Milorad Pávitch, autor sérvio é um dos que tomou para si a missão de criar obras não-convencionais

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Milorad Pávitch, o engenhoso

Milorad Pávitch (15 de outubro de 1929 – 30 de novembro de 2009), professor de literatura, o autor sérvio é um dos que tomou para si a missão de criar obras não-convencionais.

Praticamente todos seus textos optam por inovações técnicas de modo a tornar o leitor mais do que mero receptor, mas uma espécie de co-autor, ao decidir quais caminhos prosseguir na leitura.

O primeiro dos romances de Pávitch, “O Dicionário dos Kazares” não escapa desta proposta. Neste romance, Pávitch narra a história dos Kazares, um povo que teria vivido entre os séculos oitavo e décimo na região do Cáusaco, e da mítica conversão deles a uma das três grandes religiões basilares: o cristianismo, o islamismo, ou o judaísmo.

Apesar de não haver um enredo definível, o livro é composto de três grandes partes, nas quais os Kazares são investigados, através de verbetes como duma enciclopédia, à luz destas grandes religiões, e em cada uma destas partes temos a defesa da conversão às respetivas religiões.
Deste modo, o leitor pode transitar entre as três versões desta enciclopédia, comparando verbetes cruzados, como no caso de Kazares, ou Ateh.

O estilo de Pávitch é bastante alegórico e, por vezes, surrealista. Há profundas referências ao mundo dos sonhos e ao universo simbólico, por vezes recaindo em metáforas de difícil apreensão.

Este autor desenvolveu outras obras ergódicas, como “Paisagem Pintada com Chá” composta em forma de palavra-cruzada, “O Lado de Dentro do Vento” que pode ser lido tanto do começo ao fim quanto de trás para frente, “Último Amor em Constantinopla” que possui capítulos numerados de acordo com as cartas de tarô e sugere ao leitor que jogue as cartas para saber qual capítulo ler. Mesmo os contos dos autor disponíveis online seguem esta orientação, cabendo ao leitor escolher os rumos da história através de hiperlinks (forma conhecida como hiperficção).

A grande contribuição de Milorad Pávitch reside justamente neste ímpeto em renovar e explorar os limites da literatura, e encontrar alternativas criativas para compôr algo interessante, não apenas em conteúdo, mas também formalmente.

Milorad Pávitch morreu em 30 de novembro de 2009, aos 81, vítima de insuficiência cardíaca.

(Fonte: Veja, 21 de novembro de 1990 – ANO 23 – N°47 – Edição 1 158 – LIVROS/ Por Rinaldo Gama – Pág; 95)
(Fonte: http://www.revistasamizdat.com/2009/02/mirolad-pavitch-o-engenhoso – Milorad Pávitch, o engenhoso/ por Henry Alfred Bugalho – 4 de março de 2009)

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