupado, como fundador, a Cadeira nº 3 da Academia Brasileira de Filologia. Em 1968, em depoimento no Museu da Imagem e do Som, definiu os gramáticos: “Aqueles que inventam coisas e bobagens para atormentar a gente e não param com isso porque, se perdessem esse emprego, teriam de pegar na enxada para plantar batatas”. Criticou os concursos públicos “criados ao tempo do Estado Novo, que perguntavam ao indivíduo o que ele não devia saber, e criaram livros com listas enormes de coletivos, sinônimos, adjetivos…”

Sua vida foi determinada pela audácia e pelo acaso. Aos quatro anos – do mundo então só conhecia a rua do Catete, o largo do Machado a irmã mais velha no primeiro dia de aula no Colégio Frazão e de lá não saiu até que fosse matriculado. Aos dezoito, era colega de classe de Manuel Bandeira no Pedro II. Conseguiu um emprego público que só lhe deixava livre o período da tarde – e por isso foi obrigado a formar-se em direito. Jamais, porém, advogou.

Em 1919, durante meses, preparou-se para o concurso de grego do Pedro II, mas a cadeira, repentinamente, foi extinta. Por isso, acabou fazendo o concurso de espanhol, que ganhou – e desse esforço improvisado nasceu uma de suas obras mais importantes: “Fonética Diferencial”. Seu “Dicionário Etimológico” em quatro volumes, publicados a partir de 1932 – obra individual porque Nascentes brigou, por questões de honra filológica, com a equipe por ele mesmo organizada -, é alvo tradicional de críticas. Mas ainda não apareceu coisa melhor, o que ele mesmo lamentava.

“O mestiço e o negro travam uma batalha terrível para crescer na vida. Isso basta. Entendam o que quero dizer, por favor” – foi a única vez, em 1967, que ele deixou escapar algum sentimento de mágoa por alguma injustiça sofrida. Metódico, lia dez horas por dia (reduzidas para quatro nos últimos anos, por problemas de retina), ouvia trinta minutos de música clássica e tocava cinco minutos de violino. Seus “Elementos de Teoria Musical”, de 1915, forneceram a Pixinguinha, por exemplo, os meios de harmonizar o “Carinhoso”. Por esses meios – ele não chegou à Academia Brasileira de Letras – é que Antenor Nascentes sobrevive à própria morte, mesmo porque, enquanto existir o idioma nacional e a necessidade de, para usá-lo, conhecer análise lógica, o seu método é inescapável, ainda que surja na praça com outros nomes.

 

Antenor Nascentes entre Nelso Attilio Ubiali e Joaquim Carvalho da Silva (Londrina /jun. 1967) - (Foto: Filologia.org.br/Divulgação)

Antenor Nascentes entre Nelso Attilio Ubiali e Joaquim Carvalho da Silva (Londrina /jun. 1967) – (Foto: Filologia.org.br/Divulgação)

Em 1922, em “O Linguajar Carioca”, ele definia: “sapo – fiscal da Prefeitura, da Light” e “bicho – indivíduo hábil, valente”. Hoje, “sapo” evoluiu sem mudar muito: continua a ser indivíduo que se mete onde não é chamado, e “bicho” talvez indique um novo tipo de valentia, ou quem sabe mera habilidade. De qualquer forma, Antenor Nascentes faz lembrar que, no meio do caminho, o país perdeu algumas coisas e ganhou outras – mas conserva muitas em sua memória.

Em “O Tesouro da Fraseologia Brasileira”

Antenor Nascentes morreu no dia 6 de setembro de 1972, de trombose, aos 86 anos, no Rio de Janeiro.
(Fonte: Veja, 13 de setembro de 1972 –- Edição 210 -– DATAS -– Pág; 80)

(Fonte: Veja, 5 de agosto de 1987 – Edição 987 – LIVROS – Pág: 120/121)

 

 

 

 

Nascentes pertencia à estirpe daqueles homens admiráveis cuja curiosidade intelectual estava sempre pronta a trilhar novos caminhos. Deixou-nos em letra de forma numerosos livros e artigos pioneiros, e agora, o joeiramento de sua biblioteca pelo Prof. Barbadinho (em tão boa hora designado para, no Colégio Pedro II, organizar e dirigir a Sala Antenor Nascentes) vem-nos fazer conhecer não só outros estudos – alguns inéditos – do saudoso Amigo e Mestre, mas ainda facetas de sua cultura muito pouco divulgadas, como a do Nascentes turista e do Nascentes literário. O exaustivo levantamento da bibliografia nascentina, devido ao suor e lágrimas do Prof. Barbadinho substitui, corrige, completa e enriquece tudo o que se tinha feito antes neste sentido.

Nenhum linguista brasileiro teve como Antenor Nascentes o senso da oportunidade de uma obra.
Muito haveria ainda que falar da sua abundante e qualificada produção linguística e filológica. A leitura de suas obras veio aviar a saudade de alguns momentos bem vividos e fez-nos sentir fundo o que lhe ficamos a dever. Essa gratidão – agravada em nosso caso por naturais emoções que brotam do privilégio de nos havermos beneficiado longo tempo de seu afeto paternal – devemo-la todos os que puderam conhecê-lo em sua grandeza.

Na sua área do saber ele nos servia de exemplo. Era o nosso orgulho, o nosso abrigo. Com ele todos aprendemos que não há fulgores da inteligência que possam substituir o trabalho metódico, a pesquisa minuciosa, em qualquer construção honesta no terreno científico.

Em julho de 2006, comemorou-se o centenário da publicação de seu primeiro trabalho, que foi “A origem do Artigo”, no número 3 da revista “A Epocha”.

(Fonte: Revista Eletrônica de Divulgação Científica em Língua Portuguesa, Linguística e Literatura – Ano 04 – n.06 – 1º Semestre de 2007 – ISSN 1807-5193)

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