Liston (1932-1971), ex-campeão mundial de pesos pesados Charles “Sonny” Liston.

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Liston (1932-1971), ex-campeão mundial de pesos pesados Charles “Sonny” Liston. Grande e forte desde criança (os colegas na escola brincavam com ele por ser grandalhão), marcou toda a sua vida difícil com o físico privilegiado. Sua mãe – que lhe deu o carinho do apelido “Sonny” (“filhinho”), muito usado pelas mães negras americanas, o único traço de delicadeza em sua aparência de força bruta – era responsável por uma família de pobres lavradores de Arkansas, no total de 25 pessoas. Foi ao acompanhá-la a St. Louis, quando a família trocou o trabalho no campo pela cidade, aos treze anos, que “Sonny” Liston descobriu a possibilidade de usar a força dos músculos em benefício próprio: assumiu a liderança dos rapazes do bairro e formou uma quadrilha de assaltantes juvenis. Em pouco tempo estava preso na penitenciária de Joffer City, de onde sairia para tornar à cadeia aos dezoitos anos – já agora para a prisão do Estado de Missouri – acusado de agressão a mão armada. Quando cumpria essa pena, “Sonny” Liston encontrou no capelão encarregado da assistência espiritual dos detentos, o padre Murphy, o seu primeiro benfeitor. O capelão compreendeu que, na impossibilidade de domar o gigante, era preciso orientar a sua força para o lado certo, e o encaminhou ao boxe.

Quando foi libertado, em 1953, “Sonny” Liston pode tornar-se profissional do boxe. Em oito anos de carreira, após 34 lutas e 33 vitórias (24 das quais por nocaute) chegava a campeão do mundo a 25 de setembro de 1962 liquidando com um nocaute outro gigante, Floyd Patterson, em apenas dois minutos e seis segundos de luta. Confirmada a posição de campeão com nova vitória sobre Patterson, menos de um ano depois, perante 7 816 espectadores, em Las Vegas, Liston ia ter um outro reinado. No dia seguinte à revanche com Patterson seus empresários contratavam nova luta para defesa do título com um estranho personagem em ascensão no mundo do boxe: um jovem negro que se dizia poeta, possuía preocupações religiosas e metafísicas e se chamava Cassius Clay. Cinco meses depois, Clay o derrotava em seis assaltos (Liston não voltou para o sétimo, por causa de uma contusão no ombro).

Houve uma segunda luta e nela Liston sofreu uma derrota tão sensacional quanto fora sua conquista do título. Desacreditado por essa queda, em apenas um minuto de luta, Charles Liston entrou em decadência. No início de 1969, ainda pretendeu a reconquista do título, ajudado pelo cantor Sammy Davis Jr., para quem “Liston” só precisa de apoio financeiro e moral”. De fato, Liston chegou a vencer o estreante Henry Clark em São Francisco, aos dois minutos e 45 segundos, chegando a ser recolocado entre os dez melhores pesos pesados do mundo, e ganhando da revista “Ring Magazine” o título de “Lutador do Ano”. A quem o procurava então no isolamento da sua casa de Las Vegas, perto do Clube de Golfe Stardust, “Sonny” Liston, como um gigante enfim pacificado, dizia apenas: “O que eu quero agora é ser feliz. Quero continuar lutando, mas sem ferir ninguém nem ser ferido”. Mas aos 37 anos era um pouco tarde. “Sonny” Liston parava de lutar e, em novembro de 1970, sofria um desastre de automóvel que o levaria ao hospital dias depois, com forte dores no peito.

No início de janeiro, voltando da casa de sua mãe, onde fora passar as festas de fim de ano, a mulher do lutador encontrou-o morto, caído de costas, vestido de calção e camiseta. As primeiras investigações da polícia levavam à morte em consequência do desastre de novembro, ou por efeito de drogas. O que ficou fora de qualquer dúvida, porém, foi a hipótese da violência: o revólver do ex-sentenciado que só queria ser feliz estava embrulhado, sem uso, em cima da mesa de cabeceira. “Sonny” Liston morreu misteriosamente, em sua casa de Las Vegas (o corpo foi encontrado dia 5 de janeiro de 1971 pela esposa Geraldine), aos 38 anos.

(Fonte: Veja, 13 de janeiro, 1971 – Edição n.° 123 – DATAS – Pág; 62)

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