Ashraf Pahlevi, a polêmica irmã gêmea do último xá do Irã, foi pioneira na causa feminina no seu país

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Ashraf Pahlevi, a polêmica irmã gêmea do último xá do Irã

A irmã gêmea do último xá do Irã, a princesa Ashraf Pahlavi, controversa pioneira dos direitos das mulheres em seu país (Foto: AP)

A irmã gêmea do último xá do Irã, a princesa Ashraf Pahlavi, controversa pioneira dos direitos das mulheres em seu país
(Foto: AP)

Ashraf Pahlevi, a polêmica irmã gêmea do xá do Irã, Mohamad Reza Pahlevi (1919-1980)

A "Pantera Negra", foi pioneira na causa feminina no seu país.

A “Pantera Negra”, foi pioneira na causa feminina no seu país.

 

A irmã gêmea do último xá do Irã, a princesa Ashraf Pahlavi, controversa pioneira dos direitos das mulheres em seu país

Ashraf Pahlevi (Teerã, 26 de outubro de 1919 – Monte Carlo, Mônaco, 7 de janeiro de 2016), foi uma das figuras mais simbólicas e importantes do reinado de seu irmão, de quem foi uma estreita colaboradora, e como tal uma das personalidades mais odiadas ou adoradas pelos iranianos após a Revolução Islâmica que em 1979 derrubou a monarquia no país asiático.

Ashraf Pahlavi foi pioneira na causa feminina no seu país. Teve uma vida marcada pelos privilégios e pela controvérsia.

Nascida a 26 de outubro de 1919 em Teerã, a princesa Ashraf Pahlavi foi considerada uma mulher poderosa na sombra do irmão, que ele não se privava de criticar, e desempenhara também um papel importante na política do reino.

Teve notória participação no regime de seu irmão, seus excessos e sua corrupção, assim como outras acusações como vinculação ao tráfico de drogas e o desvio de recursos públicos, que sua família tirou ilegalmente do país antes da Revolução.

Durante o seu exílio – o irmão foi retirado do poder em 1979 – Ashraf Pahlavi foi muito participativa na promoção da herança cultural, artística e literária do Irão, que ela considerou profanado pelo regime islâmico.

Considerada uma diplomata de sucesso, a princesa conduziu a delegação iraniana da Assembleia geral da ONU durante mais de dez anos.

Contudo, era detestada por religiosos fundamentalistas, tendo sido a primeira mulher a aparecer em público sem véu.

Depois da revolução islâmica que derrubou o xá Mohammad Reza Pahlavi, promoveu ativamente iniciativas para reavivar o património cultural, literário e artístico do Irã a partir do exílio.

O xá Mohammad Reza Pahlavi dirigiu o Irão de 1967 à 1979, tendo acabado por morrer no exílio, no Egito, em 1980.

Ashraf Pahlavi foi também líder do Comitê Iraniano dos Direitos do Homem, representante iraniana na Comissão dos Direitos do Homem da ONU e patrona da Organização das Mulheres Iranianas.

 

A filha do xá

 

Com o irmão gémeo. Mohammad Reza Pahlavi, e a irmã, Shams. Ashraf está à direita  |  (Foto: DIREITOS RESERVADOS)

Com o irmão gêmeo. Mohammad Reza Pahlavi, e a irmã, Shams. Ashraf está à direita | (Foto: DIREITOS RESERVADOS)

 

Era filha do militar Reza Pahlavi e de Tadj ol-Molouk, a segunda das suas quatro mulheres. O pai chegaria ao poder em 1925, quatro anos após um golpe orquestrado pelo Reino Unido e que poria fim à dinastia Qajar, que governava a Pérsia desde o século XVIII. O xá Reza Pahlavi estabeleceu uma monarquia constitucional e introduziu várias reformas econômicas e sociais, desde a mudança do nome do país para Irão até ao fim da imposição do véu para as mulheres. Mas foi forçado a abdicar do trono em 1941, a pós a invasão das tropas aliadas do Reino Unido e da Rússia. Foi Mohammad Reza Pahlavi, irmão gêmeo de Ashraf, que subiu ao trono em 1941.

Entretanto, em 1937, Ashraf Pahlavi tinha casado com Mirza Khan Ghavam, membro de uma família proeminente do Irão e que era uma aliada importante do xá. Divorciaram-se cinco anos depois. Esse foi o primeiro de três casamentos que acabariam em separações. Teve três filhos, dos quais apenas um, o mais velho, ainda é vivo.

Com os três filhos  |  (Foto: DIREITOS RESERVADOS)

Com os três filhos | (Foto: DIREITOS RESERVADOS)

 

A poderosa irmã do xá

A princesa tornou-se a principal conselheira do xá e era cada vez mais importante no palácio. Em 1946 foi enviada à União Soviética para discutir com Stalin o controle do Azerbaijão.

Em 1953, em plena Guerra Fria, os Estados Unidos, preocupados com a influência da União Soviética na região, orquestraram um novo golpe para afastar o então primeiro-ministro Mohammad Mossadegh. O xá era “um homem indeciso”, lê-se num documento da CIA sobre o golpe que foi divulgado em 2000. Os organizadores do golpe viraram-se então para “a forte e influente irmã gêmea do xá”. Agentes americanos e britânicos entraram em contato com ela e ter-lhe-ão oferecido vários presentes e algum dinheiro (um cheque em branco, segundo algumas fontes). Após “uma pressão considerável” da irmã, o xá decidiu apoiar o golpe.

