Wystan Hughes Auden, poeta, considerado por muitos como um dos maiores escritores do século XX

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Wystan Hughes Auden (Inglaterra, 21 de fevereiro de 1907 – Viena, 29 de setembro de 1973), poeta nascido na Inglaterra, mais tarde, cidadão americano, considerado por muitos como um dos maiores escritores do século XX. O seu trabalho é conhecido pela sua técnica e estilística realizações, seu compromisso com as questões morais e políticas, e sua variedade de, forma de tom e conteúdo. Os temas centrais de sua poesia são o amor, política e cidadania, religião e moral, ea relação entre seres humanos únicos e impessoal, anônimo mundo da natureza. Ele também foi um prolífico escritor de ensaios em prosa e opiniões sobre temas literários, políticos, psicológicos e religiosos, e trabalhou em vários momentos em filmes documentários, peças de teatro poético e outras formas de atuação. Ao longo de sua carreira, ele era controverso e influente.

No porão da casa em que ele morreu, dia 29 de setembro, Trotsky imprimiu “Novy Mir” (“Novo Mundo”). No térreo, um advogado traduziu para o ucraniano “Alice no País das Maravilhas”. Morador do segundo andar daquele sobrado modesto diante da praça de São Marcos, na cidadezinha austríaca de Kirchstetten, “Herr Professor”, como era reverentemente chamado pelos vizinhos, saía para passear pelos bosques e atravessava alguns quarteirões para tocar órgão na igreja barroca local.

W. (Wustan) H. (Hughes) Auden há sete anos passava os veões na Áustria, fugindo da “violência de Nova York”, para onde fora em 1939, durante a Segunda Guerra Mundial. E lá se fixara desde 1972, depois de rever sua Inglaterra natal, onde lecionava poesia na Universidade de Oxford. E, mesmo sem deixar obras-primas completas como “The Waste Land” e “Four Quartets” de T. S. Eliot, sua revolução na poesia em língua inglesa teve um impacto maior e mais imediato.

Quando eclodiu a Guerra Civil Espanhola, em 1936, e ele se dispôs a lutar pelos republicanos, milhares de jovens ingleses comoveram-se com aquele exemplo. Afinal, aos 23 anos, isto é, seis anos antes, Auden renovara para seus compatriotas a esperança de que a grande poesia inglesa não morreria com Eliot, Spender, MacNiece e Lewis.

Mero número – Desde cedo seu interesse pela biologia transparecera em sua criação poética. Termos exatos que falam de neurônios, escleroses, nervos linfáticos expõem a debilidade do homem diante da paisagem impassível. Só “a argila humana” o interessava. Quando ainda não era “bem” entusiasmar-se pela revolução longíqua da China, ele quis, como Malraux, colaborar para a vitória do marxismo. Sua poesia inicial era a celebração, mais cerebral do que a do americano Whirman, do homem comume dos ideias democráticos.

Sempre excêntrico e coerente, aliou a Marx a auto-análise de Freud. Antecipou-se a todos os “ismos” sociológicos, políticos e filosóficos que combatem a redução do homem a um mero número para o imposto de renda, a carteira de identidade, o título de eleitor.

Com o fino sarcasmo quase panfletário de um Maiakovsky britânico, isto é, mais contido e menos inflamado, denunciou a publicidade e o Estado que “coisificam” o indíviduo, transformando-o em mero consumidor consumido sem escolha, “sem que se pergunte se ele foi livre ou feliz”, Com a vibração contagiante de um amante apaixonado da liberdade, descreveu num bar de Nova York “o enlouquecimento da cultura” alemã que levou ao culto sinistro de Hitler, “um deus psicopata”.

Os edifícios de Manhattan lhe serviram como “proclamação da força do Homem Coletivo”. Erudito, evocava o historiador grego Tucídides para acentuar a eternidade da opção política do homem entre a democracia “e o que os ditadores são capazes de fazer/ As cretinices senis que dizem monologando diante de um túmulo apático”. Mas a condição política, biológica e psíquica do homem da era de Dachau e Hiroxima não lhe bastava. Auden representa um dos grandes líderes da língua inglesa. Desde Byron, Donne e Elizabeth Barret Drowning ninguém descrevera o amor com força tão pungente e terna como o autor do poema “Lay Your Sleeping Head”, que começa pedindo: “Inclina tua cabeça adormecida, meu amor/ Humana, em meu braço infiel:/ O tempo e as febres consomem/ A beleza individual/ Das crianças pensativas, e a sepultura/ Prova que a criança é efêmera:/ Mas em meus braços até raiar o dia/ Que repouse a criatura viva/ Mortal, culpada, mas para mim/ A inteiramente bela”.

Última tarde – Para aquele poeta de produção abundante (“For the Time Being”, “The Age of Anxiety”, “Another Time”, entre muitas outras coletâneas de poemas), a volta à Inglaterra, em 1972, era “um sinal de velhice”, a fragilidade que ele nunca assumira, altivo em seu isolamento. Brutal, o chefe da imigração carimbou “desocupado” em seu passaporte de americano naturalizado, quando o poeta respondeu à pergunta formal “Profissão?”: “Escritor”. A velhice trazia a dependência, a vulnerabilidade mas também o entusiasmo dos jovens e “a clareza daquilo que se quer, quando você se torna mais feliz em seu egoísmo e sabe o que aceita e o que recusa, o que ainda é cedo demais ou que já passou”. Aquele poeta ex-marxista, ex-freudiano, que numa reviravolta típica se convertera com fervor crescente ao cristianismo, reconhecia, em todas as faces de sua poesia desigual, mas sempre estilisticamente deslumbrante, sua identidade com todos os seres humanos: “Que eu possa/ Composto da mesma matéria que eles/ De Eros e pó/ Acuado pela mesma negação/ E pelo mesmo desespero/ Erguer uma chama afirmativa”.

Na Áustria outonal da semana de setembro, Auden morria aos 66 anos, como o grande poeta irlandês Yeats, que saudara na admirável elegia involuntariamente hoje autobiográfica: “Mas para ele foi sua última tarde em que foi ele mesmo/ Uma tarde de enfermeiras e ruídos/ As províncias de seu corpo rebeladas/ As praças fortes de sua mente vazias/ Enquanto o silêncio invadia os subúrbios/ A corrente se sua sensibilidade caiu: ele tornou-se seus admiradores”. Auden morreu no dia 29 de setembro de 1973, do coração, aos 66 anos, em Viena.

(Fonte: Veja, 10 de outubro, 1973 – Edição 266 – LITERATURA/ Por Leo Gilson Ribeiro – Pág; 115 /– DATAS – Pág; 16)

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