J. R. R. Tolkien, autor que elaborou uma intrincada, complexa e arrebatadora mitologia literária

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Tolkien: seu clássico Terra Média nasceu da paixão do autor por filologia, atestam o vigor de um gênero literário que já foi desprezado: a fantasia

 

 

 

J. R. R. Tolkien (Bloemfontein, África do Sul, 3 de janeiro de 1892 – Bournemouth, Reino Unido, 2 de setembro de 1973), o maior escritor de fantasia de todos os tempos, foi, antes de tudo, um excêntrico amante das palavras. Professor em Oxford, estudou o grego, o latim, o gótico, o inglês médio, o anglo-saxão e o nórdico antigo, entre outros idiomas.

 

Tão exacerbado era seu amor às línguas que não se satisfez em conhecer as que já existiam: também se dedicou à criação de idiomas imaginários, como o sindarin, inspirados nos idiomas célticos, e o quenya, semelhante ao finlandês.

 

Filólogo meticuloso que era, resolveu desenvolver uma história para explicar sua árvore linguística ficcional; a isso, somou-se o desejo de elaborar uma série de mitos interligados, que expressassem o espírito poético de sua amada Inglaterra.

 

 

E assim começou a invenção de um universo próprio, desde as origens cósmicas até o nome das plantas. O projeto colossal, que consumiu as madrugadas e os interstícios de sua carreira acadêmica, jamais chegou ao fim.

 

 

Hobbit (1937) e O Senhor dos Anéis (1954) foram publicados durante a vida do autor, mas a maioria dos relatos sobre a Terra Média permaneceu em estado fragmentário ou em versões nunca revisadas – material que seria postumamente costurado e editado pelo filho, Christopher Tolkien, a partir de pesquisas no espólio paterno.

 

Dono – ou vítima – de um vertiginoso perfeccionismo, cercado por complexidades que reunia múltiplas versões de relatos centrais do ciclo legendário de Tolkien, ele costumava reescrever a mesma história diversas vezes ao longo dos anos – oscilando, inclusive, entre a prosa e a poesia.

 

 

Os tradutores respeitaram as particularidades formais dos textos: nas passagens versificadas, recriaram magistralmente a métrica, as rimas e as aliterações. Graças ao rigor da tradução, as publicações mostram como a escrita de Tolkien evoluiu ao longo do tempo – da adjetivação pesada e solene das duas primeiras décadas do século XX ao estilo mais reticente e evocativo dos anos 30, 40 e 50.

 

Tolkien não inventou a fantasia – mas foi o sucesso de O Senhor dos Anéis a partir dos anos 60 que transformou o gênero em um fenômeno global. Tolkien era católico fervoroso – difícil imaginar fantasia mais envolvente que suas obras, a excentricidade filosófica e o cuidado obsessivo em criar um estilo poético e transcendente.

 

 

Numa manhã de domingo, 2 de setembro de 1973, John Ronald Reuel Tolkien faleceu aos 81 anos em Bournemouth, Inglaterra. Encerrava-se, assim, a vida de um dos grandes professores eruditos da Universidade de Oxford; uma vida de grandes paixões, pela mulher Edith e os quatro filhos, e pelos idiomas e palavras; chegava ao fim a existência de um autor que, da simplicidade cotidiana, elaborou uma intrincada, complexa e arrebatadora mitologia literária.

 

J. R. R. Tolkien nasceu em 3 de janeiro de 1892 na pequena Bloemfontein, África do Sul, onde viveu até 1895, quando partiu com a mãe e o único irmão para a Inglaterra. Tolkien demonstrou desde cedo ser um ótimo estudante. Aos quatro anos já sabia ler e escrever, e manifestara interesse inesgotável pelas palavras, seus sons e formas, condição a qual ele levaria, posteriormente, ao extremo em sua mitologia. Logo ficou claro que possuía uma aptidão natural para línguas, e o interesse se tornou uma paixão.

 

Não satisfeito com o ‘simples’ estudo de diferentes idiomas, ele começou a pesquisar filologia, a ciência que estuda as línguas, e, também, a criar as suas próprias línguas, com sistemas de fonologia e gramática próprios. Elaborava, até, a evolução linguística pela qual elas passavam, inventando palavras mais antigas e o seu desenvolvimento até as atuais.

