O primeiro rei da Inglaterra a abdicar a coroa

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O primeiro rei da Inglaterra a abdicar a coroa

Duque de Windsor, 1894-1972

3 de junho de 1937 – O Duque de Windsor, ex-rei Eduardo VIII da Inglaterra, se casou com a divorciada americana Wallis Simpson, por quem abdicou do trono em 1936.

Eduardo VIII do Reino Unido (23 de junho de 1894 – 28 de maio de 1972), foi monarca apenas durante dez meses e vinte e cinco dias. Viu-se forçado a abdicar apenas porque o seu casamento com uma norte-americana duplamente divorciada não era aceitável numa conservadora família real inglesa. Apesar da popularidade de que gozava entre os britânicos, Eduardo VIII abdicou da coroa, sendo o primeiro rei da Inglaterra a tomar tal decisão.
O título Duque de Windsor foi criado na aristocracia do Reino Unido em 1937 para o Príncipe Eduardo, antigo rei do Reino Unido, bem como cada um dos outros reinos da Commonwealth. O antigo Eduardo VIII abdicou em 11 de dezembro de 1936, para que ele pudesse casar com a americana divorciada Wallis Simpson, que se tornou duquesa de Windsor, mas sem ela nunca ter conseguido obter o direito de usar o tratamento de Sua Alteza. Tio da Rainha Elizabeth II, o duque de Windsor jamais colocou os pés em solo inglês, a não ser para ser enterrado.

O tempo passou por ele como se apenas o tocasse de longe, suavemente. Às vezes, o duque de Windsor estava à frente de sua época, principalmente até o dia em que renunciou ao trono do Reino Unido, pelo amor de uma divorciada, para escândalo dos eternos atrasados. Depois, e até a sua morte aos 77 anos, em Paris, o ex-rei Edward VIII foi ficando cada vez mais para trás. Rigorosamente, era um ser atemporal: não se deixava afetar pelas graves mudanças enfrentadas pelos seus contemporâneos, pois obedecia a um ritmo puramente interno e se esmerava em isolar seu destino do dos outros homens, desligado de tudo que não fosse sua vivência imediata. E viveu, como muitos outros, fora da corrente principal da História. Mas, diferentemente de quase todos, ele havia optado por essa condição marginal.

A sua atemporalidade reflete-se até mesmo nas suas contribuições à civilização. Elas só podem ser consideradas pouco importantes pelos que não conhecem a profunda necessidade humana de enfeitar a vida. O laço simples na gravata, no ponto em que ela começa a alargar-se, e o célebre padrão de casimira, inventados pelo então príncipe de Gales, guardam curiosamente a característica principal de seu criador. Nunca estão fora ou dentro da moda; não se relacionam com o tempo.

O princípio, Edward Albert Christian George Andrew Patrick David parecia avançado: assumiu todas as consequências da mudança do nome da família real britânica, em plena Primeira Guerra Mundial. A secular casa germânica de Saxe-Coburg-Gotha passara a ser a casa de Windsor, nome de uma das propriedades reais.

Severamente educado pelo pai, George V, filho da rainha Victoria, David, como a família o chamava, passou por Oxford sem causar grande impressão como intelectual, embora apagar-se propositadamente nesse domínio seja privilégio e quase dever da realeza. Seguiu o curso de oficial da Marinha e, na guerra, insistiu em aparecer na frente da batalha: “Que importa que eu morra? Tenho quatro irmãos”.

Visitava os mineiros desempregados de Gales sem o Rolls-Royce a que tinha direito. Jogava pólo, pilotava aviões, sofreu várias quedas de cavalos, para desgosto do primeiro-ministro Ramsay MacDonald. Hoje, o príncipe Charles é pára-quedista perito e o primeiro-ministro Edward Heath não se incomoda.

Em 1936, o rei Edward VIII preferia andar a pé a usar o Daimler real. Autorizou os guardas da Torre de Londres, os Beefeaters, a usar ou deixar de usar barba, como quisessem – e a barba Tudor só sobreviveu nos rótulos de garrafas de gim.

Dois anos antes, o solteirão Edward havia conhecido Wallis Simpson, uma americana que se divorciava do segundo marido. O quarentão, pela primeira vez em sua vida, sentiu a paixão, gratificada pelareciprocidade e, ainda por cima, não fugaz. Apenas os mandamentos da Igreja Anglicana e as tradições reais – não as leis – opunham-se ao casamento. Edward VIII, no entanto, como rei, era o chefe da Igreja Anglicana. E embora o fundador e primeiro chefe dessa Igreja, Henrique VIII, tivesse no século XVI rompido com Roma exatamente para casar-se com quem bem entendesse, o século XX parecia, nesse ponto, menos moderno.

Edward VIII acabou renunciando ao trono, em favor do irmão, George VI, pai de Elizabeth II. Nesse momento crucial de sua vida, ele contraditoriamente assinalou a sua distância do tempo. Estava à frente da sua época, ao casar com a mulher que amava; estava atrás ao renunciar ao grande desafio que poderia ter lançado.

E o primeiro e único duque de Windsor, título inventado especialmente para a ocasião, passou a viver no vazio. Apenas uma vez a nuvem de um escândalo passou sobre ele: às vésperas da Segunda Guerra Mundial, Edward recebera emissários de Hitler em Portugal. Talvez a imprudência do duque fosse apenas uma maneira de passar o tempo. Mas, de qualquer maneira, Churchill providenciou a sua nomeação para governador das Bahamas, onde ficou – sem se destacar como administrador excepcional – até a vitória, em 1945. Depois continuou longe da família, que negou à sua mulher o título de duquesa, forçando-a a se contentar com outro: o de uma das mulheres mais elegantes do mundo. Moravam numa casa alugada, no Bois-de-Boulogne, em Paris. Ocasionalmente, iam a Londres: o Claridge”s tinha aposentos permanentemente reservados para ele.

O duque foi deixando os dias passarem, cuidando apenas de organizar requintadas recepções aos amigos. O melhor chef-de-cuisine de Paris, dizia-se, trabalhava em sua casa. Aquele casal parecia ter conseguido suspender a vida. Nos últimos anos, sentindo talvez a solidão do vácuo hermético em que foram fechados, adotaram seis cachorrinhos, um deles chamado “Pompidou”, rebatizado “Pompom” quando o político homônimo se tornou presidente da França.

Um câncer na garganta levou o duque ao leito em 1971. A 18 de maio, o “tio David” recebia a visita da sobrinha Elizabeth II, pela primeira vez em 35 anos. Poucos dias depois, morreu. Seu caixão mereceu honras reais em Londres; Wallis, finalmente duquesa, foi convidada para o enterro do próprio marido, em Windsor. O acompanhamento teria apenas cem pessoas – conforme pedido do duque.

No último dia 3 de junho, fez 35 anos que eles se casaram. A vida aparentemente vazia do duque foi inteiramente preenchida pelo amor da mulher. Talvez ele tenha sido um privilegiado. Hoje, mesmo nos casais mais felizes, o homem e a mulher se preocupam profundamente com a sua “realização” – ou, no mínimo, com os filhos. O duque viveu apenas para o amor. O que é mais uma marca de sua atemporalidade.

(Fonte: www.guiadoscuriosos.com.br – 2 de junho de 2011)
(Fonte: Veja, 7 de junho, 1972 – Edição 196 – INTERNACIONAL/ Inglaterra – Pág; 40/41)
(Fonte: Veja, 30 de abril, 1986 – Edição 921 – INTERNACIONAL/ Inglaterra – Pág; 50)

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