Robert Altman, mordaz e irreverente escritor satírico que esteve por trás de M.A.S.H e Nashville

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O LOBO SOLITÁRIO

Robert Altman (Kansas City, Missouri, 20 de fevereiro de 1925 – Los Angeles, Califórnia, 20 de novembro de 2006), lendário cineasta, diretor de M.A.S.H.

Robert Altman, o mordaz e irreverente escritor satírico que esteve por trás de M.A.S.H e Nashville e que passou a vida opondo-se às regras de Hollywood e às convenções narrativas.

O chefão de estúdio Jack Warner (1892-1878) teve um choque ao ver pela primeira vez Countdown, o segundo filme de Robert Altman, em 1968. “Diga a ele para nem voltar aqui na segunda-feira”, vociferou o executivo, inconformado por ter investido numa fita em que todos os atores falavam ao mesmo tempo. Desde então, Altman fez outros trinta filmes. Em poucos deles teve o apoio de um grande estúdio. E em quase todos os diálogos se sobrepõem. Essa marca registrada do diretor fez parte de sua visão singular de fazer cinema – ou seja, dar a impressão à plateia de que ela está espiando algo sem que os personagens se deem conta disso. Altman era um desses lobos solitários que estão em extinção.

Filho de um corretor de seguros de Kansas City, Robert Altman foi piloto de bombardeiro na II Guerra Mundial, formou-se em engenharia e passou quase duas décadas dirigindo seriados de TV, como Bonanza. Somente aos 45 anos despontou no cinema com M.A.S.H., pelo qual ganhou o Festival de Cannes. Desde então, já foi sepultado e ressuscitado algumas vezes – a última delas em 1992, quando O Jogador iniciou este novo ato de sua carreira.

Altman já foi alcoólatra, drogado, cafeinômano e mulherengo, famoso pelas indiscrições com que pontuou seus três casamentos.

Indicado cinco vezes ao Oscar como melhor diretor, a mais recente delas em 2001, por Assassinato em Gosford Park, Altman finalmente foi reconhecido este ano com o prêmio honorário da Academia por sua carreira.

O reconhecimento que nunca teve da Academia com seus mais de 80 filmes como diretor, 39 como produtor e 37 como roteirista. Os festivais de Berlim e de Veneza já tinham dado a ele o prêmio honorário em 2002 e 1996, respectivamente.

Na última premiação do Oscar, comunicado da Academia disse que o prêmio ao diretor de Kansas City correspondia a “uma carreira que reinventou continuamente a arte cinematográfica e que inspirou a outros realizadores e à audiência igualmente”.

Na cerimônia, Robert Altman, recebeu a estatueta das atrizes Lily Tomlin e Meryl Streep, que fizeram uma apresentação aludindo as famosas narrativas entrecruzadas de Altman, em que as pessoas falam ao mesmo tempo.

Ele, por sua vez, fez um discurso emocionado sobre sua paixão pelo cinema. Disse que nunca fez um filme que não quisesse ter feito.

Mais do que isso, durante a cerimônia ele revelou em seu discurso de agradecimento, que tinha feito um transplante de coração há aproximadamente dez ou 11 anos. E concluiu que a Academia talvez estivesse se apressando em dar a ele o prêmio honorário, porque ele estava longe de se aposentar.

Filmes mais famosos

Algumas de suas produções mais famosas e que concorreram ao Oscar de melhor direção foram M.A.S.H (1970), Nashville (1975), O Jogador (1992), Short Cuts – Cenas da Vida (1993) e Assassinato em Gosford Park (2001).

Seu último filme, A Última Noite (A Prairie Home Companion), estava em cartaz em alguns cinemas de São Paulo, após exibição na 30.ª Mostra Internacional de Cinema, e foi premiado com o Urso de Ouro no Festival de Berlim.

Altman começou sua carreira como documentarista. M.A.S.H foi o filme que inscreveu seu nome na cena cinematográfica, ao conquistar a Palma de Ouro em Cannes, em 1970, festival que lhe deu mais tarde, o prêmio de melhor diretor por O Jogador (1992).

Ganhou ainda o Leão de Ouro em Veneza por Short Cuts – Cenas da Vida (1993) e o Urso de Ouro, em Berlim, por Oeste Selvagem (1976). Apesar de se considerar incapaz de eleger os filmes seus preferidos, M.A.S.H e Assassinato em Gosford Park figuram entre os mais importantes. Além de ter sido indicado ao Oscar como melhor diretor por Assassinato em Gosford Park, o filme recebeu outras seis indicações, incluindo melhor filme, melhor atriz coadjuvante para Helen Mirren e Maggie Smith. Conquistou o Oscar de melhor roteiro original, e Altman ganhou o Globo de Ouro de melhor diretor.

Além de seus sucessos cinematográficos, Altman sempre foi um defensor da contracultura e das liberdades. Sua oposição ao presidente dos EUA, George W. Bush, o levou a prometer que sairia do país caso fosse o governante reeleito, como ocorreu.

Apesar de ter descumprido a promessa após a vitória eleitoral de Bush em 2004, as produções de Altman se mostraram cada vez mais ligadas à Europa e menos aos Estados Unidos, onde tinha mais dificuldade de captar financiamento para seus projetos.

Robert Altman nasceu em 20 de fevereiro de 1925, em Kansas City, Missouri. Primeiro estudou em escola católica, depois ingressou na escola militar e alistou-se na Força Aérea, tornando-se co-piloto de aviões B-24 durante a 2.ª Guerra Mundial. Formou-se em engenharia na universidade local, e escreveu para rádio e revistas, antes de estrear na direção. Foi também ator, escritor, editor e produtor. Dirigiu muitos episódios de seriados de televisão, como Bonanza e Alfred Hitchcock Presents, entre outros.

No fascinante Assassinato em Gosford Park, o diretor americano mostra os aristocratas pelos olhos dos empregados, cumpriu, em suma, todos os passos de uma daquelas produções de época que se tornaram a marca registrada da dupla Ismail Merchant (1936-2005) e James Ivory, como Vestígios do Dia e Retorno a Howards End.

Nunca um filme se deteve com tanta argúcia sobre a interdependência entre a classe que usufrui o ócio e aquela que o propicia. Os empregados dependem dos patrões para alimentar seu desejo de mobilidade social, mas os aristocratas precisam deles para se vestir, para ouvir e disseminar fofocas e até para o sexo. Altman tece esse painel com um folego que lembra o de seus melhores trabalhos, como Nashville e O Jogador.

Como em todos os filmes de Altman, aqui não há, a rigor, personagens principais ou secundários. São todos protagonistas de seu próprio enredo – e, durante o filme, quase três dezenas deles se desenrolam. O que há de realmente diferente em Assassinato em Gosford Park é que tudo é visto pelos olhos dos empregados, os que moram na mansão e os que chegam acompanhando os hóspedes.

Robert Altman faleceu em 20 de novembro de 2006, em um hospital de Los Angeles, tinha 81 anos.

(Fonte: http://www.estadao.com.br/arquivo/arteelazer/2006 – ARTE e LAZER – CADERNO 2 – CINEMA – 21 de novembro de 2006)

(Fonte: Veja, 6 de março de 2002 – ANO 35 – Nº 9 – Edição 1741 – Cinema/ Por Isabela Boscov – Pág: 116/117)

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