Thomas Mann, o escritor defensor da justiça, autor de Os Buddenbrook.

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O defensor da justiça

Thomas Mann (Lübeck, Alemanha, 6 de junho de 1875 – Zurique, Suíça, 12 de agosto de 1955), o escritor defensor da justiça, autor de “Os Buddenbrook”, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 1929, conseguiu representar, com a sua pessoa, a única esperança de salvação da integridade pacífica da região. Em 1932, quando a união política do Velho Continente parecia desmoronar, o filósofo italiano Benedetto Croce dedicou, a Thomas Mann, a sua “História da Europa”.

Muito tempo depois, em junho de 1955, em plena guerra fria, enquanto o mccarthismo aguilhoava os intelectuais americanos acusados de esquerdismo e num momento em que a própria tranquilidade mundial se abalava diante do confronto que antepunha Estados Unidos e União Soviética, num discurso, em Chicago, Thomas Mann pronunciou inefáveis palavras de compreensão, declarando que o sonho de sua velhice seria ver a América tomando a iniciativa de uma conferência universal pela paz. “Deveremos acabar com os armamentos”, afirmou, “e financiar a segurança do planeta combatendo, sim, os males que os homens, e não Deus, infligiram aos homens.”

Por tais pensamentos e palavras, Thomas Mann, cujo nascimento no dia 6 de junho, de certa maneira foi elevado, na primeira metade do século, à condição de uma espécie de “chefe moral” da Europa – a qual, talvez intempestivamente, ele mesmo havia destinado ao russo Leon Tolstói. Mann, porém, decepcionou-se com a América que o acolhera em 1933, quando voluntariamente abandonou uma Alemanha prestes a se conspurcar no nazismo. Voltou à Europa. E faleceu, em Zurique, no dia 12 de agosto de 1955, sem saborear sua reconstruída Alemanha natal, onde nascera, filho de um senador germânico e de uma brasileira de Angra dos Reis, em junho de 1875.

Traços estilizados – Em suas lembranças de infância, a filha do autor de “A Montanha Mágica” (1924) descreve Thomas Mann como “o homem do ritmo”, capaz de invariavelmente inspirar estabilidade e calma. Menina, Elizabeth padecia de um medo terrível de cemitérios. Quando tinham de cruzar por um deles, todavia, Mann segurava-lhe a mão e dizia: “Agora vamos passar diante de um jardim muito agradável. Olhe que lindas árvores”. Esse “ritmo”, aliás, jamais foi perturbado até que ele se sentisse obrigado a deixar a Alemanha. Mann atravessou uma existência burguesmente normal: “Infância tranquila. Uma provisória atividade de funcionário burocrático. O êxito de sua primeira novela, “Queda”, publicada numa revista em 1894. O triunfo de “Os Buddenbrook”. Um casamento feliz. Três belos filhos. Casa alegre. Cachorro fiel”.

Neste quadro, porém, deve-se incluir a figura moral de um homem nada indulgente consigo mesmo. Um artista açoitado pelo demônio da produção – não por ambição e medíocre egocentrismo, mas pela necessidade de criar, edificar algo duradouro e útil. Um indivíduo, enfim, aparentemente alcançável. Na verdade, porém, um indivíduo oculto na complexidade abissal de seu trabalho. São esses aspectos essencialmente humanos, em todo caso, que ajudam a compreender o Thomas Mann definido como “defensor da justiça”, injustamente acusado, pela parcialidade da crítica alemã ligada ao nazismo, de niilista e destruidor.

Disciplina e virtuosismo – Na obra de Thomas Mann, de fato, é constante a aliança entre bondade e inteligência, a luta entre o “homem” e a “fera”, o hino à beleza, herança de Goethe e de Schiller. Suas faces de autor podem ter sido diversas, mas nunca contraditórias. Identificado pela história da literatura como na confluência dos três estilos do início do século (naturalístico, estetizante e crítico-racionalista), o que Thomas Mann deixou é tão vasto e eclético que não pode ser definido rigorosamente. Ao mesmo tempo, entretanto, fica fácil descobrir elos entre seus romances – aquelas palavras, digamos, de consolo, encontráveis quase pontualmente no final de vários deles (“Os Buddenbrook”, “Carlota em Weimar”, “Sua Alteza Real”, “O Eleito”, “Felix Krull” e os poderosíssimos “A Montanha Mágica” e “Doktor Faustus”). Na sua obra inteira se encontra a “coerência de espírito” que, segundo o crítico boêmio Erich Kahaler, marcou toda a vida do escritor de “A Morte em Veneza” (1912).

Pois a linguagem, na opinião de Thomas Mann, é um elemento de harmonização, uma maravilhosa fusão de disciplina e virtuosismo. A linguagem que ele pretendia “mundial”, sem se preocupar com idiomas ou nacionalismos. “Deus”, dizia, “é Espírito.” Acima da linguagem dos homens estaria “A linguagem” divina.
(Fonte: Veja, 11 de junho de 1975 – Edição 353 – LITERATURA/ Por Bruna Becherucci – Pág; 72)

 

 

 

Thomas Mann (1875-1955), um dos principais autores modernos, considerado por críticos, como um dos maiores romancistas do século 20. A magia e os fenômenos paranormais muito interessaram a Thomas Mann, que não era um cético absoluto quanto ao assunto, e por ele sempre manifestou uma curiosidade científica.

Em 1929, escreve Mário e o Mágico, trata-se da segunda experiência, digamos italiana, de Thomas Mann, que em 1912 já havia produzido “Morte em Veneza”. O conto mais importante e intrigante deste livro é exatamente o que lhe deu o título. Em “Morte em Veneza”, Mann contou a história terrena, individual, embora rara, do intelectual Aschenbach. Em “Mário e o Mágico”, ao contrário, o autor transcende o limite do individual e de qualquer contingência para alcançar um piano metafísico. Ambientada na Itália de Mussolini, cheia de retórico patriotismo e de ufania nacionalística, a aventura desconcertante do mágico Cipolla, brutal, prepotente, charlatão, é tragicamente misteriosa. Com estranhos poderes ocultos e truques desonestos, ele sugestiona e condiciona o público como um Hitler ou um Mussolini.

Já em 1924, Mann escrevera “Experiências Ocultas”, que se encontram no presente volume, em que ele relata uma série de experiências metapsíquicas que o abalaram. Entre os outros escritos, “Desejo de Felicidade” (1896) é uma pequena obra-prima capaz de recompensar pela fraqueza das outras, também juvenis: “Vingança” (1899), “A Queda” (1894), “Estória” (1908). Ao lado do conto italiano e das experiências mediúnicas que contestam o racionalismo clássico, destacam-se os pensamentos sobre o sono e o belíssimo “A Morte” (1897), que parece atribuir ao indivíduo uma força sobre-humana a ponto de determinar um destino. No conjunto, em níveis diferentes, domina na breve coleção o anseio de investigar o mistério do homem e o inexplicável que existe nele e fora dele.
(Fonte: Veja, 15 de outubro de 1975 -– Edição 371 – O filho pródigo – Um Estranho numa Terra Estranha, de Robert A. Heinlein – LITERATURA/ Por Geraldo Galvão Ferraz -– Pág; 116/117)

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