A primeira professora negra do ITA

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A primeira professora negra do ITA

 

Ciência: Sonia Guimarães

 

Se na escola o que parece ser praxe entre os alunos é a compreensão de que a Física, findo o Ensino Médio, não terá aplicação alguma na vida prática, uma mulher negra, brasileira e cientista de ponta mostra que, na realidade – ou na tal da vida prática – , é justamente o contrário o que acontece: a ciência está em tudo. Esta mulher é Sonia Guimarães, 62, paulista da cidade de Brotas, e que, como se já não se destacasse o suficiente da humanidade por ser absolutamente apaixonada pela “Física das coisas”, carrega ainda outra admirável credencial.

 

“Tudo é muito lindo porque tudo tem Física. O pôr do sol com o vermelho que vai escurecendo, a maneira como o som se propaga, o jeito com que a música bate na gente: ela não vibra no nosso coração só porque a gente gosta muito dela, sabia?”, diz, empolgada, a primeira professora negra do Instituto de Tecnologia Aeronáutica (ITA) de São José dos Campos, a instituição militar mais tradicional do país.

 

Pouco mais de duas décadas atrás, quando, em 1993, ela se juntou ao quadro docente, mulheres eram figuras nulas não só entre os professores da casa, mas também em suas salas de aula – foi só dali a três anos que pessoas do sexo feminino puderam se candidatar aos estudos no ITA. “Atualmente, meu reitor diz que somos 10% do quadro geral. É uma evolução maravilhosa, e a tendência é a de meninas indo para a área de Exatas. Há empresas como a Microsoft, por exemplo, fazendo campanha para aumentar o número de mulheres entre seus funcionários”, diz Sônia

 

Filha de pai tapeceiro e mãe comerciante, a paulista estudou em escola pública e sonhava cursar Engenharia Civil. No cursinho, um professor sugeriu que ela pensasse em outras opções menos concorridos. Sonia nem precisou se esforçar muito: “eu já estava apaixonada pela Física”.  Aos 19 anos, saiu de casa para estudar; em 1979, com 23, formou-se com licenciatura plena em Ciências e, depois, fez um mestrado em Física Aplicada, pela Universidade Federal de São Carlos. Sua dissertação, aos olhos da maioria dos mortais, merecia um prêmio só pela complexidade do nome: “Desenvolvimento da Técnica Elipsométrica para Caracterização Ótica de Filmes Finos”. Três anos depois, Sônia se especializaria em Química e Tecnologia dos Materiais e dos Componentes, e daria aulas no doutorado da Universidade de Manchester, na Inglaterra. Já se vão 26 anos dividindo a rotina entre as aulas no ITA e a carreira de pesquisadora na área da Física.

 

Transitando por espaços de predominância masculina, ela conta que sempre lidou bem com gestos machistas de colegas. “Se alguém viesse se meter comigo, eu dava uma invertida rapidinho. Tinha pessoas que não olhavam na minha cara, mas eu também não olhava nas delas. Não deixava nada encher meu saco”.

 

Somos minoria nas Exatas e, desde cedo, desestimuladas a seguir carreiras nessa área. Ver mulheres em posição de prestígio na ciência incentiva meninas a acreditar que elas podem e são capazes de ser o que elas quiserem.

 

É o que atesta Isis Brito, pós-doutoranda do Instituto de Física da USP. Sônia faz seus cálculos: “As mulheres são metade da população mundial. Ou seja, enquanto estivermos fora de determinada área, aquela área estará deficitária”.

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