Pioneira na psiquiatria

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(010) Nise da Silveira (1905•1999)
Ela revolucionou a psiquiatria com a arte
Acho um desaforo chamar alguém de paciente, doente mental ou louco”
Quando a psiquiatra Nise da Silveira criou o Serviço de Terapêutica Ocupacional do Centro Psiquiátrico Pedro II, no Rio, em 1946, os maiores avanços da psiquiatria mundial ainda eram a lobotomia, que surgiu durante o salazarismo em Portugal, e o eletrochoque, inventado na Itália fascista. Nise, baixinha e franzina, comprou uma briga com a direção do hospital ao se recusar a usar eletrochoques e psicotrópicos, e ao distribuir tintas, pincéis e argila aos esquizofrênicos. Com o material para poder criar, eles passaram a ter uma vida útil e criativa, dentro de um espaço onde antes se sentiam mortos. Nise interpretava suas obras e assim os tratava, lendo nas pinturas e esculturas seus ricos e perturbados inconscientes. Em 46 anos de trabalho, reuniu mais de 300 mil peças de arte, que hoje formam o acervo do Museu do Inconsciente, no mesmo hospital, e mandou a maior parte dos pacientes para casa, curados.
Alagoana, Nise saiu de Maceió aos 15 anos para estudar no Rio. O pai havia morrido e ela, filha única, decidiu que precisava abrir os horizontes. Formou-se em Medicina – foi a única mulher num grupo de 156 homens – e especializou-se em neurologia. Recusou-se a chamar de pacientes aqueles a quem dedicou seu trabalho. Também não os chamava de loucos ou doentes mentais. “Eles são pessoas como as outras, são clientes”, dizia. “Chamo-os todos pelo nome.” Nise sempre acreditou em terapias mais humanas. Certa de que seus clientes precisavam dar e receber afeto, ela levou cães e gatos ao hospital e os nomeou co-terapeutas, experiência hoje feita em clínicas de todo o mundo. Amiga do psiquiatra suíço Carl Gustav Jung, com quem se correspondeu por vários anos, recebeu dele o conselho para estudar mitologia, que depois considerou outra peça-chave de seu trabalho. Escreveu seis livros, o último deles sobre gatos, uma de suas paixões. Em 1990, uma fratura na perna a levou à cadeira de rodas, de onde não mais saiu. Foi ativa até o fim. Um dia antes de morrer, aos 94 anos, recebeu em seu apartamento, no Rio, o grupo de estudos que mantinha para discutir psicanálise e psiquiatria.

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