Miguel Gustavo, cultivava a alegria ostensiva da piada e a paixão secreta da paródia.

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Miguel Gustavo (1922-1972), compositor, jornalista e radialista carioca. Ao lado dos jingles e slogans que o tornaram famoso na publicidade (“Ai, Tatu/ Tatuzinho/ me abre a garrafa/ me dá um pouquinho”, ou o “Príncipe veste hoje o homem de amanhã”), (“Avante Brasil”); o carioca Miguel Gustavo cultivava a alegria ostensiva da piada e a paixão secreta da paródia. Miguel Gustavo costumava definir-se como uma pessoa triste de aparência alegre: “Ando assobiando, olhando a chamada vitrina da vida”. Dedicava-se escondido a paródias obscenas, cujos originais só mostrava aos amigos íntimos. Entre essas obras de seu espírito brincalhão figura uma paráfrase completa de “Os Lusíadas”, em que, em vez de bravuras náuticas, fala de bravuras eróticas.

Na caixa de fósforos – Desde menino assistia às rodas de batucada no morro do Salgueiro, próximo da casa de uma sua tia. O ritmo dos surdos e tamborins levou-o a tentar o acompanhamento batendo numa caixa de fósforos, e esse foi, afinal, o único instrumento que conseguiu aprender em toda a vida. Com seu assobio e a caixa de fósforos tornou-se compositor de sambas de breque, um velho gênero explorado nos anos 40 pelo cantor Moreira da Silva, que ele renovou na década de 50. Seu primeiro grande sucesso: “Doutor em anedota/ E de champanhota/ Estou acontecendo no café-society…”

Nos últimos anos, a atividade de Miguel Gustavo como compositor perdeu um pouco do antigo ímpeto. Mas em 1970, durante a Copa do Mundo, sua marcha “Pra Frente, Brasil” transformou-se numa espécie de hino ao otimismo nacional. Miguel Gustavo, que em outubro daquele ano ganharia pelo sucesso de sua marcha o troféu Golfinho de Ouro, do Museu da Imagem e do Som da Guanabara, disputando com o legendário sambista Nélson Cavaquinho, teve então mais uma oportunidade de sorrir diante das surpresas da chamada “vitrina da vida”. O autor da quase oficial marchinha “Pra Frente, Brasil”, transformada em música do partido do governo (“Arena pra Frente”), era o mesmo que, dez anos antes, ajudara a eleger um vice-presidente com o jingle “É Jango, é Jango/ é Jango Goulart”. Miguel Gustavo morreu no dia 22 de janeiro de 1972, de um tumor na laringe, na Casa de Saúde São José, Guanabara, aos 49 anos.

(Fonte: Veja, 26 de janeiro, 1972 – Edição n.° 177 – Personalidade – DATAS – Pág; 22 e 68)

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