Samson Flexor, foi o introdutor no país do abstracionismo geométrico

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Samson Flexor (Soroca, Moldávia, 1907 – São Paulo, 1971),  pintor e desenhista romeno nacionalizado brasileiro, mestre do geometrismo abstrato. Ele foi o introdutor no país do abstracionismo geométrico, um movimento que já fazia furor na Europa.

GOLPE NAZISTA – Flexor nasceu na Romênia em 1907, descendia de família abastada e desde a adolescência viveu em Paris, onde participou de vários grupos conhecidos do entreguerras, se relacionando com os nomes mais quentes da época. Embora entusiasmado com a euforia dos jovens artistas franceses, logo descobriu que sua praia era outra e passou a atuar de forma mais diversificada. Assim, tanto produzia obras de dimensões reduzidas, que expunha em galerias, como aceitava encomendas oficiais de painéis de grandes formatos.

Durante a ocupação nazista, Flexor passou por maus pedaços. Colaborou com a Resistência Francesa e sofreu perseguições por ser de origem judaica. Com o clima de terror instaurado, ele se escondeu com a mulher e o filho em Tam-et-Garonne, no interior da França. Foi vítima de uma espécie de golpe que vários outros pintores, como Robert Delaunay (1885-1941), dizem ter sofrido durante a guerra, aplicado pelos nazistas amantes da pintura.

Durante uma batida de surpresa, um oficial alemão chegou à aldeia e perguntou sua profissão. Assustado, imediatamente disse que era artista e que até estava executando um mural para a igreja local. O oficial, que alegava não acreditar na história, pediu para que Flexor o retratasse. No final, satisfeito com o trabalho, liberou Flexor e levou o quadro para enfeitar sua casa.

 

Em 1948, quando tinha 41 anos, o pintor romeno Samson Flexor tomou uma decisão um tanto estranha. Ele abandonou seu ateliê parisiense no bairro do Quartier Latin, disse adeus aos amigos mais experientes que o aconselhavam com a palheta – Henri Matisse, Fernand Léger e André Lhote – e, acompanhado da mulher e de dois filhos, s emudou com armas e bagagens para São Paulo.

Embora não fosse um superastro dos pincéis, Flexor tinha seu trabalho reconhecido por galeristas e colecionadores franceses. Suas pinturas enfeitavam capelas parisienses, como a do colégio Santa Bárbara, e repousavam em instituições, como o Museu de Arte de Luxemburgo.

Os tempos, no entanto, eram outros. Em 1946, Flexor havia visitado o Brasil, que ainda parecia uma terra de oportunidades diante da combalida Europa do pós-guerra, deixando-se fascinar pela luz, cores e descontração dos trópicos. Pensou em reeditar a aventura de Paul Gauguin, que foi para o Taiti, encantou-se com a paisagem paradisíaca e virou uma celebridade. Flexor, com sua mudança, seguiu o caminho inverso: fechou para sua obra as portas do mercado internacional. Em contrapartida, tornou-se um dos melhores e mais importantes pintores do país.

Apesar disso, Samson Flexor nunca teve sua obra devidamente analisada nem recebeu grandes homenagens até morrer, em 1971, aos 63 anos. A trajetória de Flexor combinando informações sobre seus trabalhos, suas aventuras pessoais e seu cotidiano em São Paulo, onde se tornou figura badalada, inclusive promovendo saraus frequentados por artistas como a pintora Tarsila do Amaral e o músico Hans-Joaquim Koellreuter.

Para se conhecer o melhor da obra de Flexor, ou mesmo ter uma ideia de sua trajetória artística, deve conhecer dois óleos, A Coroa de Espinhos e Geométrico Grande e um auto-retrato de 1926 que flagra Flexor hesitante entre o academismo e a modernidade. Além de uma espécie de escola de arte fundada pelo artista em São Paulo em 1951, o Ateliê Abstração.

 

Quando se pensa em Samson Flexor, a primeira imagem que vem à cabeça são as formas geométricas, compostas de ângulos, curvas e ogivas. De fato, ao desembarcar no Brasil, ele foi o introdutor no país do abstracionismo geométrico (“Todo artista deve passar pelo serviço militar da geometria para conquistar o direito a um trabalho mais livre”, costumava aconselhar).

Inicialmente sua pintura causava espanto aos olhos dos espectadores ainda atordoados diante da arte de vanguarda. Como quase todos os bons artistas, no entanto, ele começou no figurativismo e combinou essas duas tendências durante a maior parte de sua carreira. Para os retratos, muitas vezes lançava mão do cubismo. Na última fase de sua obra, as formas começam a se diluir, a pintura se torna fluida e transparente, como as aquarelas, e as figuras voltam a ser sugeridas, como no teste de Rorschach aplicado pelos psicólogos.

 

O primeiro contato profissional de Flexor com o Brasil ocorreu em 1946, quando expunha na galeria Carmine, de Paris, e foi visitado por um grupo de brasileiros, entre eles o crítico carioca Mário Barata. Desse encontro veio o convite para expor em São Paulo, onde morava um tio seu. A exposição, na extinta galeria Prestes Maia, foi um sucesso. Flexor voltou a Paris e dois anos mais tarde desembarcou para ficar e se naturalizar.

Bem recebido por parentes, artistas e críticos, ele enxergou uma oportunidade de uma vida melhor, embora para isso tivesse que abandonar conquistas anteriores. Caso tivesse ficado na França, poderia ter conquistado projeção internacional. Optou pelo risco e, com isso, ganhou a arte brasileira, na qual Flexor passa à posteridade como um de seus nomes significativos.

 

(Fonte: Veja, 9 de janeiro de 1991 – ANO 24 – Nº 2 – Edição 1164 – ARTE – Pág: 78/79)

 

 

 

 

 

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