Luca Ronconi, considerado um dos maiores renovadores do teatro contemporâneo da Itália

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Luca Ronconi (Tunísia em 1933 – Milão, 21 de fevereiro de 2015), diretor, encenador teatral, considerado um dos maiores renovadores do teatro contemporâneo da Itália

Nascido na Tunísia em 1933 e naturalizado italiano na década de 1950, Ronconi se tornou, ao longo dos anos 1970 e 1980, um dos artistas mais ousados do teatro da Itália, e hoje pode ser comparado em importância a nomes referenciais do teatro mundial, como o inglês Peter Brook, a francesa Ariane Mnouchkine e o americano Robert Wilson.

Doutor Honoris Causa por quatro universidades italianas, Bolonha (1999), Perugia (2003), Urbino (2006) e Veneza (2012), Ronconi conquistou, em 2012, o Leão de Ouro da Bienal de Teatro de Veneza pelo conjunto das suas realizações teatrais, iniciadas em 1963 com a montagem de “La Buona Moglie”, de Carlo Goldoni. Desde o início da sua trajetória, levou aos palcos italianos e das principais capitais europeias 110 montagens, muitas delas inspiradas em clássicos do teatro grego e italiano.

 

A maior parte das suas criações foram produzidas e apresentadas nas três grandes cidades italianas em que viveu, Turim, Roma e Milão. Ronconi foi diretor do teatro Stabile de Turim, entre 1989 e 1994, e do Teatro de Roma, entre 1994 e 1998, e assumiu, em 2000, a direção geral do Piccolo Teatro de Milão, considerado um dos mais importantes palcos italianos.

 

Foi à frente do Piccolo que ele esteve no Brasil, em 2002. Em junho daquele ano, Ronconi trouxe ao Municipal do Rio a peça “Arlecchino, servitore di due padroni”, outro clássico de Goldoni, que foi encenado conforme as marcações originais de outro mito do teatro italiano, Giorgio Strehler (1921-1997), o fundador do Piccolo de Milão.

 

Ao longo da carreira, Ronconi se dedicou a investigar o trabalho do ator, assim como pesquisou a encenação em espaços teatrais não convencionais. Nem por isso, deixou de criar e produzir óperas e montagens em teatros tradicionais, a partir de textos clássicos. A desenvoltura com que trafegava entre a experimentação e a tradição foi uma de suas marcas. Ronconi dizia que gostava de frequentar não só os dois lados, o ambiente alternativo e o das grandes instituições de arte, mas habitar as margens, as zonas indefinidas entre um e outro. Não foi por acaso que Ronconi intitulou de “À margem” uma pesquisa desenvolvida por ele, entre 1976 e 1978, focada na encenação de espetáculos em lugares não convencionais.

Marco inicial da sua inquietação cênica foi a montagem de “Orlando furioso”, de 1969, que permitia ao espectador se locomover no espaço, ao longo da encenação.

“Com “Orlando furioso” eu vi a possibilidade de romper com a sintaxe teatral que me sufocava”, lembrou o diretor ao GLOBO. “O teatro tradicional não reconhece o espectador como um ser ativo, mas ele tem direito à sua liberdade. Às vezes, faço peças muito longas e alguém vai embora. Ele tem direito a ir embora e nem por isso não gostou. É como ler um livro, posso deixá-lo de lado e depois voltar a ele. Não me interessa o espectador que vai ao teatro para ver o que já conhece. Quero que se surpreenda e que veja a peça como experiência”.

Provocador, ele causou polêmica em 2002 com a encenação de “As rãs”, de Aristófanes, onde usava como pano de fundo, em uma das cenas, uma série de caricaturas do premier italiano Silvio Berlusconi.

Das várias grandes produções que dirigiu destacam-se as óperas “Carmen” (1970), “Nabuco” (1977), “La Traviatta” (1982) e “Aida” (1985). Entre seus principais prêmios, Ronconi conquistou o VI Premio Europa de Teatro e o prestigiado UBU Prize por montagens como “Progetto Sogno” (2000), “Lolita” (2001), “Infinities” (2002), “Professor Bernhardi” (2005), “Progetto Domani” (2006) e “Panic” (2013). Recentemente, conquistou o Premio Nazionale della Critica por “Progetto Lagarce” e estava em cartaz no Piccolo, desde janeiro, com a montagem de “Lehman trilogy”, de Stefano Massini.

Luca Ronconi morreu em 21 de fevereiro de 2015, aos 81 anos. O encenador estava internado há alguns dias num hospital em Milão, por conta de uma pneumonia, e acabou não resistindo por “complicações relacionadas ao quadro”, informou a imprensa local.

Em reação à sua morte, o primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, qualificou Ronconi como “um grande visionário” e “um grande protagonista da vida cultural e cívica do país”, um artista capaz de “mergulhar na alma humana, com força e profundidade”.

Já o ministro da Cultura da Itália, Dario Franceschini, definiu-o como “um grande nome do teatro, que inovou com coragem e paixão durante mais de 50 anos”.

 

 

 

(Fonte: http://oglobo.globo.com/cultura -15406334 – CULTURA/ POR LUIZ FELIPE REIS – 22/02/2015)

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