Oswaldo Goeldi, considerado o maior gravador brasileiro, um dos artistas mais importantes do séc. 20

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Goeldi: nas gravuras é inconfundível sua obsessiva atmosfera dramática

Oswaldo Goeldi (Rio de Janeiro, 31 de outubro de 1895 – Rio de Janeiro, 16 de fevereiro de 1961), considerado o maior gravador brasileiro, que, além disso, ele foi um dos artistas mais importantes do século 20.

Modesto e retraído, ficou na sombra das grandes vedetes da pintura, encarnando, quase sem querer, a verdadeira vanguarda – ao refereir-se ao gravador.

Suas gravuras e desenhos onde o contido Goeldi se solta. Usando nanquim, grafita, carvão, misturando-os todos, revela uma suspeitada liberdade. Vê-se a liberdade do traço que corre, se enrosca, faz saltar esqueletos, se esfuma, mostrando as nuanças do severo e angustiado mundo em branco e preto das gravuras. Mesmo sem cor, nos desenhos Goeldi deixa a imaginação correr livre.

Quando a cor aparece (Goeldi só passou a empregá-la em 1937), ele o faz com extrema delicadeza, no verde de uma garça ou de uma nuvem, ou então em um rápido rosa.

DURA CAMINHADA – Nascido no Rio de Janeiro, em 31 de outubro de 1895, filho de um naturalista suíço que veio para o Brasil a convite de dom Pedro II, Goeldi foi criança para Belém do Pará e, com 6 anos, mandado para a Suíça, de onde só voltou em 1919.

Em seu “Testamento Espiritual”, publicado postumamente em 1964, três anos depois de sua morte, em A Gazeta, dá um preciso resumo de sua vida e do que nela lhe interessava: “A gravura em preto e branco comecei em 1924. Fiz duas viagens para a Europa em 1930 e 1931, expondo lá em Berlim, Berna e Zurique. Iniciei a gravura em cores em 1937. Ilustrei vários livros. Devo ao grande desenhista Alfred Kubin (Áustria) ter encontrado meu caminho. Desde 1917 trocamos correspondência e trabalhos, e em 1930 fui visitá-lo. Nunca sacrifiquei a qualquer modismo o meu próprio eu – caminhada dura e árdua, mas a única que vale todos os sacrifícios”.

SENSO DRAMÁTICO – Em 1930, Manuel Bandeira lembra seu primeiro encontro com o artista: “Uma das mais fortes e curiosas exposições de arte que já vi foi improvisada num bar, depois da meia-noite”. E Carlos Drummond de Andrade o descreve como “pesquisador da noite moral sob a noite física.”

Todo esse reconhecimento nunca trouxe dinheiro a Goeldi. Avesso aos malabarismos dos artistas que se dizem de esquerda enquanto cortejam os ricos, o governo e suas verbas – Portinari era a encarnação de tudo o que mais desprezava -, Goeldi viveu pobre e sem se queixar. “A pobreza”, dizia, “é a minha liberdade.” Graças a ela, foi forçado a ilustrar livros para ganhar a vida. O que nos valeu, além das belas gravuras das edições de Dostoiévski, o magistral “Cobra Norato”, de Raul Bopp.

Seguro do que estava fazendo e de que, em seu individualismo, dizia o essencial, Goeldi nunca se importou com os modismos. “Hoje, temos toda a liberdade controlada por muita gente que tem medo de se julgar ultrapassada”, dizia.

Aceitava o abstracionismo – “Não sou polícia estética” – mas nele não encontrava encantos: “Nenhum quadro abstrato jamais provocará tanto impacto como “Os Fuzilamentos”, de Goya”, chegou a comentar. Seus desenhos e suas gravuras mostram que Goeldi teve razão em sua intransigência. São melhores que quase tudo o que se fez, aqui, na época. Como escreveu Alfred Kubin, Goeldi encontrou “a noite profunda de uma vida inteiramente realizada.”

(Fonte: Veja, 4 de novembro de 1981 – Edição n.° 687 – ARTE/ Por Marinho de Azevedo – Pág: 120/121)

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