Andrei Sakharov (1921-1989), prêmio Nobel da Paz e símbolo da luta pelos direitos humanos

0
Powered by Rock Convert

Andrei Sakharov; foi símbolo da coragem civil e da consciência russa

 

Andrei Sakharov em 1989 (Foto: Wikimedia Commons / Divulgação)

 

Andrei Sakharov (Moscou, 21 de maio de 1921 – Moscou, 14 de dezembro de 1989), eminente físico nuclear soviético e socialista, ele foi ativista em favor dos direitos humanos e das liberdades.

Andrei Dmitrievich Sakharov, nascido em maio de 1921, em Moscou numa família de intelectuais com tradição liberal, foi laureado com o Prêmio Nobel da Paz e foi símbolo da luta pelos direitos humanos. Sakharov foi a consciência de uma geração, acima de tudo, integridade, humanismo e coragem. “Ideias profundas surgem apenas do debate, com a argumentação e a apresentação de ideias não só corretas mas também duvidosas. Os filósofos da Grécia Antiga entenderam isso, e parece incrível que alguém se contraponha a isso hoje em dia.” Quando escreveu essas palavras, em 1968.

O físico soviético Andrei Sakharov sabia que estava dando um passo decisivo: a incompreensão e a intolerância de que falava eram a marca do regime na União Soviética de Leonid Brejnev. Depois de sobreviver a perseguições e difamações, a sete anos de confinamento, a incontáveis greves de fome e de ter seu papel finalmente reconhecido em seu país depois da glasnost.

O caminho até o consenso passou pela escolha corajosa da discordância pública com um regime totalitário e teve como lastro justamente a integridade moral desenvolvida por Andrei Sakharov, nascido em Moscou em maio de 1921. Aluno brilhante na universidade, o jovem físico eleito com 32 anos para a Academia de Ciências foi, na década de 50, um dos pais da bomba de hidrogênio soviética. Junto com condecorações e celebridade, Sakharov acumulou uma visão crítica sobre a corrida armamentista e um apego aos direitos humanos que o levaram, em 1968, a romper com o regime através do manifesto “Progresso, coexistência e liberdade intelectual”, divulgado clandestinamente. Engajado progressivamente na defesa dos presos políticos soviéticos, Sakharov recebeu em 1975 o Prêmio Nobel da Paz, mas acabou sendo preso em janeiro de 1980, destituído das condecorações e confinado na cidade de Gorki, distante 400 quilômetros de Moscou e fechada para estrangeiros.

Anistiado por Gorbachev em dezembro de 1986, Sakharov voltou a Moscou, reingressou na Academia de Ciências e passou a apoiar a perestroika, sem abdicar da independência política. Ainda em dezembro, o ex-dissidente entrou em choque com o presidente soviético ao defender o fim do sistema de partido único. Sua última atividade pública, na tarde de quinta-feira, dia 21 de dezembro, foi uma reunião com o bloco de parlamentares independentes que se organizam como “oposição formal” ao Partido Comunista.

 

Físico, dissidente e prêmio Nobel, Andrei Sakharov, dirige-se ao Congresso dos Deputados do Povo, enquanto o presidente soviético Mikhail Gorbachev olha atrás dele em Moscou, em dezembro de 1989. (Foto: AFP / Divulgação)

 

Andrei Sakharov morreu dia 21 de dezembro de 1989, aos 68 anos, de um ataque cardíaco.

“Andrei Sakharov foi um dos maiores cientistas do século 20 e uma de nossas mais destacadas figuras sociais, tudo que fez ficou marcado por sua absoluta honestidade”, homenageou Vitaly Vorotnikov (1926-2012), em nome da direção do mesmo Partido Comunista da URSS que durante anos tratou o físico dissidente como um traidor.

“Ele era a reserva moral da perestroika, não sei como vamos prosseguir sem sua presença cotidiana e sua absoluta integridade”, lamentou o colega físico Roald Sagdeyev, como Sakharov, também deputado. O economista Nikolai Engver, companheiro de Sakharov na Academia de Ciências, resumiu o consenso formado nos últimos anos nos meios intelectuais e políticos soviéticos. “Ele era a consciência do nosso século”, afirmou.

(Fonte: Veja, 24 de dezembro, 1989 – Edição 1110 – DATAS – Pág; 113)

 

 

 

 

 

 

1980: Banido o dissidente soviético Andrei Sakharov

Em 22 de janeiro de 1980, o cientista e dissidente político soviético Andrei Sakharov é banido para Gorki, na União Soviética. Seus contatos com o Ocidente o haviam tornado um incômodo para o governo soviético.

defaultAndrei Sakharov em foto de maio de 1989

“Naturalmente estou muito emocionado. Este passo tornou-se possível graças à grandiosa proteção internacional. Todos esses anos, fui defendido pelos colegas cientistas, por políticos e amigos, meus filhos e minha mulher.” Essas foram as primeiras palavras de Andrei Sakharov ao desembarcar na estação ferroviária de Moscou em 1986.

Mais de cem jornalistas esperavam o famoso dissidente soviético no seu retorno após quase sete anos de desterro em Gorki (hoje Nizhni Novgorod). A libertação do físico nuclear ocorrera por ordem do então chefe do Partido Socialista Unificado (PSU), Mikhail Gorbatchov, que lhe havia comunicado a decisão por telefone.

Gorbatchov queria demonstrar ao mundo que seguia uma política diferente da de seus antecessores, que haviam mandado Sakharov para o isolamento em Gorki, a 22 de janeiro de 1980.

