John Steinbeck, escritor social que percorreu sua América para retratar em As Vinhas da Ira

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O VINHO DA IRA TORNOU-SE AGUADO NO FIM

Steinbeck: “O escritor tem que crer no ser humano”.

John Steinbeck (Salinas, 27 de fevereiro de 1902 – Nova York, 20 de dezembro de 1968), o grande escritor social da década de 30, percorreu longamente sua América que retratara em romances vigorosos como ““As Vinhas da Ira””. Foi uma América diferente que ele viu, que substituíra seus personagens miseráveis do Sul da Califórnia por grandes cidades, colônias artísticas e grupos de “hippies” e “beatnicks”. Só a natureza majestosa era a mesma que o deslumbrara na juventude lírica e amarga.

A carreira do escritor John Steinbeck desmente o provérbio de que todo vinho quanto mais velho melhor. “”As Vinhas da Ira””, sua obra-prima, publicada em 1939, foi também o ápice da sua criação, que daí em diante se tornou uma groselha açucarada de romances lancinantes como telenovelas brasileiras: “A Leste do Éden”, “O Inverno da Nossa Desesperança”. O pêndulo incerto do Prêmio Nobel, essa loteria sueca da literatura, consagrou em 1962, isto é, com 23 anos de atraso, o grande romancista social que em 1939 retratara a amargura e a desilusão dos retirantes americanos, equivalentes aos nordestinos brasileiros – os lavradores do Meio-Oeste açoitados pela seca -, rumo à abundância da Canaã americana, a Califórnia, onde ele próprio nascera em 27 de fevereiro de 1902. Membro da “geração perdida” americana, o grupo de escritores que, logo depois da I Guerra Mundial, se refugiou em Paris à sombra da poetisa Gertrud Stein – como Hemingway, John dos Passos e Scott Fitzgerald -, Steinbeck distanciou-se cada vez mais de sua atuação social para exaltar uma América cada vez mais sob um prisma cor-de-rosa.

Viagens com um cachorro -– Seu último livro, “Travelling with Charlie” (que relata sua viagem por inúmeros Estados americanos num “trailer”, acompanhado somente de seu cachorro “poodle”, Charlie) levou um crítico maligno a dizer que Steibeck agora escrevia uma literatura que podia ser vendida junto com os alimentos inodoros para cachorros. Outro achou sintomático que esse livro de impressões de viagem fosse incluído como seleção do mês do “Reader’”s Digest”: facilitava a digestão do leitor médio. Uma análise mais equilibrada revelaria que John Steibeck esgotou seus recursos e temas – o ambiente de pobreza que conhecera durante a depressão econômica de 1929, como ajudante de carpinteiro, colhedor de frutas, balconista de farmácia, pedreiro e vaqueiro -, e o cenário querido e deslumbrante do Sul da Califórnia onde participara de greves entre colhedores ambulantes de laranjas, duramente explorados por fazendeiros gananciosos. Sua obra revela esse enfraquecimento e essa simultânea mudança de perspectiva. Nos primeiros livros, “Boêmios Errantes”, “Luta Incerta”, “Caravana de Destinos”, “Ratos e Homens” e “As Vinhas da Ira” a fé é no grupo humano, no trabalhador das zonas rurais, a crença é na união dos indivíduos, que faz a força de uma coletividade.

Deslocado na nova América -– Depois, seus personagens se pulverizam, até ele próprio e seu cão passarem a ser os personagens solitários de seu reencontro com a América. Todo o vigor estilístico, a caracterização humana e pungente dos miseráveis lavradores de Oklahoma, que ingenuamente confundem citações da Bíblia com trechos de um almanaque de conselhos rurais e charadas, a participação profunda nos dramas sociais de vidas que morrem sem ter encontrado o meio de saciar a fome e de ter um lar estável – tudo isso se dilui a se atrofia de livro em livro. Milionário, irritadiço, polêmico, casado três vezes, o romancista de “Ratos e Homens” sentiu-se deslocado na sociedade de consumo, de cultura de massas, de voos espaciais e conflitos raciais violentos. O seu era o mundo lírico dos vales diante do Pacífico, com suas macieiras, laranjais e praias a perder de vista. Eram os “rodeos” dos vaqueiros vindos de todo o Oeste, os circos ou o teto dos trens em que ele viajara como clandestino para frequentar a universidade de mocinhos ricos, a Stanford University, onde nunca conseguiu um diploma.