 

Já órfão de pai e mãe, ele conheceu, em 1908, uma jovem de dezenove anos chamada Edith Bratt, com quem se casou em 22 de março de 1916. Ainda em 1915, Tolkien formou-se na Universidade de Oxford em Língua e Literatura Inglesa e no ano seguinte partiu para as trincheiras de batalha da Primeira Guerra Mundial.

 

Ao retornar, sentiu-se encorajado a iniciar uma grande obra, algo no qual pensava há algum tempo. O primeiro impulso foi decorrente de sua paixão por criar línguas. Ele percebera que para dar complexidade aos seus idiomas, era preciso elaborar uma ‘história’ para eles, onde fossem falados por um povo e, assim, pudessem se desenvolver. Uma segunda força que o impelia era o desejo de escrever poemas, mas queria compor em torno de um tema central, partindo dele e criando ramificações. E finalmente, havia a vontade de criar uma mitologia para a Inglaterra. Lamentava muito que seu país não tivesse uma literatura mitológica.

 

Assim, pôs-se a trabalhar e na capa de um caderno escreveu The Book of Lost Tales, e nele começou a escrever o que se tornaria o The Silmarillion. Esta obra se tornaria a mitologia por trás de The Hobbit e The Lord of the Rings. Em 1926, Tolkien foi nomeado para a cadeira de Anglo Saxão na Universidade de Oxford, um cargo importante e respeitável, e lá criou sua mitologia.

 

The Hobbit surgiu mais como uma brincadeira para divertimento próprio e da família. A origem da obra está nas histórias que Tolkien contava aos filhos na hora de dormir. Não se sabe exatamente quanto Tolkien começou a escrever seu novo livro, mas acredita-se que foi no início da década de 30. O texto foi publicado, pela editora Aleen & Unwin, em 21 de setembro de 1937. Diversos críticos literários tiveram reações entusiasmadas e a primeira edição esgotou-se até o Natal do mesmo ano.

 

Animado, Tolkien pôs-se a escrever uma nova aventura com os pequenos hobbits. Criou novos personagens e logo percebeu que o anel que Bilbo, o personagem central do livro anterior, encontrara em The Hobbit seria parte da temática central da nova obra, e desenvolveu em termos gerais o enredo.

 

Começou a escrever The Lord of the Rings em 1937 e só o concluiu 12 anos mais tarde. Parte disso se deu ao perfeccionismo do autor. Cada detalhe, cada pequena ponta devia se ajustar com perfeição ao restante de sua mitologia. No entanto somente em 1952 um acordo foi feito com a antiga editora de The Hobbit, a Allen & Unwin, e uma pequena quantidade de livros foi encomendada.

 

Finalmente, em 1954 foi publicada a primeira parte intitulada The Lord of the Rings: The Fellowship of the Ring. O livro recebeu boas críticas e logo a primeira edição estava esgotada. As duas partes seguintes foram lançadas com meses de intervalo e rapidamente a obra se tornou outro best seller. Mas desta vez, em proporções muito maiores. O fogo do entusiasmo cercando os livros tomou proporções inimagináveis.

 

Em 1968, o assédio de seus leitores e da imprensa, e a deterioração da saúde de Edith, os forçaram a procurar um novo lar. Mudaram-se para Bournemouth, onde viveram até a morte de Edith em 1971. Muito abalado, Tolkien retornou a Oxford. No entanto, durante uma visita a amigos em Bournemouth, sentiu-se indisposto e foi levado ao hospital, onde morreu na manhã de 2 de setembro de 1973.

 

Tolkien criou sua mitologia para a Inglaterra; escreveu os poemas; conferiu veracidade às suas línguas inventadas. E, sem perceber, criou uma obra que invadiria a imaginação de milhares de leitores, divertiria não só seus próprios filhos, como também os de muitos outros pais. E seria a base de um novo ramo literário e provocaria as mais diversas emoções em milhões de leitores.

(Fonte: http://origin.veja.abril.com.br/idade/estacao / Por Frederico Perret)

(Fonte: Veja, 2 de janeiro de 2019 – ANO 52 – N° 1 – Edição 2615 – CULTURA / LIVROS / Por JOSÉ FRANCISCO BOTELHO – Pág: 86/89)

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