Ashraf na juventude  |  (Foto: DIREITOS RESERVADOS)

Ashraf na juventude | (Foto: DIREITOS RESERVADOS)

Entre os casinos e a ONU

Ao mesmo tempo que o governo do seu irmão vivia na opulência e a sua polícia secreta torturava ativistas políticos, a princesa Ashraf concentrava-se nos direitos das mulheres. Em 1967, foi a delegada do Irão em vários comités nas Nações Unidos, incluído o dos Direitos Humanos. Em 1975, discursou na ONU a propósito do Ano Internacional da Mulher. Ela e a irmã, Shams, foram das primeiras mulheres iranianas a aparecer em público sem véu, com o cabelo descoberto. O gesto foi criticado pelos fundamentalistas xiitas.

Por outro lado, durante o reinado do seu irmão, a princesa Ashraf foi bastante criticada pela oposição, que a acusava de corrupção e criticava os muito comentados romances com atores iranianos e outras figuras públicas. A princesa tinha uma vida de luxo, típica do jet-set internacional. Viajava bastante e tornou-se conhecida por frequentar os casinos da Riviera francesa.

Em 1976 sobreviveu a uma tentativa de assassínio em França. 14 balas foram disparadas na direção do seu Rolls Royce, o seu assistente morreu e o motorista ficou ferido. Nos últimos anos do reinado do irmão, Ashraf Pahlavi sentiu que as coisas estavam novamente a mudar no seu país. Em 1978, mostrou-se chocada ao ver que muitas mulheres no seu país estavam a usar “o chador preto que as suas avós tinham usado”, segundo contou numa entrevista. “Meu Deus, pensei, é assim que isto vai acabar? Para mim, era como ver uma criança de quem cuidei subitamente adoecer e morrer.”

Os anos de exílio

Após a revolução islâmica, em 1979, e a deposição do seu irmão, a princesa passou a viver entre as suas casas de Paris, Nova Iorque e Monte Carlo. No exílio, participou ativamente na promoção da herança cultural, artística e literária do Irão. E continuou a aparecer nas revistas sociais, fascinadas com a vida desta mulher tão glamorosa quanto trágica. Um dos filhos foi assassinado nas ruas de Paris após da revolução islâmica, pouco depois o irmão gémeo morreu de cancro. Já em 2001, uma sobrinha morreu de overdose, em Londres, e dez anos depois a filha Azadeh Shaquif morreu de leucemia e o sobrinho suicidou-se em Boston.

Apesar das muitas críticas e acusações, por exemplo de ter feito fortuna à custa de negócios menos claros com as petrolíferas, Ashraf disse sempre que não se arrependia de nada: “Voltaria a fazer as mesmas coisas. Passou, agora são apenas memórias. Mas tivemos 50 anos de grandeza, de glória.”

Imortalizada por Andy Warhol com os lábios vermelhos e o cabelo muito preto, Ashraf Pahlavi era, nos anos de 1970, conhecida nas revistas sociais como Pantera Negra. “Tenho de admitir que gosto bastante deste nome e de certa forma é adequado. Tal como uma pantera, a minha natureza é turbulenta, rebelde, autoconfiante”, disse ao The New York Times em 1980. Mas a sua vida não era assim tão glamorosa como parecia. “Na verdade, algumas vezes desejava ter as garras de uma pantera para poder atacar os inimigos do meu país.”

Por Andy Warhol  |  (Foto: DIREITOS RESERVADOS)

Por Andy Warhol | (Foto: DIREITOS RESERVADOS)

No exterior, no entanto, seu papel na luta pelos direitos das mulheres iranianas, ficou evidenciado por sua recusa em aparecer em público com o tradicional véu islâmico e como um diplomata de primeiro nível, que ocupou cargos de alta categoria durante o reinado de seu irmão, ressalta o papel determinante da princesa Ashraf em promover a derrocada do político e de sua estreita colaboração com os Estados Unidos e o Reino Unido para instaurar uma monarquia autoritária no país.

Tanto antes como depois da Revolução, Ashraf Pahlevi viveu uma vida opulenta entre Teerã, Paris, Nova York e a Rivera Francesa, como parte integral da “jetset” do momento, e sua imagem foi imortalizada por artistas como Andy Warhol.

O livro do jornalista americano do “New York Times”, Stephen Kinzer, “Todos os homens do Xá”, narra o golpe de estado orquestrado pela CIA em 1953 contra o primeiro-ministro iraniano Mohammed Mosadegh, eleito democraticamente.

Ashraf se casou três vezes e teve dois filhos, um deles assassinado em Paris pouco depois da Revolução Islâmica e uma filha, que morreu de câncer em 2011. A princesa deixa um filho, o príncipe Chahran.

Ashraf Pahlevi morreu em Monte Carlo, Mônaco, em 7 de janeiro de 2016 no exílio, aos 96 anos de idade. A princesa sofria há muito da doença de Alzheimer.

(Fonte: http://noticias.bol.uol.com.br/ultimas-noticias/brasil/2016/01/09  – NOTÍCIAS – BRASIL – De Teerã – 09/01/2016)

(Fonte: http://www.dn.pt/mundo – MUNDO/ Por Maria João Caetano – Diário de Notícias – Lisboa‎ – 10 DE JANEIRO DE 2016)

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