Heloisa Teixeira toma posse na ABL e recebe diploma das mãos de Fernanda Montenegro
Mais nova acadêmica é escritora, crítica literária, pesquisadora e pensadora do feminismo brasileiro. Décima mulher a se tornar ‘imortal’ ocupa a cadeira 30, que era de Nelida Piñon.
Atriz Fernanda Montenegro entregou o diploma de ‘imortal’ da ABL para Heloisa Teixeira — (Foto: Reprodução/TV Globo)
A escritora Heloisa Teixeira tomou posse, na noite da sexta-feira (28), como imortal da Academia Brasileira de Letras.
Paulista de Ribeirão Preto e moradora do Rio de Janeiro, durante toda a sua carreira ela usou o nome de casada, Heloisa Buarque de Hollanda. Recentemente, optou por voltar a usar o nome de solteira, com o sobrenome da mãe: Heloísa Teixeira.
Em entrevista recente ao jornal “O Globo”, ela explicou a mudança de nome: “Sim, é para mim [a mudança]. Tem uma hora que a ficha cai, principalmente, com a coisa feminista. De repente, falei: ‘Caraca, tenho o nome do marido”.
Crítica literária, pesquisadora e importante pensadora do feminismo brasileiro, Heloisa é a décima mulher a ser eleita para a ABL. Aos 84 anos, ocupa a cadeira 30, que era de Nelida Piñon, morta em 2022, e de quem Heloisa era amiga.
“Em 126 anos da academia, é a primeira vez que uma mulher sucede uma mulher. Pra você ver quão poucos nós somos. São o total de 10 mulheres pra 339 homens. É absurda essa porcentagem. Mas agora vai mudar”, disse a mais nova imortal.
O diploma foi entrega por outra imortal, a atriz Fernanda Montenegro: “Muita emoção”, disse Fernanda.
O colar foi colocado no fardão pela também acadêmica Rosiska Darcy de Oliveira. Uma noite de protagonismo feminino.
Heloisa foi eleita em abril, pela primeira vez na história em uma eleição eletrônica na ABL. Os acadêmicos votaram em seis candidatos, a portas fechadas, em uma urna cedida pelo TRE.
Vida acadêmica, literatura e curadoria
Heloisa é formada em letras clássicas pela PUC-Rio, com mestrado e doutorado em literatura brasileira na UFRJ e pós-doutorado em sociologia da cultura na Universidade de Columbia, em Nova York.
É diretora do Programa Avançado de Cultura Contemporânea (PACC-Letras/UFRJ), onde coordena o Laboratório de Tecnologias Sociais, do projeto Universidade das Quebradas, e o Fórum M, espaço aberto para o debate sobre a questão da mulher na universidade.
Seu campo de pesquisa privilegia a relação entre cultura e desenvolvimento, área em que se tornou referência, dedicando-se às áreas de poesia, relações de gênero e étnicas, culturas marginalizadas e cultural digital.
Nos últimos anos, tem trabalhado com o foco na cultura produzida nas periferias das grandes cidades, o feminismo, bem como no impacto das novas tecnologias digitais e da internet na produção e no consumo culturais.
Heloisa também foi diretora da Aeroplano Editora e Consultoria, da Editora UFRJ e do Museu da Imagem e do Som (MIS-RJ). Dirigiu o Programa Culturama, na TVE, Café com letra, na Rádio MEC, e alguns documentários cinematográficos, como “Dr. Alceu” e “Joaquim Cardozo”.
Foi curadora de várias exposições. Entre elas, “Dez anos sem Chico Mendes” (Sesc Rio, 1998), “Estética da Periferia” (Centro Cultural dos Correios, 2005), “H20, o futuro da águas” (Sesc Rio, 2009), “Vento Forte: 50 Anos de Teatro Oficina” (Centro Cultural dos Correios RJ, 2009) e “O Jardim da oposição” (Escola de Artes Visuais do Parque Lage, 2009).
Tem vários artigos publicados nas áreas de arte, literatura, feminismo, cultura digital, cultura da periferia e políticas culturais.
Entre os livros que publicou, destaca-se a histórica coletânea “26 Poetas Hoje”, de 1976, que revelou uma geração de poetas “marginais” que entrou para a história da literatura brasileira, como Ana Cristina Cesar, Cacaso e Chacal.
A antologia é considerada um divisor de águas entre uma poesia canônica e uma poesia contemporânea e performática. Segundo a autora, o livro causou furor na época.
Outros livros publicados por Heloísa são “Macunaíma, da literatura ao cinema”; “Cultura e Participação nos anos 60”; “Pós-Modernismo e Política”; “O Feminismo como Crítica da Cultura”; “Guia Poético do Rio de Janeiro”; “Asdrúbal Trouxe o Trombone: memórias de uma trupe solitária de comediantes que abalou os anos 70”; “Escolhas, uma autobiografia intelectual”; “Explosão feminista – arte, cultura, política e universidade”; e “Feminista, eu¿”.
(Créditos autorais: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2023/07/28 – RIO DE JANEIRO/ NOTÍCIA/ Por Edivaldo Dondossola, g1 Rio –