Marlene Dietrich, a atriz que transformava personagens extravagantes em furacões de sensualidade

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Marlene Dietrich era conhecida por suas joias incríveis (Foto: Reprodução)

Marlene Dietrich era conhecida por suas joias incríveis (Foto: Reprodução)

 

 

A grande dama do glamour

Marlene: “Feminismo é um conceito extremamente enfadonho”

Marlene Dietrich (Berlin-Schöneberg, em 27 de dezembro de 1901 -– Paris, 6 de maio de 1992), a atriz que transformava personagens extravagantes em furacões de sensualidade.

 

Nunca foi difícil para Hollywood contratar atrizes bonitas e transformá-las em divas, musas, deusas da tela. Nunca foi fácil para Hollywood construir esses ídolos com atrizes estrangeiras. Quando a alemã Marlene Dietrich chegou às telas americanas em 1930 em “O Anjo Azul”, no papel de uma cantora de cabaré, não foi preciso carpintaria estelar ou estratégica de marketing – ela imediatamente conquistou seu posto entre os mitos do cinema. Pelo seu tipo exótico para os padrões americanos, muita gente apostaria contra ela na bolsa do sucesso.

 

Nunca se tinha visto uma diva com voz grave e meio rouca, jeito de vedete e traços faciais oblíquos. Ela não tinha a volúpia de Rita Hayworth (Nova York, 17 de outubro de 1918 – Nova York, 14 de maio de 1987), o talento de Bette Davis (Lowell, 5 de abril de 1908 – Neuilly-sur-Seine, 6 de outubro de 1989), ou o charme de Ava Gardner (Grabtown, 24 de dezembro de 1922 – Londres, 25 de janeiro de 1990). Também não seduzia pela pose de semideusa intocável da outra estrangeira que vencera no cinema americano, a sueca Greta Garbo (Estocolmo, Reino da Suécia e Noruega, 18 de setembro de 1905 – Nova York, 15 de abril de 1990). O que tinha, então, Marlene Dietrich?

 

Marlene esbanjava como nenhuma outra atriz do cinema, em qualquer época, uma qualidade exclusivamente feminina, impossível de se definir, mas que se reconhece em segundos – glamour. Em “O Anjo Azul”, quando sua Lola Lola destrói e leva à ruína o pobre professor Unrat, sua verdadeira ferramenta não é o desprezo, mas o encanto que deixa sua vítima indefesa. Na maioria de seus filmes mais conhecidos, como “A Marca da Maldade”, “O Expresso de Xangai” e “Cigana Feiticeira””, Marlene foi brindada por Hollywood com personagens extravagantes: ciganas, cafetinas, prostitutas chinesas, cantoras de cabaré. Diante desses papeis, seria muito fácil para uma atriz, mesmo de talento, resvalar para a vulgaridade, para o apelo sexual rasteiro. Em todos eles, Marlene, que não se conta entre os grandes talentos do cinema, usou de seu glamour para fazer cenas inesquecíveis.

 

NAZISMO – Marlene Dietrich vaidosa da própria mocidade, não se deixava fotografar. Vivia reclusa, mas vez por outra concedia entrevistas. Depois de atravessar um século quase inteiro, assistindo o desfile de duas guerras mundiais, ascensão e queda do comunismo, o rito do Terceiro Reich e todas as outras convulsões que caracterizaram o período, parecia um pouco entediada no fim da vida. “O que significam para a senhora o feminismo, a igualdade de direitos, as emancipação da mulher?”, perguntou-lhe um repórter alemão. “Conceitos extremamente enfadonhos”, ela devolveu. Nos anos 50, Marlene começou a trocar gradualmente o cinema pelo palco, apresentando shows em que encarnava na vida real as cantoras de cabaré que viveu nas telas.

 

A grande consagração de Marlene Dietrich como cantora, no entanto, não foi em teatros, mas diante das tropas aliadas durante a II Guerra Mundial. Fez mais de 500 shows para soldados em território europeu ao longo de três anos. Quando o nazismo tomou o poder na Alemanha, Marlene já vivia e brilhava nos Estados Unidos. Pouco depois de começada a II Guerra Mundial, contrariando os conselhos de Joseph Goebbels, o ministro da Propaganda do regime, que não simpatizava com a atriz, Hitler enviou a ela um telegrama. Convidava-a a voltar à Alemanha e tornar-se a grande estrela artística do império que surgiria.

 

Marlene, que tinha pavor ao nazismo, e que ascendera no cinema pelas mãos de um diretor judeu, Josef von Stemberg – o de “O Anjo Azul” -, ignorou o telegrama e naturalizou-se americana. Por ironia, o maior sucesso musical de sua carreira, Lili Marlene, era a canção mais popular entre os soldados alemães durante a guerra. Com os shows que a atriz passou a apresentar para as tropas aliadas, Lili Marlene também se tornou popular entre elas. Embora fosse namoradeira em Hollywood, Marlene casou-se apenas uma vez, com o produtor de cinema Rudolph Sieber, e teve uma filha, Maria. Esta lhe deu quatro netos. Foi um deles, Pierre Riva, que a encontrou morta, de pneumonia, aos 90 anos, em seu apartamento, todo decorado com as lembranças de uma carreira luminosa, em Paris, onde morava havia duas décadas.
(Fonte: Veja, 13 de maio de 1992 -– ANO 23 -– N° 10 – Edição 1234 -– Datas -– Pág; 87 –- Memória/ Pág; 82)

 

 

 

 

 

Agraciada: a atriz Marlene Dietrich, setenta anos (“O Anjo Azul”, 1929), com a Legião de Honra da França, no grau de cavaleiro, dia 27 de março de 1972, em Paris, recebendo as insígnias das mãos do presidente Georges Pompidou, que relembrou os serviços prestados à França pela homenageada durante a Segunda Guerra Mundial (Marlene é alemã, mas cantou para os soldados franceses).

(Fonte: Veja, 5 de abril de 1972 -– Edição 187 -– Datas –- Pág; 48)

 

 

 

 

 

 

 

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