Wilson Fadul, fundador do Partido dos Trabalhadores e ex-ministro de João Goulart

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Wilson Fadul um médico histórico do Brasil

Wilson Fadul, fundador do PDT e ex-ministro de João Goulart

Os políticos são vistos, nesta altura da decadência dos costumes, como o emblema do mau comportamento antipopular. A corrupção, a vinculação aos interesses dos poderosos, a criminalidade comum, estão coladas ao perfil da classe política no atual momento da vida brasileira. A verdade é que existem muitas evidências de que sejam assim mesmo, principalmente quando o Partido dos Trabalhadores e o seu governo se vê enredado numa corrupção de grandes dimensões.

Apesar da visão pessimista com os políticos e por conseqüência com a política, o certo é que a verdade não se resume a algo tão ruim e no passado, assim como certamente no futuro, a política foi, é e será o grande instrumento da civilização. Ela é o ajuste contínuo da história, aquilo que dá sentido aos atos de uma geração após a outra e que garante o processo cumulativo das riquezas e do desenvolvimento humano. Dito isso, falemos de um dos maiores médicos do século XX no Brasil: Dr. Wilson Fadul. Mas não estranhemos, pois a sua grandeza não se resume a técnicas médicas, mas ao exercício pleno da política na promoção da saúde do povo brasileiro.

Quando em 1963, Ministro da Saúde do Governo João Goulart, Wilson Fadul convocou a 3ª Conferência Nacional de Saúde, dois marcos da política estavam lá. O primeiro é aquele que dá coerência ao conjunto dos atos da civilização, o ministro era Deputado Federal, fora Prefeito da cidade de Campo Grande e convocava a Conferência com base numa Lei de 1937, de Getúlio Vargas, o líder fundador do Partido Trabalhista Brasileiro no qual Fadul cumpre até hoje a sua militância no fio da história que é o Partido Democrático Trabalhista (PDT). O segundo marco era o profundo compromisso com um povo e seu território, no caso o Brasil e os brasileiros.

A instituição Conferência Nacional de Saúde que depois foi apropriada pela frente de militantes sanitaristas na constituição de 1988, é uma conquista do trabalhismo. Wilson Fadul ao convocá-la em 1963, levantava a poeira da omissão dos partidos conservadores, uma vez que apenas em duas ocasiões havia sido convocada, em 1942 ainda no Governo Vargas e em 1950. Essa é a marca fundamental da política, o respeito às instituições voltadas para o povo e a ação sistemática, sem tergiversações, no seu interesse. Agora plenamente satisfeito com a importância da política para as nossas vidas, passamos a um outro passo revolucionário introduzido por Wilson Fadul naquela Conferência.

Tomemos suas palavras na apresentação dos Anais da 3ª Conferência Nacional de Saúde, publicada pelo Movimento Socialista de Saúde do PDT, com mais de 25 anos após a Ditadura Militar ter escamoteado os seus resultados: “No processo de elaboração desse pensamento, sobretudo a partir de 1940, foi tomando corpo a idéia que a saúde é inseparável do processo nacional de desenvolvimento, apresentando-se os indicadores dos níveis de saúde estreitamente relacionados ao grau de desenvolvimento econômico, social, político e cultural da comunidade”. Foi esse o conteúdo revolucionário da referida Conferência. Fadul junto a grandes sanitaristas da esquerda brasileira davam à saúde um sentido muito mais abrangente e alertava o país para um grande senso de solidariedade e unidade popular. Naquele momento e até hoje, existe uma corrente da direita nacional que acredita que saúde é um valor das elites endinheiradas, tudo se resumindo a meros atos de tecnologia médica. Aí o esforço do trabalho do povo brasileiro vai para o ralo, pagando ao imperialismo altos custos por técnicas que só se prestam para meia dúzia de pessoas, enquanto na imensa maioria os padrões sanitários se deterioram. Não foi por outros motivos que a Ditadura Militar, vinculada ao Estados Unidos da América na chamada Guerra Fria, engavetou os Anais da 3ª Conferência Nacional de Saúde.

