Marco Aurélio Garcia, ex-assessor especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais nos governos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma Rousseff e fundador do PT

0
Powered by Rock Convert

Marco Aurélio Garcia, ex-assessor de Lula e Dilma

 

Marco Aurélio Garcia, ex-assessor de Lula e Dilma (Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil)

 

Foi um verdadeiro intelectual de esquerda e defensor ferrenho do Governo petista, pilar da política externa de Lula e do PT

Marco Aurélio Garcia (Porto Alegre, 22 de junho de 1941 – São Paulo, 20 de julho de 2017), ex-assessor especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais nos governos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma Rousseff e fundador do PT. Um dos pilares da política externa durante os Governos Lula e Dilma e um operador político chave na América Latina no auge dos Governos esquerdistas na região.

Professor aposentado do Departamento de História da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Garcia foi atuante no Partido dos Trabalhadores (PT) desde a sua fundação, em 1980.

Filiado ao PT, Maurco Aurélio é um dos pensadores da esquerda brasileira.

Considerado próximo ao ex-presidente Lula, Marco Aurélio Garcia foi assessor especial da Presidência para assuntos internacionais em todos os mandatos do PT na Presidência. Garcia dividiu a formulação da política externa dos governos petistas com o Itamaraty, comandado por Celso Amorim. Era entusiasta da cooperação Sul-Sul, principalmente com países da América Latina, e dos Brics, o bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

O elos do PT no exterior

Garcia começou a carreira como vereador em Porto Alegre nos anos 60 pelo PCB e se exilaria no Chile e na França durante a ditadura brasileira. Da temporada no exterior guardaria os laços que lhe dariam trânsito na esquerda latina e nos partidos socialistas europeus que ele usaria tanto no Governo como nos anos que passou como assessor internacional do PT. Era, antes de tudo, um homem do partido, do qual também ocupou a vice-presidência.

 

 

O ex-assessor da Presidência, Marco Aurélio Garcia – (Foto: Roberto Stuckert Filho / Agência O Globo / 11-11-04)

 

 

A proximidade com governos latino-americanos de esquerda era assunto de críticas recorrentes à política externa do Brasil nos anos Lula e Dilma. Em entrevista à revista “Piauí” publicada em março de 2009, Garcia disse que a aproximação era produto da necessidade, e não da ideologia: “Essa é uma visão pragmática. Temos superávits comerciais com todos eles”, afirmou.

Garcia também rebatia as críticas às relações diplomáticas do Brasil com países questionados por seu histórico de atuação nos direitos humanos. Em 2010, disse que o Brasil não era condescendente com os governos de Cuba e Irã.

Após o impeachment de Dilma, perdeu o cargo e foi grande crítico da política externa do governo de Michel Temer (PMDB).

Em maio de 2016, menos de um mês após Dilma ser afastada do comando do país, disse que a possibilidade de fechamento de embaixadas abertas no Caribe e na África –que vinha sendo estudada pelo governo– era “um absurdo extraordinário”. A abertura destes postos diplomáticos foi uma das marcas da política externa dos governos do PT, principalmente nos mandatos de Lula.

 

O ex-assessor da Presidência Marco Aurélio Garcia entrevista ao UOL e a Folha em 18 de outubro de 2013, a gravação ocorreu no estúdio do grupo Folha em Brasilia. (Foto: Alan Marques – 18.out.2013/Folhapress)

 

 

Acidente e polêmica

Garcia ficou bastante conhecido do grande público em 2007, quando foi flagrado em vídeo fazendo um gesto obsceno após reportagem do “Jornal Nacional”, da TV Globo, que noticiava defeito técnico no avião do voo 3054 da TAM que caiu no aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Depois, Garcia pediu desculpas.

Na época, o governo enfrentava uma crise devido ao chamado “caos aéreo”, com protestos de controladores de voo contra as condições em que trabalhavam. O movimento veio após o acidente com o avião do voo 1907 da Gol, ocorrido em setembro do ano anterior, que deixou 154 mortos.

O acidente com o voo 3054 da TAM completou dez anos no último dia 17 e deixou 199 mortos. Foi a maior tragédia da aviação comercial brasileira.