Tiro saiu pela culatra

Gorki, situada a 400 quilômetros de Moscou, era uma cidade proibida para estrangeiros. Ao prender Sakharov, o promotor público lhe disse que seria desterrado para que não tivesse mais contato com correspondentes estrangeiros e seu nome sumisse da imprensa internacional. Devido à sua fama, os líderes comunistas não ousavam simplesmente confiná-lo – como faziam com outros dissidentes.

O plano da KGB (serviço secreto soviético), que organizou e vigiou o desterro para calar o cientista, não deu certo. Políticos ocidentais e intelectuais de todo o mundo exigiam a libertação de Sakharov. Um deles, o dissidente Lev Kopelev, lembra que, ao receber o telefonema de Gorbatchov, Sakharov imediatamente pediu a libertação de outros presos políticos.

A partir de 1988, Sakharov integrou a direção da Academia das Ciências e, em 1989, assumiu o mandato parlamentar na ala dos “reformistas radicais” do Congresso dos Deputados do Povo. Em 14 de dezembro do mesmo ano, faleceu, aos 68 anos de idade, vítima de uma parada cardíaca.

Luta longa por justiça e democracia

Sakharov foi símbolo da coragem civil e da consciência russa. Destemido, lutou pela justiça e pela democracia com cartas abertas, greves de fome e entrevistas à imprensa. Protestou contra o tratamento forçado de presos políticos em clínicas psiquiátricas e ergueu a voz contra a invasão das tropas soviéticas no Afeganistão.

Em 1968, pouco antes de as tropas do Pacto de Varsóvia reprimirem a chamada Primavera de Praga, Sakharov publicou suas Reflexões sobre Progresso, Coexistência Pacífica e Liberdade de Pensamento. Pouco depois, perdeu o emprego de físico.

Por haver atuado no programa nuclear secreto, as autoridades soviéticas o impediram de viajar ao Ocidente. Embora nunca tivesse se filiado ao PSU, a direção do partido o distinguiu com altas condecorações e lhe concedeu inúmeros privilégios nos anos 50 e 60.

Sakharov, no entanto, nunca foi subornável. Lutou contra a tecnologia militar atômica e se engajou na defesa do meio ambiente. Em 1970, criou em Moscou o Comitê “Inoficial” dos Direitos Humanos, baseado nos princípios das Nações Unidas.

Em 1975, Sakharov recebeu o Prêmio Nobel da Paz.

(Fonte: http://www.dw.com/pt-br – Deutsche Welle – CALENDÁRIO HISTÓRICO / Por Miodrag Soric – 22 de janeiro de 1980)

 

 

 

 

 

 

 

1986: Reabilitação de Andrei Sakharov

Indultado por Mikhail Gorbatchov, o físico nuclear e dissidente Andrei Sakharov, portador do Nobel da Paz, retornou do exílio para Moscou em 19 de dezembro de 1986.

default

Andrei Sakharov em 1989

 

“Minha esposa e eu vivemos isolados durante sete anos. Não podíamos sequer falar com os outros. Uma única vez um amigo veio nos procurar e tivemos a permissão de conversar com ele na rua. Foi um milagre podermos falar com ele abertamente. Era um colega da universidade. Nós estávamos completamente isolados das pessoas.”

Em 19 de dezembro de 1986, retornava a Moscou, depois de anos de banimento, um homem tido como cientista discreto e modesto. No entanto, ele despertara a ira da cúpula comunista com suas acusações contra o sistema soviético. Nascido em 1921, seu nome ficou conhecido em todo o mundo, o mais tardar, desde 1975, quando lhe foi concedido o Prêmio Nobel da Paz: Andrei Dmitrievitch Sakharov.

Bomba russa de hidrogênio

A fama de Sakharov na União Soviética começara muito antes: aos 21 anos já era professor de física nuclear, tornando-se mais tarde diretor do conceituado Instituto Lebedev. Nesta condição, tornou-se, depois de 1945, um dos “pais” da bomba de hidrogênio russa. Orgulhosa do genial cientista, a União Soviética lhe concedeu o título de Herói do Trabalho Socialista, inúmeros prêmios e medalhas.

Até que Sakharov começou a resistir, por questões éticas, aos projetos de desenvolvimento da energia nuclear, e viu-se no papel de opositor do sistema. Nos anos 60, fez advertências contra a reabilitação de Josef Stalin e alinhou-se entre os simpatizantes da Primavera de Praga, o movimento de renovação socialista que desabrochava na capital tcheca.

A partir de meados da década de 70, realizou várias greves de fome, até que, em 1980, todos os seus títulos e condecorações foram cancelados, sendo ele e a esposa banidos para Gorki (hoje Nishnij Novgorod), de onde só regressaram em 1986.

Boa notícia veio de Gorbatchov

A reabilitação só foi possível por estar no poder o reformista Mikhail Gorbatchov, que assumira o comando do Partido Comunista em 10 de março de 1985.

Para comunicar ao dissidente sua reabilitação, o secretário-geral do Partido precisou mandar instalar um telefone em Gorki. Quando Gorbatchov lhe disse pessoalmente que ele e sua esposa podiam retornar a Moscou, Sakharov aproveitou para intervir por outros presos políticos, conseguindo de fato que alguns também fossem libertados.

Criou-se, assim, uma relação de confiança, que fez de Sakharov um defensor da política reformista de Gorbatchov. Em março de 1989, o ex-dissidente foi eleito para o Congresso dos Deputados do Povo. Mas já não foi mais possível deter a queda do sistema soviético. Após a morte de Andrei Sakharov, em 14 de dezembro de 1989, a União Soviética sobreviveu apenas pouco mais de um ano.

(Fonte: http://www.dw.com/pt-br – Deutsche Welle – CALENDÁRIO HISTÓRICO / Por Gerhard Haase – 19 de dezembro de 1986)

Powered by Rock Convert
Share.