Walter Doniger, foi um dos responsáveis pelo sucesso da série “A Caldeira do Diabo”, verdadeiro fenômeno televisivo

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Walter Doniger, roteirista, produtor e diretor

Walter Doniger

Walter Doniger

 

Doniger escreveu e dirigiu diversos filmes entre os anos 1950 e 1960, chegando a ser indicado ao Globo de Ouro pelo roteiro de “Zona Proibida” (Rope of Sand, 1949), mas ficou mais conhecido como um dos responsáveis pelo sucesso da série “A Caldeira do Diabo” (Peyton Place), verdadeiro fenômeno televisivo, do qual ele dirigiu 64 episódios.

Walter Doniger começou a carreira escrevendo roteiros de filmes B da Universal, como “Mob Town” (1941) e “Danger in the Pacific” (1942) e, com a entrada dos Estados Unidos na 2ª Guerra Mundial, passou a desenvolver curtas de treinamento para militares. Essa experiência lhe permitiu escrever “Tóquio Joe” (1949), um dos primeiros filmes a lidar com a volta ao lar de veteranos de guerra – e a segunda produção independente do astro Humphrey Bogart.

Peter Lorre e Burt Lancaster em Zona Proibida

Peter Lorre e Burt Lancaster em Zona Proibida

No mesmo ano, criou para o produtor Hal Wallis o roteiro de “Zona Proibida”, que tentava recapturar a magia de “Casablanca” (1942). Assim como no famoso clássico, a ação se passava na África e o elenco trazia os mesmos três coadjuvantes: Paul Henreid, Claude Rains e Peter Lorre. Eles disputavam com o Burt Lancaster um grande tesouro em diamantes. Mas em vez de romance com a atriz francesa Corinne Calvet, o roteiro acabou destacando uma das cenas de tortura mais fortes da época.

Em 1951, Doniger assinou a trama de “Embrutecidos pela Violência” (Along the Great Divide), do mestre Raoul Walsh. Foi o primeiro western da carreira de Kirk Douglas e, como era típico nos filmes de Walsh, lidava com a violência como catarse. Cheio de ação, trazia Douglas salvando Walter Brennan do linchamento nas mãos de uma multidão enfurecida.

Kirk Douglas em Embrutecidos pela Violência

Kirk Douglas em Embrutecidos pela Violência

Doniger estreou como diretor em 1954, num filme sobre prisão que cativou a crítica. Ele adaptou o livro de memórias de um carcereiro para fazer “Duffy of San Quentin”, um filme que tentava ser realista e acabou levantando questões sobre os direitos dos prisioneiros numa época de extremo conservadorismo. As críticas positivas acabaram influenciando suas próximas produções, que retomaram o ambiente claustrofóbico da carceragem. O diretor-roteirista virou um especialista no subgênero, filmando mais três filmes prisionais: “The Steel Cage” (1954), “The Steel Jungle” (1956) e “Presídio Feminino” (House of Women, 1962).

Após entregar o roteiro do western B “O Proscrito do Forte Petticoat” (The Guns of Fort Petticoat, 1957), estrelado por Audie Murphy, Doniger resolver se voltar para a TV, a princípio trabalhando com séries passadas no Velho Oeste. Entre 1956 e 1962, ele dirigiu quase uma centena de episódios clássicos de “bangue-bangue”, em séries como “Cheyenne”, “Tombstone Territory”, “Maverick”, “The Rough Riders” “Bat Masterson” e “Outlaws”.

Cena de The Steel Jungle

Cena de The Steel Jungle

Mas antes de realizar seu maior sucesso, ele ainda retornou à cadeira de diretor de cinema no ano de 1962 com dois longas-metragens: “Presídio Feminino”, novamente ambientado numa prisão, e “Safe at Home!”, uma descarada tentativa de capitalizar em cima dos celebrados jogadores de baseball Mickey Mantle e Roger Maris, dos New York Yankees, que interpretavam a si mesmos na produção.

