Shah Marai, era diretor do departamento de fotografia do escritório da agência France Press (AFP) em Cabul

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Fotógrafo no Afeganistão registrava o conflito havia 15 anos

Shah Marai era diretor do escritório da agência France Press em Cabul

 

Shah Marai em foto de 2013 dentro de um helicóptero (Foto: Ben Sheppard/AFP)

 

Pilar da AFP em Cabul e testemunha de uma era turbulenta

 

Shah Marai , diretor do departamento de fotografia do escritório da agência France Press (AFP) em Cabul, no Afeganistão era testemunha há mais de 15 anos da tragédia que afeta o país.

Em 1996, Shah Marai foi contratado como motorista da agência de notícias francesa AFP no Afeganistão, seu país. Interessado pelo jornalismo, aprendeu fotografia sozinho e, em 30 de abril, já como diretor de fotografia da empresa, foi um dos oito jornalistas mortos em um atentado na capital Cabul. Um homem-bomba se fez passar por repórter e matou profissionais de mídia que cobriam um outro atentado, em um ataque reivindicado pelo autodenominado Estado Islâmico.

De motorista a fotógrafo, Marai teve rápida ascensão na empresa de jornalismo e era considerado um profissional corajoso pelos seus colegas. Começou a fazer fotos ocasionalmente dois anos depois de ser contratado como motorista e em 2002, já era fotógrafo profissional.

Sua vida e morte são um retrato da história do Afeganistão. Uma vez, foi espancado pelo Talibã porque escutava música enquanto dirigia. Mais tarde, dizia ter se vingado do grupo fotografando os ataques norte-americanos no país.

Com o fim do reinado do Talibã, “tudo voltou a ser possível, até mesmo as coisas mais simples, como ir ao cabeleireiro para fazer a barba”, contava Marai.

Era então a idade de ouro do Afeganistão. A segurança era garantida em todo o país e a esperança renascia.

Mas os talibãs, derrotados sem combate, retomaram seus ataques em 2004. A princípio, os militares estrangeiros eram os principais alvos. Então, quando deixaram o país em 2014, foi a vez das forças de segurança afegãs. E, finalmente, os civis.

Em março de 2014, o jornalista Sardar  Ahmad, também da AFP e um dos melhores amigos de Shah  Marai, foi morto com esposa e filhos em um hotel considerado seguro em Cabul. Os talibãs reivindicaram o ataque. Shah  Marai sentiu fortemente o golpe, mas continuou seu trabalho.

 

Shah Marai, pilar da AFP em Cabul e testemunha de uma era turbulenta. (Foto: Johannes Eisele/AFP)

 

Noites em branco

 

Em 2015, o grupo Estado Islâmico se instalou no Afeganistão, multiplicando os ataques. O clima de medo era latente. O ar se tornou irrespirável. As imagens poderosas de Marai contam a história da guerra, terror e sangue.

 

Em meados de 2016, em viagem a Paris, descreveu “as noites sem dormir”, passadas em branco fumando. Seu desejo de deixar o país aumentava, como o de dezenas de milhares de outros afegãos.

 

 

‘Gosto de ser o primeiro’

 

Com 48 anos, Shah Marai começou sua carreira na agência em 1996 como motorista. E foi porque escutava música ao volante que o Talibã, então no poder, o espancou certa vez. Dez anos depois, ainda tinha sequelas, antes de ser operado no exterior em 2012.

Ele começou a fazer imagens em 1998 e registrou a invasão americana do Afeganistão em 2001, depois dos atentados de 11 de setembro às Torres Gêmeas, em Nova York, nos Estados Unidos.

 

“Eu aprendi fotografia sozinho, então estou sempre tentando melhorar. E agora minhas fotos são publicadas em todo o mundo”, afirmou Marai na época.

 

 

Marai se tornou fotógrafo oficial em 2002, mas não assinava a maioria de suas fotos para não chamar a atenção nos períodos mais tensos.

Shah Marai dizia ter visto tantos cadáveres desde que começou a trabalhar para a AFP que não dormia mais à noite.

“Minhas melhores recordações são as de quando eu supero a concorrência com as melhores fotografias do presidente ou de outra pessoa, ou da cena de um ataque. Gosto de ser o primeiro”, declarou Marai sobre seu trabalho.

 

 

Veja fotos de Marai:

 

 

Soldados afegãos marcham durante cerimônia de formatura em Cabul (Foto: Shah Marai/AFP)

 

 

Em foto de 2008, homens aguardam sua vez durante cerimônia de autoflagelação em uma mesquita de Cabul (Foto: Shah Marai/AFP)

 

 

Pai carrega sua filha sob nuvens carregadas em Cabul (Foto: Shah Marai/AFP)

 

 

 

Menino carrega ovelha nas costas antes de festival com sacrifícios de animais em Cabul (Foto: Shah Marai/AFP)

 

 

 

Soldados afegãos nas ruas de Cabul após conflito com Talibã em 2013 (Foto: Shah Marai/AFP)

 

 

Mulher passa em frente a um local onde antes do Talibã havia uma estátua gigante de Buda em Bamiyan (Foto: Shah Marai/AFP)

 

 

 

Mulher passa em frente a um local onde antes do Talibã havia uma estátua gigante de Buda em Bamiyan (Foto: Shah Marai/AFP)

 

 

Shah Marai morreu em 30 de abril de 2018, em um duplo ataque a bomba que deixou outros 24 mortos e 49 feridos no Afeganistão.

Momentos antes da explosão por volta das 8h30 (horário local), o fotógrafo enviou uma mensagem a um cinegrafista que estava preso no trânsito e não conseguiu chegar ao local do ataque: “fique tranquilo, estou por aqui”, afirmou, indicando que também gravaria imagens em vídeo.

De acordo com forças de segurança, o segundo homem-bomba estava disfarçado de repórter e teria esperado os jornalistas se reunirem para explodir. Marai deixou em casa a mulher e 6 filhos – a única menina entre eles havia nascido no início de abril.

Shahs Marai com um de seus filhos mais jovens em foto de 2013 (Foto: Ben Sheppard/AFP)

 

 

De grandes olhos azuis claros, piada sempre pronta e seu auto-proclamado título de “campeão de pingue-pongue do escritório de Cabul”, Marai  deixa seis filhos.

“Ele morreu fazendo seu trabalho, como fazia há duas décadas”, homenageou o correspondente do New York Times em Cabul, Mujib Mashal.

“Estamos devastados pela morte de nosso fotógrafo Shah Marai, que era testemunha há mais de 15 anos da tragédia que afeta o país”, declarou a diretora de Informação da agência, Michèle Léridon.

“A direção da AFP saúda o valor, o profissionalismo e a generosidade deste jornalista que cobriu dezenas de atentados antes de ser ele mesmo vítima da barbárie”, completou.

(Fonte: https://g1.globo.com/mundo/noticia – MUNDO – NOTÍCIA / Por G1 – 

(Fonte: https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2018/04/30 – INTERNACIONAL – ÚLTIMAS NOTÍCIAS – ESTADO ISLÂMICO / Do UOL Com AFP – 30/04/2018)

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