Paulo Bellini, presidente do Conselho de Administração da Marcopolo, fundou sua primeira empresa de carrocerias de ônibus em 1949, em Caxias do Sul

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Paulo Bellini, um líder motivador

 

PAULO BELLINI – MARCOPOLO | (Foto: Super Sul)

PAULO BELLINI – MARCOPOLO | (Foto: Super Sul)

 

Presidente emérito e um dos fundadores da gaúcha Marcopolo, uma das maiores fabricantes de carrocerias de ônibus do mundo 

 

Fundador da Marcopolo morre em Caxias do Sul (Foto: Julio Soares/Divulgação)

 

Paulo Bellini (Caxias do Sul, 20 de janeiro de 1927), presidente do Conselho de Administração da Marcopolo, fundou sua primeira empresa de carrocerias de ônibus em 1949, em Caxias do Sul. Na época, Bellini cuidava da administração, contabilidade, caixa, pessoal e compras, sempre preocupado com o aprimoramento da equipe da fábrica, que a cada dia aumentava. Em 1978, a Nicola & Cia Ltda passaria a se chamar Marcopolo, em razão de um modelo fabricado pela companhia e apresentado no Salão do Automóvel de São Paulo em 1968. Foi o vencedor do prêmio Top Ser Humano 2009 – Personalidade compreendia a importância das pessoas em uma organização. 

Desde o início da sua trajetória como administrador, aos 22 anos, Bellini definiu a filosofia da sua empresa na década de 60 como “A organização é antes de tudo o homem.” Para ele, o principal diferencial da Marcopolo é a motivação de seus colaboradores. “Este é o nosso lema. Sempre investimos na formação e satisfação dos funcionários. Trabalho, comprometimento, motivação e formação são os fatores que permitiram o êxito da empresa”, destaca Bellini, que buscou conhecimentos sobre processos de administração participativa, inclusive, no Japão. 

 

PAULO BELLINI TRANSFORMOU UMA PEQUENA OFICINA DE CAMINHÕES DE CAXIAS DO SUL NA MAIOR FABRICANTE DE ÔNIBUS DO PLANETA

 

BELLINI LEMBRA COM BOM HUMOR O INÍCIO DE SUA EMPRESA: “O COMPRADOR DA PRIMEIRA CARROCERIA DISSE QUE A PEÇA FICOU BONITA, MAS QUERIA 32 GUARDA-CHUVAS, PORQUE CHOVIA DENTRO DO ÔNIBUS” (FOTO: BETO RIGINIK)

BELLINI LEMBRA COM BOM HUMOR O INÍCIO DE SUA EMPRESA: “O COMPRADOR DA PRIMEIRA CARROCERIA DISSE QUE A PEÇA FICOU BONITA, MAS QUERIA 32 GUARDA-CHUVAS, PORQUE CHOVIA DENTRO DO ÔNIBUS” (FOTO: BETO RIGINIK)

 

AS AVENTURAS DA MARCOPOLO

Esta não é uma história de um garoto pobre que larga os estudos porque precisa trabalhar e ajudar a família. Paulo Bellini cursava administração de empresas em Porto Alegre quando foi acometido por uma comichão. Queria trabalhar. Estava achando muito esquisita aquela história de viver à custa da mesada do pai. Durante as férias, voltou para Caxias do Sul, sua cidade natal, decidido a largar a faculdade. Bellini tinha 22 anos quando se uniu a seus vizinhos, donos de uma oficina que consertava e pintava cabines de caminhão. Com a chegada de Bellini, em 1949, os irmãos Nicola – Dorval, Nelson, João e Doracy – ampliaram o negócio e começaram a produzir carrocerias de ônibus. Nascia a Carrocerias Nicola.

A produção era muito, mas muito rústica. A carroceria era toda feita de madeira (apenas o revestimento era de metal) e colocada sobre um chassi (armação de aço que serve de base para a carroceria) de caminhão, modificado para ficar com o jeitão de um ônibus. Cada estrutura dessas levava 90 dias para ficar pronta. Hoje, a empresa produz entre 130 e 140 unidades por dia. “O comprador da nossa primeira carroceria me ligou e disse: a peça ficou muito bonita, mas me manda 32 guarda-chuvas, porque quando chove entra água pelo teto do ônibus”, conta Bellini, 85 anos (mas, se dissesse ter 70, não daria para duvidar).

