Primeira vez, um acidente espacial brasileiro deixa vítimas.

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24 DE OUTUBRO DE 1960, O PRIMEIRO ACIDENTE DA ERA ESPACIAL.
A tragédia de Alcântara deixa marcas indeléveis no programa espacial brasileiro. Parte da MECB, sigla para Missão Espacial Completa Brasileira, o Veículo Lançador de Satélites (VLS) fracassou na sua terceira tentativa de subir ao espaço.
E pela primeira vez, um acidente espacial brasileiro deixa vítimas. Isso assustou e abalou a sólida estrutura das ambições de conquista dos ares pelo Brasil, algo que tem suas raízes nos ousados vôos de Santos Dumont, ocorridos no início do século passado.
No entanto, como foi ressaltado pelos dirigentes da Agência Espacial Brasileira (AEB), missões espaciais são missões de risco. E essa máxima vem acompanhando a história da conquista espacial desde seu início. Ainda durante o projeto Apollo (1968-1972), o então chefe de segurança da Nasa, a agência espacial norte-americana, teria afirmado:
– A missão Apollo 8 contém 5,6 milhões de itens. Mesmo que haja uma confiabilidade de 99,9%, poderemos esperar 5,6 mil falhas.
O acidente na base de lançamento de Alcântara remonta o primeiro acidente da era espacial, ocorrido em 24 de outubro de 1960. Naquele dia, a então União Soviética preparava-se para lançar o foguete R16, que ainda estava sob reparo e testes. Apesar da tentativa dos engenheiros de impedir o vazamento de combustível do foguete, este acabou explodindo 30 minutos antes do lançamento, deixando um saldo de 59 mortos e marcas, também indeléveis, no programa espacial russo. E a motivação de ambos os acidentes, distanciados por mais de quatro décadas, acaba sendo a mesma: desconhecimento.
Nos anos 60, esse desconhecimento se devia ao fato de se estar dando os primeiros passos rumo ao cosmo. Hoje a falta de preparo técnico-científico tem raízes no boicote que, por anos e anos, a comunidade científica internacional impôs ao Brasil, o que deixou o país à margem da tecnologia necessária para lançar um foguete e colocar um satélite artificial em órbita. O boicote era baseado em um acordo informal dos sete maiores países industrializados, o G-7, encabeçado pelos Estados Unidos, o MTCR, ou Regime do Controle das Tecnologias de Mísseis. Em 1998, o acordo embargou a construção do foguete brasileiro, o VLS, sob a alegação de que ele poderia ser usado como míssil para armas nucleares, químicas ou biológicas.
O MTCR sempre foi visto como sendo uma iniciativa unilateral e arbitrária, que não se harmoniza com os princípios básicos do Direito Espacial, especialmente no que se refere ao direito da livre utilização do espaço cósmico por todos os países, sem discriminação, e o da não-apropriação do espaço cósmico por nenhum meio, incluindo, aqui, o monopólio tecnológico e o bloqueio ao acesso a tecnologias espaciais.
Uma maneira de mostrar para a comunidade científica internacional que o Brasil não tinha a intenção de utilizar o espaço cósmico de forma bélica foi a criação da Agência Espacial Brasileira de Atividades Espaciais (Cobae), a qual havia sido estabelecida em 1971 pelo governo do general Emílio Garrastazu Médici, sendo subordinada ao Estado-Maior das Forças Armadas.
A AEB nascia em 1993, para mudar o destino do programa espacial brasileiro. Desde então, é ela que comanda os rumos dos projetos espaciais nacionais e as cooperações internacionais do setor espacial.
Como uma autarquia federal e civil, ela atingiu o seu objetivo máximo: acabar com o boicote técnico-científico imposto pelo MTCR ao Brasil.
Satélites brasileiros foram construídos, a base de lançamentos de Alcântara está em funcionamento e o VLS, que teima em não subir, tornou-se uma obsessão dos cientistas brasileiros. Acidentes espaciais são inerentes à própria história da era espacial. Foi assim que essa história se escreveu ao longo de décadas.

(Fonte: Jornal Zero Hora – EUREKA – Thaís Russomano, Médica Aeroespacial – segunda-feira 25 de agosto de 2003 – Pág. )

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