Tomás Antonio Gonzaga, poeta inconfidente, patrono da cadeira n.°37 na Academia Brasileira de Letras

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Gonzaga, um poeta do iluminismo

 

Tomás Antônio Gonzaga: obra sem licitação e ajuda a traficantes de escravos

 

Tomás Antonio Gonzaga (Porto, Portugal, 11 de agosto de 1744 – Moçambique, África, 1810), poeta inconfidente, personagem famoso nos compêndios de literatura e nos livros de História, foi patrono da cadeira n.° 37 na Academia Brasileira de Letras.

 

 

Na História, Gonzaga aparece como o autor do mais agudo panfleto político do período, as chamadas “Cartas Chilenas”. Sob o pseudônimo Critilo, criticava impiedosamente o então governador da capitania de Minas Gerais, Luís da Cunha Meneses.

 

 

Na literatura, aparece como autor do melhor dos poemas da chamada escola árcade, que floresceu em Vila Rica no período, intitulado “Liras”, ou “Marília de Dirceu”.

 

 

O poeta, que trabalhava como ouvidor em Vila Rica – cargo que o tornava a segunda maior autoridade local, abaixo apenas do governador -, cometeu vários desmandos. Manteve preso, sem julgamento, por quatro anos um de seus desafetos. Dispensou a licitação para obras na cadeia e alocou, para o serviço, a mão-de-obra dos presos.

 

 

 

Determinou que escravos que já haviam pago a maior parte de sua alforria voltassem a ser cativos, perdendo não só a chance de liberdade como também dinheiro. Encarregado de prestar contas dos gastos públicos à coroa portuguesa, fraudou um balancete para proteger o presidente da Câmara Municipal, o também inconfidente Cláudio Manuel da Costa.

 

 

 

Promoveu ainda um festival de distribuição de propriedade rurais. Concedeu cerca de quinze sesmarias de uma só vez, visando voas relações políticas caso a inconfidência triunfasse. Degredado para o exterior com o malogro do movimento, Tomás Antônio Gonzaga se envolveu no tráfico de escravos em Moçambique. Não que ele próprio traficasse, mas, uma vez trabalhando como juiz interino da alfândega, facilitava as coisas – provavelmente mediante suborno – para seus amigos contraventores.

 

 

 

 

O poeta Tomás Antônio Gonzaga, patrono da cadeira no 37 da Academia Brasileira de Letras, nasceu na cidade do Porto, em Portugal. Era filho do brasileiro dr. João Bernardo Gonzaga e de dona Tomásia Isabel Clark.

 

 

Passou parte da infância no Recife e na Bahia, onde o pai servia na magistratura e, adolescente, retornou a Portugal para completar os estudos, matriculando-se na Universidade de Coimbra, onde concluiu o curso de direito aos 24 anos.

 

 

Depois de formado, exerceu alguns cargos de natureza jurídica e candidatou-se a uma cadeira na Universidade de Coimbra, apresentando a tese “Tratado de Direito Natural”.

 

 

Em 1778, foi nomeado juiz-de-fora na cidade de Beja, com exercício até 1781. No ano seguinte, no Brasil, foi indicado para ocupar o cargo de Ouvidor Geral na comarca de Vila Rica (atual Ouro Preto), em Minas Gerais.

 

 

Nessa época, o poeta, aos 40 anos, dedicava poesias a Maria Dorotéia Joaquina de Seixas, de apenas 17 anos, que iriam fazer parte do livro “Marília de Dirceu”. A família da moça, muito tradicional, opunha-se ao romance, mas aos poucos a resistência foi cedendo.

 

 

Em 1789, Tomás Antônio Gonzaga foi acusado de participação na Inconfidência Mineira. Detido, foi enviado para a Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro, partindo depois para Moçambique, onde se casou com Juliana de Sousa Mascarenhas, filha de um rico comerciante de escravos, e teve um casal de filhos. Faleceu no exílio em dia desconhecido, no mês de fevereiro de 1810.

 

 

Tomás Antônio Gonzaga, cujo nome arcádico é Dirceu, escreveu poesias líricas, típicas do arcadismo, com temas pastoris e de galanteio, dirigidas à sua amada, a pastora Marília.

