Watson Macedo, cenógrafo, roteirista, diretor e grande criador do gênero das chanchadas

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Macedo: com suas chanchadas, um mestre da comunicação popular

Watson Macedo (Rio de Janeiro, 21 de julho de 1920 – Rio de Janeiro, 8 de abril de 1981), cenógrafo, roteirista, diretor e grande criador do gênero das chanchadas do cinema brasileiro. A receita era simples: tomava-se um casal de jovens apaixonados acrescentava-se uma dupla de cômicos, introduziam-se vilões em busca de algum tesouro e, aqui e ali, alguns sambas-canção ou marchinhas carnavalescas. Tudo temperado com muito corre-corre, brigas, beijos furtivos, cenas de perigo e heroísmo. No final, como nos clássicos de Hollywood, tudo terminava invariavelmente bem. Era só servir ao público, que se esparramava em filas, dobrando as esquinas, e rolava de tanto rir, torcer e aplaudir até cansar. Nasceu no dia 21 de julho de 1920, no Rio de Janeiro.

Assim eram as chanchadas do cinema brasileiro, nas décadas de 40 e 50. Os críticos e estudiosos até hoje não chegaram a um acordo sobre quando ela surgiu exatamente ou quando o termo foi empregado pela primeira vez. Mas não há dúvidas de que Watson Macedo, foi o grande criador e mestre do estilo. Diretor de 23 filmes, Macedo conseguiu, com alguns deles – como “Carnaval no Fogo” (1950), “Aviso aos Navegantes” e “Aí Vem o Barão” (de 1951) – igualar em bilheteria as mais caras produções de Hollywood da época.

Eram produções da Atlântida, companhia que representava uma espécie de equivalente cinematográfico da Rádio Nacional. O nome do estúdio, inspirado no mítico continente, era tão pretensioso quanto seu símbolo, um imenso chafariz copiado de uma maquete que Albert Speer (1905-1981), o arquiteto de Hitler, projetara para a capital do III Reich. As instalações, porém, eram modestas: pouco mais que um galpão na rua Haddock Lobo, no Rio de Janeiro. Trabalhando com cenários de teatro de revista e roteiros pueris, Macedo marcou uma etapa que iria desaparecer, em meados da década de 60, com o advento do chamado Cinema Novo.

A partir dos filmes de Nelson Pereira dos Santos, “Rio Zona Norte” e “Rio 40 Graus”, os jovens cineastas – geralmente cinéfilos que se embebiam de leituras de revistas francesas e desprezavam os esquemas “comerciais” de Hollywood e sua pobre congênere nacional – passaram à primeira linha dos interesses dos produtores, graças à repercussão internacional de alguns de seus filmes. Um deles, por sinal, foi “O Pagador de Promessas”, em que o antigo pupilo de Macedo, Anselmo Duarte, conseguiu a Palma de Ouro em Cannes. Na década de 70, Roberto Farias, que também aprendera a dirigir com Macedo, se tornaria o presidente da Embrafilme.

“Ele não se importava quando o espectador mais culto ou mais inteligentes e aborrecia com seus filmes”, testemunha Farias sobre Watson Macedo. “Queria ser compreendido pelo mais ignorante. Numa época em que o Brasil produzia oito filmes por ano, suas comédias eram aguardadas o ano inteiro.” Para se fazer compreendido, Macedo contava com o suporte de um elenco quase sempre igual: Eliana, sua sobrinha, era a heroína e tinha como galãs Anselmo Duarte e Cyll Farney.

O vilão inevitável era José Lewgoy, cheio de tiques e olhares esgazeados. Nos números musicais brilhavam os cantores das paradas de sucesso. Sobrava algum tempo para um arremendo de crítica social, em que os alvos favoritos eram a morosidade do funcionalismo público, a mania de grandeza da pequena burguesia e o já alarmante custo de vida. O ritmo de alegria e ingênuo humorismo era sustentado por uma dupla que ainda não teve paralelo, no cinema ou na televisão: Oscarito e Grande Otelo.

Mas nem só de chanchadas viveu Macedo. Em 1950 conseguiu, a poder do sucesso de “Carnaval no Fogo”, filmar o drama “A Sombra da Outra”. Ganhou o prêmio de melhor diretor do ano. Mas em 1964, ao tentar o suspense psicológico, com “Um Morto ao Telefone”, conheceu um retumbante fracasso. Dois anos depois, ainda fez “Rio, Verão e Amor”, mas pretendia voltar a fazer “para a família”, reunindo os atores de seus antigos sucessos em “Alegria de Reviver”. Não conseguiu. Talvez porque, como reconhece Eliana, “o cinema de hoje não tem mais lugar para a gente”.

Macedo morreu no dia 8 de abril de 1981, de edema pulmonar agudo. No Rio de Janeiro.

(Fonte: Veja, 15 de abril de 1981 -– Edição 658 -– Datas –- Pág; 81)

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