Moshé ben Maimon ou Maimônides, influenciou pensadores do porte de Tomás de Aquino, Inácio de Loyola

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Maimônides: médico do século XII

Moshé ben Maimon (1135-1204), ou Maimônides, como se tornou conhecido o rabino espanhol.

Teólogo, filósofo, médico e jurista, que consumiu sua existência – viveu entre 1135 e 1204 – na tentativa de iluminar a essência do judaísmo, o espanhol Maimônides influenciou pensadores do porte de Tomás de Aquino, Inácio de Loyola e Roger Bacon.

Com Os 613 Mandamentos, sua obra mais importante, Maimônides pode não ter respondido àquela questão milenar do judaísmo – “o que era ser judeu” – mas com certeza conseguiu dizer o que seu povo precisava fazer para continuar sendo judeu.

CRISE DE IDENTIDADE – Ao desembarcar no Egito para trabalhar e continuar seus estudos, Maimônides – então um respeitado médico de 31 anos de idade – já tinha como sua principal preocupação a crise de identidade pela qual passavam os judeus. Expulsos de Israel pelos romanos, olhados com ódio pelos cristãos e mantidos sob suspeita pelos muçulmanos, os judeus do Egito não tinham nenhum acesso à cultura, de modo geral, e às bibliotecas e aos manuscritos, em particular (a técnica da imprenssão só surgiria três séculos depois).

Para a grande maioria dos judeus do Cairo, era impossível compreender os milhares de textos que comentavam o Talmude – a doutrina da lei contida nos primeiros cinco livros do Antigo Testamento, redigidos 2 500 anos antes pelos sábios em todos os estilos que se possa imaginar. Diante do perigo de ver sua comunidade esfacelada, Maimônides abandonou definitivamente a medicina para se dedicar à tarefa de tecer com clareza e simplicidade os fios capazes de garantir a difusão dos mandamentos sagrados. Para ele, era um milagre que a massa, totalmente ignorante, continuasse a se considerar judia com base apenas na tradição oral.

Os 613 Mandamentos resume com simplicidade os princípios que mantiveram a unidade dos judeus, que se arrasta há milênios – o de um povo em busca de sua essência, valendo como guia indispensável, mesmo que muitos de seus preceitos já não possam ser aplicados literalmente nos dias atuais.

Escrito em árabe no decorrer de dez anos, Os 613 Mandamentos é uma codificação ordenada dos preceitos contidos no Antigo Testamento – que está longe de poder chamar a atenção apenas de judeus. Para explicar as leis sagradas, Maimônides se valeu de um esquema do tipo “faça” e “não faça”, deixando de lado, pela primeira vez numa obra do gênero, todas as “discussões” e “interpretações”, comuns entre os comentaristas clássicos.

Em seu livro, ele apresenta 248 “mandamentos positivos”, número correspondente aos membros do corpo humano conhecidos na época, e 365 “proibições” – uma para cada dia do ano solar. Não há uma ordenação hierárquica – todos os mandamentos, segundo Maimônides, estão no mesmo nível. Assim, o fiel deve, com a mesma fé, jurar em nome de Deus quando está dizendo a verdade, pagar salários em dia, dar graças depois das refeições ou aceitar a decisão da maioria.

Do mesmo modo, não lhe é dado emprestar dinheiro a juros, cobrar dívida de alguém incapaz de pagá-la ou participar de qualquer tipo de magia. Esta maneira simples e objetiva de apresentar os mandamentos sagrados conquistou para Maimônides a ira dos rabinos tradicionalistas, o que não parecia preocupá-lo. Maimônides escreveu Os 613 Mandamentos menos por ímpetos intelectuais do que por se sentir obrigado a dar uma resposta às carências sociais de seu povo.

(Fonte: Veja, 18 de julho de 1990 – ANO 23 – N° 28 – Edição 1139 – LIVROS/ Por Alessandro Porro – Pág: 88)

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