Para produzir mais, Bellini vendeu cotas da empresa aos amigos. Um deles pagou em 12 vezes

A Carrocerias Nicola já nasceu em crise. “Não tínhamos capital e banco nenhum nos emprestava dinheiro.” Apelaram para ciganos, como eram conhecidos os agiotas em Caxias. Bellini chegou a batizar o filho com o nome de um dos credores da empresa. Outro entrave dessa fase inicial, quando superado, transformou-se num diferencial competitivo da empresa. Como não existia chassi específico para ônibus, Bellini e seus sócios tiveram de desenvolver ferramentas para desmontar os caminhões e transformá-los em coletivos.

Esse conhecimento permitiu que, anos depois, a empresa produzisse as próprias poltronas, portas e janelas. A verticalização, hoje festejada, foi uma imposição daqueles tempos. Com ela foi possível desenvolver uma produção em larga escala e, ao mesmo tempo, customizada. Se o cliente queria uma janela redonda, em vez da tradicional quadrada, eles faziam. Se precisava de dois banheiros em vez de um só, dava-se um jeito.

O empurrão de JK 

Nessa época, década de 50, a conjuntura jogou a favor da Carrocerias Nicola. Logo após a criação da empresa, o então presidente Juscelino Kubitschek lançou seu plano de metas, que pretendia fazer o Brasil crescer 50 anos em cinco. A base do plano era a expansão industrial e a integração do país. Para isso, foram construídas rodovias e a demanda por veículos capazes de transportar passageiros cresceu vertiginosamente.

O modelo de produção das empresas japonesas mudaria para sempre o destino da Marcopolo

O faturamento, no entanto, não crescia no mesmo ritmo das encomendas. Para produzir mais, Bellini precisava aumentar a capacidade de produção da fábrica. Continuava complicado conseguir crédito no mercado tradicional. Em 1954, ele e os Nicola abriram o capital da empresa para angariar recursos. Bolsa de valores? Não, bolso dos conhecidos. Bellini e Dorval Nicola saíam de pastinha na mão em busca de novos sócios: familiares, amigos, amigos dos amigos. “Teve gente que comprou participação na empresa pagando em 12 vezes sem juros”, diz Bellini. Com o dinheiro, os sócios trocaram o barracão onde funcionava a empresa por uma fábrica de 3 mil metros quadrados, em funcionamento até hoje.

A capitalização amadora oxigenou a empresa e tornou possível olhar para fora do Brasil. Em 1961, a Carrocerias Nicola fez sua primeira exportação. De poltrona em poltrona, de ônibus em ônibus, a companhia foi ganhando clientes por todo o Brasil e pela América Latina. Até que, em 1968, Dorval Nicola, o único vizinho que permanecia na sociedade, deixou a empresa para trabalhar com seus irmãos na Furcare, concorrente da Nicola. Foi um baque.

Desesperar jamais


Como boa parte dos clientes havia sido conquistada por Dorval, Bellini precisou contratar um novo time para sair à caça de encomendas. Foi nessa época que Valter Gomes Pinto (hoje sócio da Marcopolo) e José Fernandes Martins (atual vice-presidente corporativo) chegaram à empresa. Foi também quando o nome Carrocerias Nicola deu lugar a Marcopolo, inspirado no explorador e viajante veneziano Marco Polo.

Anos mais tarde, um novo baque. A crise dos anos 80 acertou em cheio a operação da companhia. Entre 1981 e 1983, a produção caiu pela metade e a empresa fechou fábricas em Porto Alegre e Betim (Minas Gerais). Desanimados com a situação brasileira, Bellini e o diretor industrial foram conhecer o modo de produção dos japoneses. E lá foram fazer jus àquele ditado do limão e da limonada. No fim de 1986 visitaram diferentes empresas no Japão, todas com o sistema Toyota de produção: funcional, eficiente e pouco burocrático – ideal para a fabricação de pequenos lotes de produtos personalizados. Para Bellini, aquela foi a viagem da vida da Marcopolo.

