Benny Paret, duas vezes campeão mundial dos meio-médios

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Preconceito, provocação, pressentimento e redenção: 3 de abril de 1962, nocaute brutal tirava a vida de campeão

 

Scrapbook de Barbara Buttrick: Emile Griffith contra Benny Paret (Foto: Ron Scarfone/Divilgação)

Scrapbook de Barbara Buttrick: Emile Griffith contra Benny Paret
(Foto: Ron Scarfone/Divilgação)

 

Benny “The Kid” Paret (Santa Clara, 14 de março de 1937 – Nova York, 3 de abril de 1962), duas vezes campeão mundial dos meio-médios, nocaute brutal acabou com a vida do boxeador cubano

 

24 de março de 1962. Há 55 anos, Benny “The Kid” Paret e Emile Griffith entravam no ringue da meca Madison Square Garden para o terceiro encontro entre eles, valendo o título mundial.

Foi o último combate entre eles.

O cubano Paret disputaria a sua última luta. Morreria dez dias depois, vítima de uma hemorragia cerebral.

 

O cenário

 

Benny Paret

Benny ‘The Kid’ Paret, duas vezes campeão mundial dos meio-médios

 

Em quase dois anos, entre 27 de maio de 1960 e 24 de março de 1962, os dois protagonizaram uma das grandes rivalidades da época para os meios-médios, com dois títulos mundiais para cada um.

O roteiro era o mesmo: Paret começava melhor, Griffith terminava melhor.

Foi assim no primeiro duelo, em 1º de abril de 1961, quando Griffith sofreu nos assaltos iniciais, mas saiu como vencedor por nocaute no 13º dos 15 rounds.

 

Griffith nocauteia Paret na 1ª luta entre eles (Foto: Getty Images/Divulgação)

Griffith nocauteia Paret na 1ª luta entre eles (Foto: Getty Images/Divulgação)

 

 

O segundo encontro veio em 30 de setembro do mesmo ano, e Paret igualou o retrospecto com uma controversa vitória por decisão dividida, o que fez Griffith pedir a revanche.

O terceiro episódio foi marcado para 24 de março de 1962, com transmissão ao vivo para todo o país.

 

O desafiante

 

Emile Griffith

Griffith, então desafiante ao cinturão (Foto: Getty Images/Divulgação)

 

 

A reportagem do jornal “The Guardian”, veiculada em setembro de 2015, é clara:

“Emile Griffith era gay em uma época em que a homossexualidade era tida como doença, ou pecado, ou crime.

Até o ato sexual consensual entre dois homens adultos era passível de prisão.

A homossexualidade era crime em quase todos Estados da América, exceto Illinois.

A Associação Médica da América classificava a homossexualidade como uma ‘desordem psiquiátrica’.”

 

  • O campeão

 

Lucy e o filho Benny Jr. (Foto: Getty Images/Divulgação)

Lucy e o filho Benny Jr. (Foto: Getty Images/Divulgação)

 

Paret lutava contra outro tipo de preconceito: cubano, rosto jovial, ainda era visto com desconfiança e frequentemente tratado como “mais um garoto negro cortador de charutos” tentando a vida na América.

O campeão morava em Miami com a esposa Lucy e o filho Benny Jr.

Quatro dias antes de chegar a Nova York, a família foi barrada ao tentar levar o pequeno no zoológico local.

O motivo: a cor da pele. Ele e o filho, negros. A esposa, branca. “Vocês são muito coloridos”, justificou o funcionário.

 

 

  • A pesagem

 

 

Benny Paret Jr. (à esq.) e Emile Griffith durante a pesagem antes do terceiro encontro entre eles (Foto: Getty Images/Divulgação)

Benny Paret Jr. (à esq.) e Emile Griffith durante a pesagem antes do terceiro encontro entre eles (Foto: Getty Images/Divulgação)

 

 

Na véspera do combate, os rivais se colocaram frente a frente para a pesagem. Foi lá que um preconceito deu de cara com o outro. Paret: “Ei, maricón, vou derrubar você e seu marido.”

 

  • O pressentimento

 

 

Semanas antes da luta, Lucy, grávida do segundo filho do casal, Alberto, começou a ter sonhos com o marido machucado. Por isso, não viajou com ele para Nova York.

