Nara Leão, registrou seu nome na história da MPB como a intérprete e eterna musa da Bossa Nova

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Nara Leão (Vitória, 19 de janeiro de 1942 – Rio de Janeiro, 7 de junho de 1989), registrou seu nome na história da MPB como a intérprete que abriu caminhos para Chico Buarque, Martinho da Vila, Edu Lobo, Paulinho da Viola e Fagner, entre outros, e, como a eterna musa da Bossa Nova dos anos 60. Com a mesma voz de menina mansa, que soava íntima ao ouvinte, Nara cantou de tudo, mas sempre foi a mesma.

“Nara fazia tudo a sério”, lembra Danusa Leão, irmã da cantora. Por “a sério” não se entenda sisudez, e sim aplicação, tenacidade. Na vida pessoal, que protegeu ciosamente, Nara cultivou a mesma gravidade. Casou com o cineasta Carlos Diegues, ficaram juntos por onze anos e tiveram dois filhos, Isabel e Francisco. Os filhos nasceram em Paris, onde o casal se refugiou na virada dos anos 60, quando o ambiente político no Brasil ficou intolerável. De volta ao Brasil, abandonou a carreira, parou de cantar para se dedicar a criar Isabel e Chiquinho. “Foi só quando eles ficaram maiorzinhos, e entraram naquela fase de subir nas coisas, que achei melhor fazer outra coisa”, explicou depois.

Aos 33 anos, fez vestibular, foi aprovada e virou aluna de Psicologia na PUC carioca. Como de hábito, levou o estudo a sério: não faltava às aulas, tirava 10 na maioria das matérias e só não completou o curso, parando no último ano, porque a doença não deixou.

IRMÃS – Parou para viver em Paris, parou para ter os filhos, parou para estudar Psicologia. “Não estou querendo ficar milionária nem ser a pessoa mais famosa do mundo, mas não sei por que cargas-d”água eu paro de cantar, vou fazer outras coisas e, quando volto, ainda tenho público”, disse.

Em junho de 1979, Nara teve uma vertigem no banheiro de seu apartamento, perdeu a consciência, caiu e machucou-se. Depois de exames inconclusivos e diagnósticos conflitantes, descobriu-se que ela tinha um tumor no cérebro. Foi tratada com cortisona, engordou vários quilos, e de vez em quando padecia de perda de memória, tonturas e mal-estar. Se antes já tratava a saúde, esmerou-se ainda mais. Andava no calçadão do Leme, não bebia e virou vegetariana: “Mesa farta, feijão, verdura, ternura e paz”, como ela cantou.

Nara não entregou os pontos. Fez turnês no Brasil e no Japão. No início do ano, estava numa boa fase. Namorava o oceanógrafo da Marinha Marco Antonio Bompet, terminou a gravação de seu derradeiro disco e fez shows. Não gostava que lhe perguntassem do tumor, não se queixava da doença, disfarçava.

O Brasil perdeu dia 5 de junho de 1989, uma artista excepcional, uma mulher bela como o barquinho a deslizar no macio azul do mar. Aos 47 anos, a cantora Nara Leão morreu na clara manhã carioca, vítima de complicações respiratórias provocadas por um tumor cerebral que se manifestou pela primeira vez há dez anos. Com a morte de Nara o canto suave se cala, a audácia estética cessa e se esvanece a inquietude existencial. Não mais os joelhos míticos, nunca mais o cabelo de corte chanel, para sempre perdido o sorriso meigo.

Mas o que fica de Nara é muito mais. Fica algo como o que o poeta inglês W. H. Auden escreveu sobre outro poeta, o irlandês W.B. Yeats: o canto da mulher morta se modifica nas vísceras dos vivos.

Fica de Nara uma obra translúcida em 23 LPs que mapeiam a MPB inteira, fica um punhado de interpretações geniais, fica uma arte singela que acalenta e modifica quem ela se aproxima. As coisas estão no mundo, só que é preciso aprender. As coisas estão nos discos de Nara.

Com a morte da atriz Dina Sfat, em março, de câncer, ficou abatida. Recuperou a graça pouco depois, ensaiava uma versão de Aquarela do Brasil em inglês, mas, na sexta-feira dia 19 de maio, passou mal e foi internada na Clínica São José. Danusa tentou outros caminhos, mas já não havia o que fazer. O tumor tinha mais de 4 centímetros, era inoperável, rádio e quimioterapia não faziam efeito.

Nos últimos tempos, Nara vinha recorrendo a um paranormal, um certo “doutor Odilon”, de Petrópolis, Depois de negociar, Odilon prometeu não só atendê-la como também salvá-la da morte. Fazia questão, no entanto, de examiná-la fora do hospital. A família concordou, e a atriz Marieta Severo cedeu sua casa para que, transportada em ambulância, Nara pudesse ser atendida por Odilon. O paranormal cancelou a “consulta” no último momento. Na segunda-feira, dia 5 de junho, Nara entrou em coma. Com Danusa ao lado, morreu na manhã de quarta-feira, dia 7 de junho de 1989. Foi desfeita e dor a dupla das irmãs que, tão diferentes, se tornaram emblemas de um Rio e de um país que não há mais: a Danusa extrovertida, festeira e noctívaga e a Nara encabulada, encasulada e matutina dos anos 60. Só depois do enterro, Danusa encontrou numa bolsa de Nara um documento em que a cantora autorizava a doação de seus olhos quando morresse. Nara vai, a tardinha cai.

(Fonte: Veja, 14 de junho, 1989 – Edição 1083 – DATAS – Pág; 112)

Em 9 de abril de 1986 – Garota de Ipanema, de Nara Leão em parceria com compositor e violonista Roberto Menescal, foi o primeiro disco em formato CD lançado no Brasil.

(Fonte: http://www.guiadoscuriosos.com.br/fatos_dia – 9 de abril)

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