Velasco Alvarado, general e ex-presidente do Peru, Juan Velasco Alvarado.

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Velasco: as memórias ficaram sem conclusão

Velasco Alvarado (1910-1977), general e ex-presidente do Peru, Juan Velasco Alvarado. O general que personificou a controvertida revolução peruana – surgida com a derrubada de Fernando Belaunde Terry, em 1968. O primeiro “cholo” – Pouco resta, na prática, do programa de governo anunciado por Velasco após o golpe militar de 1968 – um polêmico projeto de transformações radicais na economia peruana, abrigado sob o lema “Nem capitalismo nem comunismo”. Mal instalados no governo, os novos dirigentes anunciaram a anulação dos contratos recém-assinados com a empresa petrolífera americana International Petroleum Company. Pouco depois, foram restabelecidas as relações com a União Soviética e iniciada a implantação de uma reforma agrária. Rompendo o tradicional alinhamento de seu país com os Estados Unidos, os militares ampliaram ainda a participação do Estado na economia e introduziram o sistema de co-gestão e a gradativa participação dos trabalhadores na propriedade dos meios de produção.

Velasco personificou esse processo, ele que tivera uma infância pobre no norte do Peru e se convertera no primeiro presidente cholo (mestiço) do país. Se a chamada “Revolução Peruana” tinha objetivos diferentes do comum dos governos militares, porém, em seus métodos acabou se revelando monotonamente rotineira. Também no Peru proibiram-se os partidos e a atividade política, e a imprensa acabou passando para as mãos do Estado.

Para muitos de seus críticos, os propósitos revolucionários de Velasco pecaram também pelo paternalismo – e o certo é que sua deposição não chegou a despertar qualquer reação popular de vulto. É significativo ainda que a maioria das reformas por ele introduzidas ao longo de sete anos tenha soçobrado tão rapidamente após a ascensão de seu sucessor. Quando de sua queda, Velasco foi acusado de “estrelismo” e “personalismo” – e este sem dúvida foi um dos motivos para sua substituição.

Até abril de 1977, ele ainda esperava retornar à vida política. Dois anos depois após o golpe que o desalojou do poder, em outubro d e 1975, Velasco começara a sair do ostracismo para organizar um partido. Seus amigos, porém, demoveram-no da ideia e ele dedicou-se, então, à redação de suas memórias – trabalho que tampouco concluiria. Sábado, dia 24 de dezembro de 1977, pela manhã, o general morreu no Hospital Militar de Lima, aos 67 anos.

A notícia não chegou a causar surpresa. Velasco ainda ocupava a presidência, em 1973, quando se manifestaram os problemas circulatórios que o levariam à morte – nessa oportunidade, ele acabaria tendo amputada uma perna. O que não se previa, porém, era que a reação popular a seu desaparecimento chegasse às proporções que assumiu. Perto de 350 000 simpatizantes acompanharam, o enterro daquele a que chamavam de General del Pueblo. E a ocasião serviu para slogans como “Velasco não morreu, enterrem Morales” – uma referência ao atual presidente, o mais conservador Francisco Morales Bermúdez. Agora, em sua morte, seu nome é aclamado de novo nas ruas – por um povo que, nos últimos nove anos, viu os militares tentarem vários caminhos e não acertar nenhum. Morto Velasco, o Peru – o país ainda veja uma espécie de “velasquismo”.

(Fonte: Veja, 4 de janeiro, 1978 – Edição n.° 487 – PERU – Memória – Pág; 33)

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