Ana Aslan, cardiologista romena, uma das maiores especialistas mundiais em geriatria e gerontologia

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O legado de Ana Aslan: a verdadeira fonte da juventude

 

 

Ana Aslan (Braila, 1° de janeiro de 1896 – Bucareste, na Romênia, 20 de maio de 1988), cardiologista romena, uma das maiores especialistas mundiais em geriatria e gerontologia.

 

Na década de 60, Aslan desenvolveu o Gerovital H-3, medicamento produzido à base de procaína, capaz de estimular o crescimento de novas células e tornar mais lento o processo de envelhecimento biológico. Em 1952, participou da criação do Instituto Nacional de Geriatria e Gerontologia, em Bucareste, na Romênia, que se tornou célebre em todo o mundo.

 

 

Em 1897, Braila era umas das cidades mais populosas da Romênia. Centro de comércio internacional, Braila recebia pessoas do mundo todo, numa mistura de culturas. Nesse ambiente, nasceu Ana Aslan. Ela era a caçula de uma família de 4 filhos. Seu pai, já com 59 anos quando Ana nasceu, era um nobre comerciante que deu aos filhos a melhor educação da época. Os filhos estavam se preparando para a faculdade, as filhas para ser damas da sociedade. Quando Ana tinha 13 anos, seu pai morreu idoso, e ela não se conformava de ele ter tido um final de vida tão sofrido. Viúva, Sofia, a mãe de Ana, se mudou para Bucareste onde os filhos terminariam os estudos e as filhas achariam bons partidos para casar.

 

 

Esta época coincidiu com a primeira onda de feminismo da Europa que chegara a Romênia por meio da elite das grandes cidades. Nesta época não era comum, mas aceitável, que mulheres de famílias nobres dos grandes centros econômicos europeus (o que excluía toda a população rural) pudessem buscar algum tipo de educação antes de se casar e ter filhos. Inserida nesse ambiente, não foi surpresa quando Ana insistiu que queria fazer faculdade de medicina. No entanto, sua mãe negava, argumentando que hospitais não eram ambientes para damas. Ana, então, concentrou todo seu poder de persuasão fazendo uma greve de fome até que sua mãe autorizasse a matrícula. Conhecendo a personalidade da filha, Sofia cedeu e em 1915 Ana era a única aluna do curso de medicina da Universidade de Bucareste.

 

 

Seu talento e competência foram reconhecidos quando, na ocasião da formatura em 1922, Ana foi a primeira colocada entre os 32 candidatos. Mesmo assim, ouviu da banca examinadora que ela estava de parabéns por ter alcançado o primeiro lugar, apesar de a banca preferir que um homem o tivesse feito. Formada, Ana colocou seu talento em prática e publicou uma série de artigos relevantes na área médica, sempre com seu professor Danielopolou, já que um artigo escrito exclusivamente por uma mulher jamais seria aceito e bem visto pela sociedade médica. O mesmo tipo de preconceito ela sofreu ao tentar abrir a própria clínica. Enquanto Ana via seus colegas prosperarem em suas profissões, ela não tinha pacientes, pois estes, fossem homens ou mulheres, não confiavam numa mulher para tratá-los. Mesmo assim, Ana era reconhecida pelos seus pares. Em 1936 tornou-se membro da Academia Romena de Medicina e propostas de emprego não lhe faltaram.

 

 

Entre 1936 e 1944, trabalhou no hospital gerenciado pela empresa ferroviária Romena, que abrigava, basicamente, trabalhadores aposentados. Lá ela teve maior contato com idosos e pode colocar em prática sua filosofia que era: estudar medicina sem livros é como navegar sem mapa, mas estudar medicina sem pacientes é como não navegar. Nesse hospital ela teve a chance de praticar o que hoje chamam de medicina humanizada, onde ela ouvia suas histórias de vida e suas demandas médicas, sempre aliando os dois para prover um tratamento personalizado e eficaz. Entre os anos de 1946 e 1949, Ana realizou os estudos pelos quais ela ficaria conhecida mundialmente. Para tratar doenças vasculares, era comum o uso de vasodilatadores como a procaína. O uso desse tipo de substância faz com que os tecidos dos órgãos recebam mais oxigênio e nutrientes e, assim, fiquem mais saudáveis.

 

 

Ana notou que, além dos efeitos vasculares (ou por causa deles), alguns indícios que caracterizavam a idade avançada (artrite, cansaço e depressão entre outros) eram atenuados após administração da procaína. Ana ficou muito animada com os resultados e levou-os a Academia Romena de Ciências para apresentá-los a sociedade médica. Mais uma vez, seus resultados foram depreciados pelos simples fato de terem sido pensados e desenvolvidos exclusivamente por uma mulher. Mas Ana não se intimidava com esse tipo de atitude. Ela acreditava em seu trabalho, e pôde contar com a ajuda de homens que também acreditavam nela. Em 1952, fundou o Instituto de Gerontologia e Geriatria (IGG) com a ajuda de Constantin L. Parhon, um neurologista que tinha acompanhado os estudos com a procaína e que teve que assumir a direção do Instituto já que era inadmissível que uma mulher dirigisse um hospital. Ana tinha total gerência sobre o Instituto.

 

 

Criou departamentos onde se estudava o envelhecimento em modelos experimentais (em cobaias) e em pacientes do instituto. Mas Ana queria mais. A ela não bastava cuidar dos idosos que já apresentavam patologias relacionadas ao envelhecimento. Ela queria atuar na prevenção destes. Ela queria que existisse um sistema de saúde profilático que levasse qualidade de vida ao idoso. Apesar da Guerra Fria e todo o isolamento político e econômico que a Romênia passava, os médicos europeus ocidentais tomaram conhecimento do trabalho da agora Profª Drª Ana e a convidaram para expor suas descobertas em Londres onde seu trabalho ainda recebeu críticas (por ela ser mulher ou seus métodos de estudo?), mas também obteve reconhecimento. Em 1959 a Organização Mundial da Saúde (OMS) convidou Ana a assumir a cadeira de Medicina Profilática e pouco tempo depois, declarou o IGG referência mundial em tratamento e estudos do envelhecimento. A partir daí, Ana ganhou prêmios e honrarias internacionais e mudou a forma como a medicina encarava a gerontologia e a geriatria.

 

 

Ana morreu em 1988 em Bucareste, aos 91 anos de idade. Seu nome é quase exclusivamente relacionado ao Gerovital H3, medicamento gerado a partir da procaína, mas que hoje em dia já não é mais usado com o mesmo propósito “rejuvenescedor”. No entanto, Ana mudou a forma de encarar o envelhecimento. Para ela, quem estava sendo tratado não era uma doença ou um paciente, era um ser humano. Para entender tamanha complexidade, era preciso ouvir, ver, estar com o paciente. Além disso, era preciso ouvir e compartilhar as experiências com outros profissionais da área de saúde. Seu maior legado foi nos permitir envelhecer com dignidade.

 

Ana Aslan morreu dia 20 de maio de 1988, aos 91 anos, em Bucareste, na Romênia.

(Fonte: Veja, 1° de junho de 1988 – Edição 1030 – DATAS –Pág; 95)

(Fonte: https://cientistasfeministas.com/2017/07/10 – CIENTISTAS FEMININAS / Por SOUZAMC – JULHO 10, 2017)

Referências

http://www.aslan.info/e/ana_aslan/ana_aslan_braila.html

http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0277539500001618

https://positivenewsromania.com/2016/03/08/25-great-romanian-women-who-changed-the-world/

http://gerovital-online.com/en/content/15-ana-aslan

 

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