Em 2008, ele foi flagrado na janela de seu gabinete no Palácio do Planalto, fazendo um gesto obsceno durante o noticiário sobre o acidente do Airbus A320 da TAM, que ultrapassou a pista do Aeroporto de Congonhas e matou 199 pessoas. A notícia informava a descoberta de um defeito técnico na aeronave. Marco Aurélio comemorava a informação sobre o defeito, já que as primeiras notícias culpavam o governo pela tragédia. Por conta do episódio, ele acabou apelidado de “top-top”. O acidente completou 10 anos no último dia 17.

 

Marco Aurélio Garcia foi flagrado fazendo gesto obsceno durante notícia sobre o acidente da TAM em 2007 – (Foto: Reprodução)

 

ATO COM LULA E CONGRESSO DO PT

Marco Aurélio esteve na semana passada na sede do PT, durante o ato de solidariedade ao ex-presidente Lula devido à condenação por lavagem de dinheiro e corrupção no caso do tríplex do Guarujá.

No último congresso da legenda, o historiador defendeu que o PT deveria ser um partido mais assertivo e com mais disposição de enfrentar os grandes desafios, de esclarecer e mobilizar a sociedade para fazer frente às dificuldades do Brasil. Na ocasião, Marco Aurélio disse que as dificuldades do país são enormes e a agenda é ampla. Argumentou ainda que enfrentar os desafios não é tarefa de apenas um partido, mas de um conjunto de forças políticas. Para ele, o PT precisaria ser um partido unificado, mas não pela via burocrática, e sim do debate

Marco Aurélio Garcia viveu nove anos de exílio no Chile e retornou ao Brasil em 1979. Em entrevista publicada pelo PT em março de 2017, ele relembrou a história do partido e contou que foi chamado para uma reunião do movimento para formalização do PT em outubro do mesmo ano. Conheceu ali o ex-presidente Lula, então metalúrgico no ABC paulista.

 

Marco Aurélio Garcia ao lado de Lula no congresso do PT em junho de 2017 – (Foto: Givaldo Barbosa / Agência O Globo / 5-6-17)

 

 

 

Marco Aurélio Garcia morreu em 20 de julho de 2017, em São Paulo, vítima de um infarto, aos 76 anos.

“Ele foi um importante líder na construção e execução da política externa brasileira durante o governo de Lula, além de ser um dos grandes apoiadores dos Brics [bloco formado pelo Brasil, a Rússia, Índia, China e África do Sul]e do fortalecimento das relações Sul-Sul”, destacou o partido, em nota.

PETISTAS E INTELECTUAIS LAMENTAM MORTE

Na sede do PT em São Paulo, líderes petistas lamentaram a morte de Marco Aurélio.

— A gente não teria essa política externa altiva se não fosse Marco Aurélio. É uma perda muito grande. O presidente Lula perde um dos seus principais colaboradores e um dos seus principais amigos — disse o senador Lindbergh Farias (RJ), líder do PT no Senado.

— Foi um grande formulador da política do PT. Teve a função de organizar o nosso pensamento — afirmou Carlos Zarattini (SP), líder do PT na Câmara.

No Twitter, petistas como o ex-governador Tarso Genro e a ministra Maria do Rosário prestaram condolências a Garcia.

“Amigo fraterno, grande quadro da esquerda e militante histórico do PT. Ser humano excepcional. Dor e luto”, escreveu Tarso Genro.

“A esquerda do mundo em luto. Um amigo dos povos, professor e articulador da atuação internacionalista, morre Marco Aurélio Garcia”, afirmou Maria do Rosário.

ex-presidente Dilma Rousseff se referiu a Marco Aurélio como “meu amigo querido” e disse que sua morte é “extremamente dolorosa”.

“A morte do professor Marco Aurélio Garcia, meu amigo querido, é extremamente dolorosa. Desfrutei pela última vez de sua companhia há três semana.

Conversamos sobre a vida e os momentos terríveis que o país atravessa. Hoje é um dia de dor para todos nós, que compartilhamos com ele seus muitos sonhos, histórias e lutas. Era um amigo querido, de humor fino e contagiante, sempre generoso e cheio de ideias, dono de uma mente arguta e brilhante”, disse Dilma.