No dia da luta, sozinho no Bronx, Paret ligou para a mulher. Não queria luta. Sentia dores de cabeça, estava solitário, e chorou durante a ligação. Lucy pediu que ele não entrasse no ringue, mas ele sabia que não havia volta.

 

 

  • A luta

 

 

Griffith no chão: salvo pelo gongo (Foto: Getty Images/Divulgação)

Griffith no chão: salvo pelo gongo (Foto: Getty Images/Divulgação)

 

 

 

 

O script foi o mesmo dos encontros anteriores, com uma diferença fundamental: o combate foi ainda mais agressivo.

No sexto round, Paret, sobrando no ringue, combinou para uma sequência de golpes que levou Griffith ao chão. A contagem foi até 8, se chegasse a 10, o duelo acabaria.

O gongo soou logo a seguir, fim de assalto.

Como sempre, depois de oscilar, Griffith passou a dominar. E assim foi até o 12º round.

 

  • O nocaute

 

Perto das cordas, Griffith soltou um direto de direita que deixou Paret estático. Foram mais 28 golpes na cabeça do campeão até que o juiz Ruby Goldstein paralisasse a luta.

O corpo do campeão desfalecia nas cordas.

 

Griffith massacra Paret nas cordas (Foto: Getty Images/Divulgação)

Griffith massacra Paret nas cordas (Foto: Getty Images/Divulgação)

 

 

O juiz Goldstein segura Griffith (Foto: Getty Images/Divulgação)

O juiz Goldstein segura Griffith (Foto: Getty Images/Divulgação)

 

 

 

Goldstein segurando Griffith, por outro ângulo (Foto: Getty Images/Divulgação)

Goldstein segurando Griffith, por outro ângulo (Foto: Getty Images/Divulgação)

 

 

 

Paret: o corpo do campeão desfalece nas cordas (Foto: Getty Images/Divulgação)

Paret: o corpo do campeão desfalece nas cordas (Foto: Getty Images/Divulgação)

 

 

  • O árbitro

 

Goldstein foi um boxeador famoso nos EUA nos anos 20 e 30. Depois, virou juiz.

Acabou muito criticado por não paralisar o combate enquanto Griffith castigava o campeão. A fama de Paret de fingir quando era atacado ajudou na hesitação do árbitro. A fama de Griffith de não finalizar as suas lutas também.

 

 

  • A tragédia

 

“O corpo do campeão desfalecia nas cordas.”

 

Cena forte: Benny Paret, na maca, após o nocaute (Foto: Getty Images/Divulgação)

Cena forte: Benny Paret, na maca, após o nocaute (Foto: Getty Images/Divulgação)

 

 

Paret nunca mais acordou. Foram 10 dias em coma até a confirmação do pior: o campeão morria em 3 de abril de 1962, no Roosevelt Hospital, em Manhattan, vítima de hemorragia cerebral.

 

Nenhuma luta de boxe seria transmitida ao vivo nos EUA até os anos 70.

 

  • Griffith

 

Integrante do Hall da Fama Internacional, ele esteve nos ringues até 1977. Morreu em 23 de julho de 2013, em Nova York, de demência pugilística.

Sua história de luta dentro e fora do boxe foi eternizada no livro “A Man’s World: The Double Life of Emile Griffith”, de Donald McRae, lançado em setembro de 2015.

 

  • O legado

 

A morte de Paret virou música, pelo cantor folk Gil Turner, no mesmo ano da tragédia. Nicomedes Santa Cruz escreveu um poema em sua homenagem, “Muerte en el Ring”, e sua história foi ao ar no programa “80 Yard Run”, da rádio WBAI, de Nova York, em 1978. A ópera “Champion”, de 2013, também aborda o tema.

 

Benny Paret Jr. e Emile Griffith no lançamento de 'Ring Of Fire: The Emile Griffith Story' (Foto: Getty Images/Divulgação)

Benny Paret Jr. e Emile Griffith no lançamento de ‘Ring Of Fire: The Emile Griffith Story’ (Foto: Getty Images/Divulgação)

 

 

Em 2005, o documentário “Ring of Fire: The Emile Griffith Story”, disponível no YouTube, promoveu o encontro entre Griffith, sempre apontado como culpado pela morte de Paret, e Benny Jr., o filho de campeão, com um final dos mais emocionantes.

(Fonte: http://espn.uol.com.br/noticia – NOTÍCIA – BOXE/ Por Ricardo Zanei, para o ESPN – 24/03/2017)

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