 

 

As “Liras” refletem a trajetória do poeta. Antes da prisão, apresentam a ventura do amor e a satisfação com o momento presente. Depois, trazem canta o infortúnio, a justiça e o destino.

 

 

As “Cartas Chilenas” correspondem a uma coleção de doze cartas, poemas satíricos que circularam em Vila Rica poucos antes da Inconfidência Mineira. Assinadas por Critilo (leia-se Gonzaga), habitante de Santiago do Chile (leia-se Vila Rica) e endereçadas a Doroteu (leia-se Cláudio Manuel da Costa), residente em Madri. Critilo narra os desmandos do governador chileno, o Fanfarrão Minésio (leia-se, Luís da Cunha Meneses).

 

 

Por muito tempo, discutiu-se a autoria das Cartas Chilenas, mas após estudos comparativos da obra com possíveis autores, concluiu-se que o verdadeiro autor é Gonzaga.

 

Depois de morto, Gonzaga foi enterrado em Moçambique. No túmulo dele, que é visitado por turistas em Ouro Preto, estão, na verdade, os ossos de seu neto.

(Fonte: Revista Veja, 21 de janeiro de 1998 – ANO 31 – Nº 3 – Edição 1530 – História / Por Celso Masson – “Gonzaga, um poeta do iluminismo”, Adelto Gonçalves – Pág: 94/95)

(Fonte: Veja, 14 de maio, 1975 – Edição 349 – DATAS – Pág; 19)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O inconfidente que fez história na literatura

A Inconfidência Mineira, rebelião ocorrida em 1789 e uma das mais romanceadas da História do país. Idealizada em Vila Rica, hoje Ouro Preto, a primeira articulação de brasileiros para obter a independência de Portugal forneceu um mártir para os republicanos de 1889 e para os militares de 1964.

 

Os primeiros fizeram de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, um símbolo. Os segundos o elevaram, por decreto, a “patrono cívico da nação”, o único brasileiro cuja data de morte é comemorada com um feriado nacional. Outros inconfidentes, como os poetas Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga e Alvarenga Peixoto, foram imortalizados nos livros de história como espíritos libertários inspirados pelo iluminismo francês.

 

 

O levante tinha raízes mais materialistas do que se supunha, e o ambiente intelectual que motivou a inconfidência, e o que se pretendia, no fundo, era acabar com os tributos que a coroa portuguesa impunha à atividade mineradora.

 

 

Aquela tentativa fracassada de criar uma nação independente a partir de Minas Gerais foi possível pela soma de dois fatores. De um lado, havia o descontentamento do povo de Vila Rica com derrama” – se a região das minas não produzisse determinada cota de ouro anualmente, a diferença teria de sair do bolso dos cidadãos.

 

De outro, reuniam-se ali magnatas inclinados à independência não por motivos ideológicos, mas porque assim poderiam manter seus privilégios, ou seja, continuar enriquecendo com a exploração de ouro e diamantes. O plano fracassou por delação de um de seus integrantes, Joaquim Silvério dos Reis. Dez dos inconfidentes foram condenados a degredo na África. Tiradentes, à forca e ao esquartejamento.

 

O Tomás Antônio Gonzaga que emerge não é necessariamente um oportunista desprovido de idealismo. Ele até podia compartilhar das ideias iluministas, mas era um homem de seu tempo. No Brasil, vivia num sistema em que a corrupção fazia parte do exercício do poder. Em Moçambique, envolveu-se com o único negócio próspero, que era o tráfico de escravos.

 

A História reforça a ideia de que não é feita apenas por heróis ou facínoras, e sim por gente comum e mediana. Um exemplo da época iluminista é o escritor francês Pierre Augustin Caron de Beaumarchais (1732-1799), que contrabandeou armas para os Estados Unidos quando estes guerreavam com a Inglaterra pela própria independência. Não fizera isso apenas por idealismo, mas por farejar ali um negócio rentável. Quando se dedicam a esclarecer esses deslizes de vultos históricos, não estamos querendo acabar com os heróis de um país, mas sim compreendê-los melhor.

 

A aura de heroísmo dos chamados inconfidentes permanece.

(Fonte: Revista Veja, 21 de janeiro de 1998 – ANO 31 – Nº 3 – Edição 1530 – História / Por Celso Masson – Pág: 95)

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