1987 foi o ano da virada. Com a adoção das práticas japonesas, a empresa ficou menos formal, menos hierárquica. Os funcionários, mais motivados, participativos e criativos. “Aprendemos a dar autonomia e responsabilidade às pessoas”, diz Bellini. Quatro anos depois, em 1991, o processo de profissionalização foi intensificado. Com a ajuda de uma consultoria, a Marcopolo contratou executivos do mercado, como José Rubens de la Rosa, atual presidente, e passou a traçar planejamentos estratégicos de curto, médio e longo prazos. A preocupação em planejar o futuro dos negócios tem permitido que a Marcopolo saia quase ilesa de períodos de turbulência. Em 2008, quando a crise da economia americana foi deflagrada e, a partir daí, uma enxurrada de problemas tomou conta das economias de países europeus, a Marcopolo tinha quase dois terços de sua receita atrelada a clientes internacionais.

Mesmo com a demanda em queda a empresa seguiu investindo. Dois anos depois, a decisão se mostrou acertada. A economia mundial não se recuperou, mas a demanda brasileira cresceu num ritmo que ajudou a compensar essa fraqueza. Desde o ano passado, as vendas externas voltaram a crescer. Neste ano, entre janeiro e setembro, a receita líquida da companhia avançou 14% (para efeito de comparação, a economia do Brasil não deve crescer mais de 1%). O lucro, no entanto, está em queda. O movimento deve ser passageiro. As ações da Marcopolo estão entre as preferidas por analistas de mercado para 2013. Paulo Bellini é otimista: “Eu só vejo coisas boas no nosso caminho”.

 

UMA LONGA VIAGEM

UMA LONGA VIAGEM

 

 

Ônibus Romeu e Julieta, um clássico do transporte coletivo

Foi um clássico produzido a partir de 1968: o ônibus urbano Romeu e Julieta, que integrava a frota do Expresso Caxiense.

Bem antes do surgimento do formato sanfonado, o modelo possibilitava que a parte traseira fosse removida nos horários de menor movimento de passageiros.

 

Casados ou não: o clássico Romeu & Julieta. Foto: acervo documental da Marcopolo, divulgação

Casados ou não: o clássico Romeu & Julieta. Foto: acervo documental da Marcopolo, divulgação

 

Marcopolo: anúncios das Carrocerias Nicola em 1960

 

Anúncio das Carrocerias Nicola em 1960. Foto: acervo documental da Marcopolo, divulgação

Anúncio das Carrocerias Nicola em 1960. Foto: acervo documental da Marcopolo, divulgação

 

Conforto, rendimento e segurança eram alguns dos adjetivos que acompanhavam as antigas peças publicitárias das Carrocerias Nicola S/A, empresa que depois se transformaria na Marcopolo.

 

Capa da Revista Asuncion, com o Ônibus Rodoviário Nicola, em 1963. Foto: acervo documental da Marcopolo, divulgação

Capa da Revista Asuncion, com o Ônibus Rodoviário Nicola, em 1963. Foto: acervo documental da Marcopolo, divulgação

 

Marcopolo, uma história sobre rodas

 

Funcionários no interior da Fábrica de Carrocerias Nicola S/A no bairro Planalto, em 1957. Foto: acervo documental Marcopolo, divulgação

Funcionários no interior da Fábrica de Carrocerias Nicola S/A no bairro Planalto, em 1957. Foto: acervo documental Marcopolo, divulgação

 

Na foto abaixo, o primeiro pavilhão da empresa, situado na esquina das Ruas 13 de Maio e Os 18 do Forte, em 1949, quando os sócios-gerentes e alguns colaboradores entregavam quatro ônibus para a prefeitura de Rio Grande. Entre eles aparecem Dorval Nicola, Fiorindo Sartori, Waldemar Negrini, Doraci Nicola e João Edo Arenhardt.