O ex-ministro Orlando Silva disse que morreu um personagem-chave do governo Lula.

Intelectuais ligados ao PT também lamentaram:

“Comunico, com dor na alma, que hoje faleceu o grande amigo e companheiro, Marco Aurelio Garcia”, escreveu o Emir Sader, cientista político e professor aposentado da USP.

O senador Roberto Requião (PMDB-PR) disse que Garcia foi um dos melhores quadros da políticas brasileira:

— Com tristeza recebo notícia da morte de Março Aurelio Garcia. Vamos honrar sua memória – disse Requião.

A senadora Vanessa Graziotin (PCdoB-AM) fez coro:

— Ele (Marco Aurélio) foi muito importante para o Governo Lula na condução da política externa, uma época em que o Brasil era respeitado no cenário mundial.

Em nota, o senador petista Jorge Viana (AC) disse que Marco Aurélio era “homem do diálogo”:

“O professor Marco Aurélio era um intelectual e militante apaixonado pela política, um perseverante sonhador que lutou pela justiça social desde a juventude. Sempre foi uma referência dentro do PT e um gigante no campo das ideias. Um democrata respeitado em todo o mundo. Ele sempre foi um homem do diálogo, defensor intransigente de um mundo e um Brasil mais justo. Foi um privilégio ter convivido com ele. É muito triste para todos nós, do PT, esta quinta-feira. Lamento muito a sua morte.”

O ex-ministro das Relações Exteriores Celso Amorim disse que o petista deixa uma “lacuna no pensamento democrático e progressista”:

“Profundamente entristecido com a morte do Marco Aurélio Garcia. Um colega exemplar e um grande amigo. Um humanista com visão política ampla e do lugar do ser humano nos processos históricos. Um verdadeiro intelectual de esquerda como já não se fazem hoje em dia. Deixa uma grande lacuna no pensamento democrático e progressista. Sentiremos saudades de sua capacidade de análise e do seu senso de humor, implacavelmente agudo e humano”.

 

REPERCUSSÃO NA ARGENTINA
A morte de Marco Aurélio Garcia foi comentada pelo secretário de Assuntos Internacionais do governo argentino, Fulvio Pompeo:

— Foi um homem inteligente, com profunda vocação integradora para nossa região.

Numa reunião com a presença do ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Marcos Pereira, a notícia da morte de Marco Aurélio causou impacto, segundo uma fonte argentina que estava presente no encontro.

— Uma pessoa informou sobre a morte de Marco Aurélio, todos ficamos surpresos — contou a fonte argentina.

A morte de Garcia foi lamentada por diplomatas que com ele atuaram. “Ele teve papel central na reorientação da política externa em busca de um novo lugar para o Brasil no mundo diferente do que estávamos acostumados a aceitar”, diz Audo Faleiro, que trabalhou por quase oito anos com Garcia na assessoria à Presidência e agora é ministro-conselheiro da embaixada do Brasil em Paris. “Marco Aurélio, Lula, Celso Amorim e Samuel Pinheiro Guimarães eram uma equipe muito qualificada para esse desafio”, segue Faleiro, citando também Amorim, o emblemático chanceler dos anos Lula, e o diplomata Pinheiro Guimarães, uma referência à esquerda nos quadros diplomáticos brasileiros.

(Fonte: https://oglobo.globo.com/brasil – BRASIL/ por Cleide Carvalho, Gustavo Schmitt e Sergio Roxo – 20/07/2017)

(Fonte: https://www.terra.com.br/noticias/brasil/politica – NOTÍCIAS – BRASIL – POLÍTICA – 20 JUL 2017)

(Fonte: https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2017/07/20 – POLÍTICA – ÚLTIMAS NOTÍCIAS/ Do UOL, em São Paulo – 20/07/2017)

(Fonte: https://brasil.elpais.com/brasil/2017/07/20/politica – BRASIL – POLÍTICA/ Por FLÁVIA MARREIRO – São Paulo – 20 JUL 2017)

Powered by Rock Convert
Share.