Em 1964, Doniger se juntou à equipe do produtor Paul Monash para criar a primeira novela noturna dos EUA. Ele foi um dos principais diretores de “A Caldeira do Diabo”, verdadeiro fenômeno televisivo, que inaugurou a era dos melodramas em horário nobre. A série era baseada no livro “Peyton Place”, da escritora Grace Metalious (1924-1964), que já tinha uma adaptação cinematográfica bem-sucedida em 1957, famosa pela trama escandalosa, que lidava com estupro, suicídio e incesto, e pela performance poderosa de Lana Turner.

O ator Clint Walker e o diretor Walter Doniger, no set da série Cheyenne

O ator Clint Walker e o diretor Walter Doniger, no set da série Cheyenne

A trama era considerada muito adulta para o horário matutino das tradicionais soup operas, voltadas às donas de casa americanas. Mesmo exibida no horário noturno, sua adaptação eliminou os pontos mais controvertidos. Diferente do livro, que se passa nos anos 1940, a série também atualizou o enredo para a década de 1960.

O elenco da produção era de arrepiar. Puxando o elenco, estavam os jovens estreantes Mia Farrow e Ryan O’Neal, acompanhados por Barbara Perkins, Dorothy Malone e Tim O’Connor. Durante 514 episódios, eles deram vida aos segredos e hipocrisias de um bairro suburbano da América – qualquer semelhança com o premiado “Beleza Americana” e com a série “Desperate Housewives” não é mera coincidência.

Mia Farrow e Ryan O’Neil na série A Caldeira do Diabo

Mia Farrow e Ryan O’Neil na série A Caldeira do Diabo

“A Caldeira do Diabo” foi um enorme sucesso, atraindo mais de 60 milhões de espectadores em seu auge e colocando o canal ABC na briga pela liderança da audiência – o que nunca tinha acontecido até então. Para aproveitar ao máximo a produção, o canal chegou a exibir três episódios por semana, e só viu o público se cansar quando Mia Farrow decidiu trocar a TV pelo cinema, saindo do elenco em 1966. Sua substituta, Leigh Taylor-Young, não tinha o mesmo apelo popular. E nos anos seguintes, outros integrantes do elenco original também decidiram abandonar o ritmo intenso das gravações.

A série ficou no ar até 1969, com Doniger acompanhando a produção do primeiro ao último episódio. Nos anos 1970, ela foi relançada em versão condensada, ao estilo do que a TV Globo faz hoje com seu “Vale a Pena Ver de Novo”, e passou a fazer sucesso também ao redor do mundo – chegou a ser proibida na Iuguslávia por divulgar “valores pequeno burgueses”. “Peyton Place” acabou entrando para o vocabulário americano como gíria, representando um antro de imoralidade.

Walter Doniger dirigindo Leigh Taylor-Young, no set de A Caldeira do Diabo

Walter Doniger dirigindo Leigh Taylor-Young, no set de A Caldeira do Diabo

Walter Doniger continuou trabalhando na televisão pelo resto de sua carreira. Dirigiu episódios de séries como “McCloud” e “Marcus Welby”, e realizou telefilmes, como “Mad Bull” (1977), sobre um lutador de luta-livre amargurado, e “Kentucky Woman” (1983), com Cheryl Ladd e Ned Beatty, sobre uma mulher que enfrenta os preconceitos e o assédio dos colegas ao trabalhar em uma mina de carvão para sustentar um filho pequeno e um pai doente. É importante mencionar que, um ano depois de “Kentucky Woman”, uma mineira iniciou o primeiro processo por assédio sexual dos EUA, num paralelo com a trama escrita por Doniger (a história real foi posteriormente dramatizada no filme “Terra Fria”, de 2005).

Walter Doniger e a atriz Cheryl Ladd em Kentucky Woman

Walter Doniger e a atriz Cheryl Ladd em Kentucky Woman

Seu último trabalho foi o roteiro de “A Fúria do Justiceiro” (1991), do qual ele também foi produtor-executivo.

Walter Doniger faleceu vítima de complicações causadas pelo Mal de Parkinson, aos 94 anos.

(Fonte: http://pipocamoderna.com.br/walter-doniger-1917-2011/130196 – CINEMA e Séries/ por Leonardo Vinicius Jorge – 28 de nov de 2011)

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