 

Os primórdios da empresa na esquina das ruas Treze de Maio e Os Dezoito do Forte, em 1949. Foto: acervo documental Marcopolo, divulgação

Os primórdios da empresa na esquina das ruas Treze de Maio e Os Dezoito do Forte, em 1949. Foto: acervo documental Marcopolo, divulgação

 

Vista aérea da Marcopolo Planalto em 1957. Foto: acervo documental Marcopolo, divulgação

Vista aérea da Marcopolo Planalto em 1957. Foto: acervo documental Marcopolo, divulgação

 

Ônibus Nicola exposto em Montevideo, no Uruguai, em março de 1962. Foto: acervo documental Marcopolo, divulgação

Ônibus Nicola exposto em Montevideo, no Uruguai, em março de 1962. Foto: acervo documental Marcopolo, divulgação

 

O surgimento

Nascida sob o nome Nicola & Cia Ltda, a empresa foi uma das primeiras indústrias brasileiras a fabricar carrocerias para ônibus, que inicialmente eram confeccionadas em madeira.

No entanto, a tecnologia e a rápida evolução do setor automobilístico nos anos 1950, tanto dos veículos quanto das estradas, alavancaram as vendas e o crescimento do grupo.

Em 1952, por exemplo, a produção começou utilizar as primeiras estruturas de aço, um marco na indústria de carrocerias feitas no Brasil.

 

Frota de ônibus urbanos da Viação Campos Gerais, estacionados em frente à fábrica Carrocerias Nicola, em 1960. Foto: Ulysses Geremia, acervo documental da Marcopolo, divulgação

Frota de ônibus urbanos da Viação Campos Gerais, estacionados em frente à fábrica Carrocerias Nicola, em 1960. Foto: Ulysses Geremia, acervo documental da Marcopolo, divulgação

 

Primeira exposição de ônibus da empresa Carrocerias Nicola na Festa da Uva, em 1958. Foto: acervo documental Marcopolo, divulgação

Primeira exposição de ônibus da empresa Carrocerias Nicola na Festa da Uva, em 1958. Foto: acervo documental Marcopolo, divulgação

 

Veículo comemorativo de número 3.000, em 12 de agosto de 1967: Ônibus Nicola Rodoviário com Chassi OLP para o cliente Auto Viação Bragança, de São Paulo. Foto: acervo documental Marcopolo, divulgação

Veículo comemorativo de número 3.000, em 12 de agosto de 1967: Ônibus Nicola Rodoviário com Chassi OLP para o cliente Auto Viação Bragança, de São Paulo. Foto: acervo documental Marcopolo, divulgação

 

Lançamento do ônibus Marcopolo no VI Salão do Automóvel, em São Paulo, em 1968. Foto: acervo documental Marcopolo, divulgação

Lançamento do ônibus Marcopolo no VI Salão do Automóvel, em São Paulo, em 1968. Foto: acervo documental Marcopolo, divulgação

 

Inauguração da Fábrica da Marcopolo – Unidade Ana Rech, em 20 de fevereiro de 1981, no período da Festa da Uva. Participaram o então presidente da República João Figueiredo e o empresário Paulo Bellini. Foto: acervo documental da Marcopolo, divulgação

Inauguração da Fábrica da Marcopolo – Unidade Ana Rech, em 20 de fevereiro de 1981, no período da Festa da Uva. Participaram o então presidente da República João Figueiredo e o empresário Paulo Bellini. Foto: acervo documental da Marcopolo, divulgação

 

Paulo Bellini morreu em 15 de junho de 2017 em Caxias do Sul, na Serra do Rio Grande do Sul,

(Fonte: Zero Hora – ANO 51 – Nº 17.905 – 19 de outubro de 2014 – COM A PALAVRA/ Paulo Bellini – Pág: 8)

(Fonte:http://jcrs.uol.com.br – JORNAL DO COMÉRCIO – Notícia da edição impressa de 15/09/2009)

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(Fonte:http://epocanegocios.globo.com/Informacao/Resultados/noticia/2013/01 -Aventuras da Marcopolo – POR RAQUEL SALGADO (TEXTO) – 29/01/2013)

(Fonte: http://wp.clicrbs.com.br/memoria – MEMÓRIA – Carrocerias Nicola/ Por Rodrigo Lopes de Oliveira – 4 de agosto de 2014)

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(Fonte: http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia – RIO GRANDE DO SUL / Por G1 RS e RBS TV – 

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