Odylo Costa, filho (1914-1979), jornalista, ensaísta, poeta e membro da Academia Brasileira de Letra

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Odylo: a previsão da morte em quatro livros inéditos

Ele fazia questão de manter a grafia de seu nome

Odylo Costa, filho (1914-1979)
Jornalista, ensaísta, poeta e membro da Academia Brasileira de Letras.

Na quarta-feira, dia 22 de agosto, a secretaria do Petit Trianon começou a receber as inscrições de candidatos para a cadeira número 15 da Academia Brasileira de Letras. Qualquer que seja o vencedor, nas eleições em março de 1980, é quase certo que uma tradição será quebrada. A cadeira número 15 não será novamente ocupada por um poeta, como foi durante toda a história da Academia, do patrono, Gonçalves Dias, a Olavo Bilac, Amadeu Amaral, Guilherme de Almeida e Odylo Costa, filho.

O próprio Odylo, talvez tivesse preferido, ao de poeta, o título mais modesto de jornalista. Há nove anos, quando foi eleito para a Academia, resumiu sua carreira com esta preferência: “Em 1930, vim para o Rio de Janeiro. Com 16 anos, entrei para o Jornal do Comércio. Toda minha vida tenho sido jornalista. O que sou bom mesmo é repórter, embora nem toda gente saiba disso”.

Quem sabia disso, com toda certeza, eram os jornalistas que trabalharam sob seu comando, no Diário de Notícias, A Noite, Jornal do Brasil, Tribuna da Imprensa, revistas Senhor, O Cruzeiro, Realidade e Veja na qual Odylo foi diretor da redação carioca e membro do conselho editorial. Quem não conhecia a vocação jornalística de Odylo, maior que a de o ensaísta e de poeta? Provavelmente seus maiores admiradores, como Rachel de Queirós, que, em 1966, ao lado de Manuel Bandeira, insistiu para que ele reunisse em livro seus novos poemas. Odylo só tinha publicado um volume de poesia, o “Livro de Poemas de 1935”.

A MORTE PREVISTA – Passou trinta anos longe dos versos, até a morte de seu filho, Odylo Costa, neto, assassinado no Rio de Janeiro em março de 1963, por um menino de 15 anos. A dor de Odylo devolveu-o à poesia, além de o ter levado a combater o antigo SAM, com tanta veemência que acabou inspirando a criação da Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor (Funabem). Num comovido e comovente perdão público, Odylo desculpou o assassino, compreendendo-o como vítima de outro crime, as circunstâncias de sua vida.

Seu segundo livro, publicado em Lisboa, com o incentivo de Bandeira e Raquel, foi “Tempo de Lisboa e Outras Poesias” que, somado a “Arca da Aliança”, compôs, em 1971, “Cantiga Incompleta”, prêmios Casimiro de Abreu, Governo do Estado do Rio de Janeiro, PEN-Clube do Brasil e Poesia de Brasília. Os amigos acreditam que Odylo pressentiu a própria morte, tanto em conversas quanto em poemas. A previsão mais clara talvez esteja no ritmo de trabalho que ele impôs à sua poesia nos últimos tempos. Deixou quatro livros inéditos: “Boca da Noite”, “História da Beira do Rio”, “Anjos em Terra”, e “Os Meus Meninos e os Outros Meninos”.

POETA, POETA E POETA – Na quinta-feira que antecedeu sua morte, Odylo recebeu, pessoalmente, na sede da Academia Brasileira de Letras, o último elogio de seus poemas. Pela primeira vez, na história da Academia Brasileira de Letras, os originais de um livro foram apresentados e comentados na presença do autor. Afonso Arinos fez a leitura e o elogio de”Boca da Noite”: “É a mensagem final de um poeta”. Um dos seis maiores poetas brasileiros da atualidade, segundo Guimarães Rosa, que reagiu com entusiasmo incomum à leitura de “Tempo de Lisboa”: “Obrigado, Odylo, Lembra-se? Poeta, poeta e poeta!” E nenhum poeta, pelo menos por enquanto, considerou-se pronto para suceder Odylo, Nélson Rodrigues, o candidato mais cotado, não é poeta, como não são poetas Ariano Suassuna, Dinah Silveira de Queirós e dom Marcos Barbosa, outros prováveis ocupantes futuros da cadeira em que se sentava o poeta que escreveu, sobre os amigos e o amor: Antigamente não acreditava no outro mundo./Pelo menos tinha minha dúvidas…/Hoje creio simplesmente num outro mundo parecido com este:/ cadeiras, mesas, copo d’água/ e de novo nas tuas mãos, tuas cartas:/ Meus queridos…”/
(Fonte: Veja, 29 de agosto, 1979 – Edição n.° 573 – LITERATURA – Pág; 115)

Um jornalista imortal
EMPOSSADO: o jornalista, escritor e poeta Odylo Costa, filho, 55; como imortal da Academia Brasileira de Letras, no dia 24 de julho de 1970, na cadeira número 15, que tem como patrono o poeta maranhense Gonçalves Dias e teve como ocupantes Olavo Bilac, Amadeu Amaral, Guilherme de Almeida; os quais – no dizer de Odylo – “não foram apenas poetas, mas também jornalistas”, o que – como acrescentou em seu discurso – torna coerente a sua escolha para a acadeira n° 15; “com uma diferença entre nós: é que eles eram poetas que depois se tornaram jornalistas e eu sou jornalista que depois se tornou poeta”; disposto “ao convívio através do julgamento, da dimensão humana, da criação literária e do esforço para ser útil e fazer da imprensa um instrumento de cultura”; embora não pretendendo tomar o chá das 5 na Academia; nem simpatizando com os dourados do fardão oferecido pelo Governador José Sarney, do Maranhão (“parece que estou fantasiado de Mosteiro de São Bento”); mas afirmando-se favorável a entrada de mulheres na Academia, instituição que considera de uma importância fundamental; “porque ressalta no escritor a obrigação que ele tem para com as novas gerações”; recebido pelo acadêmico Peregrino Júnior, com espada entregue por Alceu Amoroso Lima e colar por Afonso Arinos.

(Fonte: Veja, 29 de julho, 1970 – Edição n.° 99 – DATAS – Pág; 71)

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