Primeira atriz a aparecer nua em um filme

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Hedy Lamarr – Atriz do primeiro orgasmo no cinema e mãe da telefonia - (Foto: PROIBIDO LER)

Hedy Lamarr – Atriz do primeiro orgasmo no cinema e mãe da telefonia – (Foto: PROIBIDO LER)

Hedwig Eva Maria Kiesler (1913 – 19 de janeiro de 2000), nome artístico de Hedy Lamarr. Atriz austríaca. Foi a primeira atriz a aparecer nua em um filme. Os dez minutos em que nadou sem roupa na fita checa Êxtase, de 1932, renderam-lhe uma passagem sem escala para Hollywood. Lá ganhou o nome artístico de Hedy Lamarr e atuou em cerca de quarenta produções, das quais a mais memorável é Sansão e Dalila, de 1949, o épico bíblico de Cecil B. DeMille.

Enquanto Victor Mature arrebentava colunas de isopor no papel de Sansão, Hedy destruía corações na plateia, com suas curvas perigosas envoltas por roupas de odalisca e seus olhares dardejantes.

Depois de interpretar Dalila, ela entraria de vez no panteão das mulheres fatais de Hollywood. A atriz esteve perto de estrelar Casablanca, ao lado de Humphrey Bogart, mas preferiu deixar o papel para Ingrid Bergman.

Nem por isso deixou de ser Hedy Lamarr. “Qualquer mulher pode parecer glamourosa. Basta ficar parada e parecer burra”, ironizava.

Morreu no dia 19 de janeiro de 2000, aos 86 anos. Foi encontrada em seu apartamento em Orlando. Morreu dormindo.

(Fonte: Revista, VEJA, 26 de janeiro de 2000 -– N.º 1633 –- DATAS –- LUPA – Pág. 131)

 

 

 

Sexo e cinema

A orgia em De Olhos Bem Fechados, filme cuja montagem final excluiu o sexo explícito - (Foto: Divulgação)

A orgia em De Olhos Bem Fechados, filme cuja montagem final excluiu o sexo explícito – (Foto: Divulgação)

Paris, 1933. Os franceses formam filas para assistir a Êxtase, filme protagonizado pela austríaca Hedwig Kiesler. O mundo a conhecerá, nos anos seguintes, por Hedy Lamarr, estrela de beleza vertiginosa, ademais inventora de um sistema de comunicações a servir de base para a telefonia celular. A atriz representa Eva, que, casada com um velho milionário, comete o primeiro adultério do cinema com Adão, um engenheiro viril.

Ela corre nua entre as árvores, acaricia um cavalo e, ao se banhar no rio, tem o corpo multiplicado nos reflexos da água. O encontro com o amante é simbolizado pela carícia a uma flor, e a plateia urra durante o defloramento. “Êxtase, êxtase!”, pede, enquanto o rosto da atriz simula um prazer que se oferece a todos. Logo o Vaticano protestará contra a exibição e os Estados Unidos proibirão o filme, que será queimado pelos serviços alfandegários. 

Um estranho fim, porque o cinema havia muito se nutria da sexualidade. O primeiro beijo na boca fora dirigido por William Heise, em 1896, ano em que transcorrera o primeiro strip-tease, no filme Le Coucher de la Mariée. Em 1899, Thomas Edison filmara o segundo beijo, forjado numa situação a três. O sexo esteve presente, portanto, desde o inebriante início da arte, e parecia tão necessário a esta espetacularização do mundo quanto o trem ao chegar à estação. Um novo e excitante espaço público, o cinema repetia a literatura libertina forjada pelos iluministas.

A alegria hedonista em The Rocky Horror Picture Show (Foto: Divulgação)

A alegria hedonista em The Rocky Horror Picture Show
(Foto: Divulgação)

 

Enquanto discutia o sexo, o artista encolerizava o poder. À moda do que mais tarde faria Pier Paolo Pasolini em Teorema ou Salò, Luis Buñuel transformaria a obscenidade em ideal, disposto a combater um sistema excludente. Em L’Âge d’Or, de 1930, encenara a paixão fustigada pela incompreensão da Igreja e da sociedade burguesa. No coração do capitalismo que rouba e mercantiliza o desejo, o filme foi vilipendiado pelas milícias fascistas, que levaram ao recuo das exibições. O que estava fora de cena, o obsceno, não teria mais lugar. 

Não há, para o homem, outro inferno além da estupidez ou da maldade dos seus semelhantes. E, em 1934, todo o poder de encenar o corpo seria retirado dos artistas. Hollywood não mais aceitaria o atributo de “cidade do pecado” por determinação de Will Hays, um presbiteriano amigo do presidente Herbert Hoover. Seu Código de Produção, a vigorar a partir de 1934, estabeleceria a obrigatoriedade da ficção casta, de que estavam excluídos a perversão e o crime.

“A simpatia do público nunca tenderá para os vícios, o pecado e o mal”, lia-se em seus princípios gerais. Por 32 anos, até 1966, os Estados Unidos vetaram casais heterossexuais na mesma cama, mesmo vestidos, e os maridos que tiravam o pé do chão ao beijar as esposas. Os modos de burlar o Código Hays desaguaram em uma torrente de representações. O leite no ponto de fervura poderia simbolizar o amor em consumação. Os grandes musicais evocavam o ato sexual, os rodopios de um apaixonado sob a chuva. Tudo parecia ser o sexo extravasado da maneira possível.