As sardinhas humanas – Os boêmios, os deserdados, os idiotas e os exploradores de “Cannery Row” (Beco das Latas de Conserva) eram as sardinhas humanas imprensadas à força na luta pelo dinheiro e pelo sucesso que obceca a vida de tantos americanos e que se revelava particularmente dura durante a depressão. Hoje, suas fórmulas sociais não funcionam mais numa sociedade já próxima da fase pós-industrial, em que os fazendeiros com régios subsídios governamentais constituem só 5% da população americana. Quando o Prêmio Nobel lhe foi entregue, a Academia Real da Suécia ressaltou em seus livros “o clima de humor amargo, que, até certo ponto, atenua os temas de sua obra, frequentemente rudes e cruéis. Suas simpatias inclinam-se sempre pelos oprimidos, pelos desesperados e pelos inadaptados” Steinbeck respondeu melancólicamente a um entrevistador que lhe perguntava recentemente qual era a obra que lhe custara maior esforço: “O edifício do Madison Square Garden” (palácio dos esportes de Nova York), que ele ajudou a construir como pedreiro.

De pedreiro a inquilino –- Na realidade, o autor californiano passou de construtor a inquilino de prédios elegantes, como do apartamento de Park Avenue que possuía no fim de sua vida. O filho e neto de imigrantes alemães que adoravam a cultura clássica da Grécia (seu pai se chamava Xenophon), John Ernst Alcibiades Socrates Steinbeck respondeu à acusação de “ausência de críticas sociais” em seus últimos livros: “Hoje em dia é difícil para um escritor distinguir as vítimas. Há trinta anos, era fácil: bastava olhá-las, eram pessoas falidas e esfomeadas. Agora algumas das vítimas estão por cima. Uma delas poderia estar no alto do seu escritório agora”. Steinbeck faleceu dia 20 de dezembro de 1968, aos 62 anos, em Nova York.

(Fonte: Veja, 11 de janeiro de 1978 -– Edição 488 – Cinema/ Por Paulo Perdigão -– Pág; 85)
(Fonte: Veja, 25 de dezembro de 1968 -– Edição 16 -– Literatura -– Pág; 60/61)

O famoso romance de John Steinbeck, Vinhas da Ira, que retrata a sociedade norte-americana na crise da Grande Depressão.
Numa paisagem deserta, em meio à estiagem de 1931, Steinbeck conduz os Joads rumo à esperança e à desilusão. O livro foi transformado em filme por John Ford (com Henry Fonda no papel principal) e ajudou o autor a conquistar, em 1962, o Prêmio Nobel de Literatura.
(Fonte: Zero Hora – ANO 45 – N° 15.944 – Túnel do Tempo – Almanaque Gaúcho/ Por Olyr Zavaschi – 27 de abril de 2009 – Pág; 42)

O californiano John Steinbeck, nascido em fevereiro de 1902, depois de uma breve passagem pela Universidade Stanford e alguns trabalhos errantes, como pintor e caseiro, tornou-se uma celebridade com a publicação, em 1939, de “As Vinhas da Ira” – 430 000 cópias vendidas só no primeiro ano, um prêmio Pulitzer e duradoura carreira de best-seller, com uma tiragem, até 2003, de mais de 14 milhões de exemplares.

O livro virou filme dirigido por John Ford e estrelado por Henry Fonda, e iniciou uma longa colaboração do autor com Hollywood. O diretor Elia Kazan levaria às telas outro romance seu, A Leste do Éden (Vidas Amargas), com James Dean, e Steinbeck escreveria outros roteiros, entre eles Viva Zapata!, para o mesmo Kazan.

Embora a direita americana tenha recepcionado “As Vinhas da Ira” como a “criação infernal de uma mente distorcida”, a obra de Steinbeck, incluindo-se Um Diário Russo, seria mais justamente qualificada como fruto de uma mente honesta, levemente melodramática e despretensiosa, a prosa límpida de um americano tranquilo, longe da angústia e ambição experimental de seu contemporâneo William Faulkner.

(Fonte: Veja, 10 de setembro de 2003 -– Ano 36 –- n° 36 -– Edição 1819 -– LIVROS/ Por Marília Pacheco Fiorillo -– Um Diário Russo, de John Steinbeck e Robert Capa – Pág: 114/116/117)

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