Outro marco da política é aquele que determina as escolhas no campo das opções postas à frente dos líderes. Tais escolhas denotam sua ideologia e seus compromissos políticos. Um político de compromissos localizados, mesmo quando no exercício de grandes mandatos do Estado, se resumem a pequenos e insignificantes, do ponto de vista estrutural, atos de governos. Outros de modo claro fazem suas opções pelas classes privilegiadas, aceitando o jogo dos grandes fabricantes de tecnologia médica, investindo em corporações voltadas aos interesses das citadas classes. Hoje estamos vivendo claramente esse tipo de comportamento quanto à gestão da economia nacional, com os líderes, aí talvez esteja a verdadeira matriz da corrupção no Estado, submetidos aos interesses dos juros internacionais e aos grupos de rentistas aqui dentro do Brasil. Para se ter uma idéia dessa sujeição, através dos juros altos, recente matéria nos jornais com base em informações do IBGE, dão conta que mais de 80 bilhões de dólares de brasileiros estão aplicados no Exterior. Esse valor equivale a três vezes as despesas públicas com saúde em um ano. Pois bem, o exemplo do Médico e político Wilson Fadul é fundamental para o PDT e para os líderes populares no futuro.

Ao invés de se resumir ao investimento necessários na estrutura hospitalar e ambulatorial, Wilson Fadul, com a criação de grupo de alto nível procurou delimitar os parâmetros para o desenvolvimento da indústria farmacêutica nacional, autônoma e soberana. Os resultados do grupo apontavam para uma política ampla na química fina, através de investimento na nascente indústria petroquímica de então, no apoio aos laboratórios nacionais e na criação de estruturas produtivas estatais. Ao mesmo tempo Fadul enfrentou os laboratórios multinacionais, comumente vinculados aos EUA, e partiu para uma discussão realista a respeito dos custos dos medicamentos produzidos por eles.

O embaixador Lincoln Gordon, de triste lembrança para os brasileiros, procurou o ministro Fadul para defender os interesses dos laboratórios americanos no Brasil. Recebeu do Ministro da Saúde a negativa, pois o Ministério da Saúde era para cuidar da saúde pública e não para discutir interesses privados, se assim ele quisesse que procurasse o Ministério do Exterior que era o fórum adequado. O embaixador foi, inclusive, motivo de reparos até pela imprensa nacional. Wilson Fadul deu continuidade a este trabalho até a queda do Governo de Goulart, mas deixou uma diretriz política que as gerações atuais têm que procurar concluí-la. Hoje mais do que nunca é preciso defender a autonomia e a soberania nacional em torno da tecnologia médica sob pena de sermos espoliados em nossas riquezas e no resultado do nosso trabalho.

Quando falamos na grandeza deste líder trabalhista, poderia ter soado como um exagero da parte de quem nos lê. Mas aqui não se apregoa o elogio tão somente para relevar os valores individuais. Pelo contrário, pretendemos justamente chamar a atenção para a juventude que não existem derrotas definitivas na história, que o papel dos políticos é a manutenção sistemática dos interesses populares, muitas vezes só atingidos após algumas dezenas de anos. Usando o Dr. Wilson Fadul, saiba você por mais humilde que seja, por mais tímido que pense ser, que a ousadia é a marca do nosso pensar político, justamente porque não podemos deixar que se perdure este quadro social, econômico e político como querem os privilegiados do momento. Saibam que não podemos dar ouvidos ao pensamento único da direita nacional, atrelada ao capital internacional e nem nos deixarem enredados nesta névoa que o sistema lança com o intuito de nos confundir.
(Fonte: www.pdt.org.br – 18 de outubro de 2011)

Em homenagem a Wilson Fadul, fundador do PDT e ex-ministro de João Goulart, que morreu dia 18 de outubro de 2011 pela manhã, o site do PDT publica abaixo um artigo escrito por José do Vale Pinheiro Feitosa, ex-secretário de Saúde de Brizola (RJ), que fala um pouco da grandeza desse líder trabalhista.

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