L’Âge d’Or, a provocação de Buñuel (Foto: Divulgação)

L’Âge d’Or, a provocação de Buñuel
(Foto: Divulgação)

 

Contudo, havia mais. “Desde a adolescência me sentia intrigado com a existência, na videolocadora, de um esconderijo no qual eu não podia entrar”, conta Rodrigo Gerace, de 35 anos, autor de Cinema Explícito – Representações cinematográficas do sexo. O pesquisador constatou que a encenação pornográfica, caricata, exercida de maneira súbita e sem contexto, teria começado massivamente nos anos 1960, enquanto avançava a contracultura. Três décadas depois, a Aids faria o sexo “voltar ao tabu do armário”, em filmes que pareciam patologizá-lo. O ato libidinoso ganhou então célebres estilizações. Em 1999, De Olhos Bem Fechados continha uma orgia explícita, mas o diretor Stanley Kubrick morreu antes de incluir a sequência na montagem final do filme.

Sociólogo por formação, o pesquisador Gerace sentiu-se obsedado por esta entre tantas encenações que inseriam a obscenidade em um contexto sério. Especialmente, fora atraído por aquilo que o diretor dinamarquês Lars von Trier promovera em Os Idiotas. No filme de 1997, um grupo de jovens burgueses isola-se em uma ilha de modo a elogiar o preconceito e a anormalidade.

 

Cartaz da pornochanchada O bem dotado - o homem de Itu - 1979

Cartaz da pornochanchada O bem dotado – o homem de Itu – 1979

 

 

 

O que a produtora pornô Brasileirinhas jamais poderia exibir em circuito comercial circula ali com naturalidade. A pornografia torna-se uma obrigatoriedade de culto. Nos anos 2000, a estética vê-se naturalizada em Azul É a Cor Mais Quente, de Abdellatif  Kechiche, ou em Love, de Gaspar Noé. Para entendê-la, Gerace recua até a era muda. Desde lá, constata, o modo de encarar o sexo não se transforma de maneira essencial. É invariavelmente um tabu, um pecado a ser confessado, como ocorrera em Ninfomaníaca, a obra em que Trier, a seu ver, atualiza Emanuelle, a série de suave pornografia encenada por Sylvia Kristel nos anos 1970.  

Gerace encara com desconfiança o termo “erotismo”. Para ele, erótico muitas vezes é o sexo burguês, trancafiado em quatro culpadas paredes. Ele usa o termo “explícito” para a representação de toda a sexualidade, porque o entendimento do conceito (no início, apenas um beijo) modifica-se com o tempo.

“Para mim, o cinema deveria ser obsceno, ou seja, mostrar o que a sociedade esconde.” Seu livro endossa a importância da provocação dentro da história cinematográfica. “Tive de estabelecer, em primeiro lugar, o que entendo por sexo. O sexo, para mim, é sempre experimental, por expandir as limitações conhecidas de gênero. E ao mesmo tempo o sexo que a gente faz é sempre explícito, próximo da pornografia, embora julguemos praticar o ‘erótico’, distante do pornográfico. Embora assimilada, a pornografia está à margem. Quis mergulhar em seu esconderijo.”

 

Linda Lovelace em cartaz de divulgação de Garganta Profunda - 1972 - de Gerard Damiano

Linda Lovelace em cartaz de divulgação de Garganta Profunda – 1972 – de Gerard Damiano

 

O cartaz americano de Garganta Profunda, um pornô com história

 

Ele entende que, desde seu início, a produção explícita privilegiou o ponto de vista heterossexual. E estabelece como marco contrário o filme de Gerard Damiano Garganta Profunda, de 1972, no qual a busca pela realização era promovida por um personagem feminino. O primeiro pornô com história, contudo, “monstrifica” a mulher.

O personagem de Linda Lovelace erra por variados tipos de relações sexuais, incapaz de sentir orgasmo, até que um médico localiza seu clitóris na garganta. Mais libertadora parece-lhe a obra de Jim Sharman realizada três anos depois,The Rocky Horror Picture Show. “Tudo é muito alegre nesse filme fundado na performance, na androginia e na transexualidade.” O pesquisador vê celebrada ali uma “festa dos sentidos”, ao contrário de obras de representação aberta da sexualidade que encenam teses moralistas.

Muito se comentou o fato de a pornochanchada brasileira, exemplificada em clássicos como O Bem Dotado – O Homem de Itu (1978), de José Miziara, apresentar o homossexual como um hedonista, um desencanado. “Mas por que considerar pejorativo o que é efeminado?” O Brasil, ele crê, dá suas lições no sentido de descontaminar a sexualidade de uma normativa derrotada. Não somente os filmes de Karim Aïnouz ou Hilton Lacerda abordam livremente a temática sexual.

Coletivos cinematográficos nacionais como Surto e Deslumbramento agem “sem preconceito contra a bicha-louquice”, desinteressados de pedir licença para existir, à moda daqueles feministas, como o Xplastic. “Em um plano utópico, todos são corpos falantes com muitas sexualidades internas e desejos expandidos”, entende o pesquisador. “Tomara que tão logo seja absurdo perguntar se alguém é gay ou heterossexual, assim como separar o pornográfico do erótico. A quem interessa essa distinção?” 

*Reportagem publicada originalmente na edição 908 de CartaCapital, com o título “A festa dos sentidos”

(Fonte: http://www.cartacapital.com.br – CULTURA – LIVRO – Sexo e cinema/ Por Rosane Pavam — 08/07/2016)

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