Letizia Battaglia, icônica fotojornalista italiana que ficou conhecida por registrar a máfia siciliana por décadas

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Letizia Battaglia, fotógrafa pioneira que desafiou a máfia

Fotos retratavam não apenas as mortes violentas, mas também a pobreza causada pela organização criminosa

Pioneira no noticiário policial, a artista dizia ter tirado mais de 600 mil fotos entre as décadas de 1970 e 1990

Letizia Battaglia (Palermo, 5 de março de 1935 – Palermo, 13 de abril de 2022), fotógrafa que registrou a máfia da Sicília, era uma fotógrafa de renome mundial cujo trabalho corajoso documentando o domínio da máfia em sua terra natal, a Sicília, foi ao mesmo tempo assustador e pungente, fotografou as brutais guerras da máfia dos anos 1980 e 1990, mostrando assassinatos políticos e cadáveres em poças de sangue nas calçadas ou abandonados ao lado de uma estrada rural.

 

Ativista que trabalhou para salvar os bairros barrocos mais antigos de Palermo de incorporadoras imobiliárias, ela defendeu os direitos das mulheres e várias vezes atuou no conselho da cidade de Palermo e na assembleia regional da Sicília nas décadas de 1980 e 1990.

 

Nascida em março de 1935 em Palermo, Battaglia ganhou destaque ao fazer da cidade siciliana o objeto de sua arte. Ela foi a primeira repórter fotográfica da Itália a cobrir o noticiário policial, e durante 30 anos suas lentes revelaram o terror causado pela máfia local.

A fotógrafa começou sua carreira em 1969 no jornal italiano “L’Ora” e colaborou com as mais importantes agências de notícias do mundo. Foi ela quem primeiro fotografou a cena do crime de Piersanti Mattarella, morto pela máfia em 6 de janeiro de 1980, na via Libertà em Palermo, em frente à casa do governador da Sicília. Na imagem aparece um jovem Sergio Mattarella – atual presidente da Itália – tentando tirar seu irmão do carro.

 

Ela era igualmente famosa por fotos que retratavam o impacto da máfia sobre os sicilianos, de um menino brincando de “assassino” usando uma meia de nylon sobre o rosto e segurando uma arma de brinquedo para uma viúva de luto de uma vítima da máfia em um funeral.

“Fiz o que pude para abalar as consciências, mostrando não apenas as mortes violentas, mas também a pobreza causada pela máfia”, disse Battaglia certa vez.

 

Entre seus outros trabalhos, Battaglia documentou o que os italianos chamavam de “Sicilia bene”, o mundo da alta sociedade de sua ilha natal, compreendendo os ricos e influentes, cujos membros muitas vezes tinham ligações com a política e o crime organizado.

 

Seus arquivos de mais de meio milhão de fotos eram tão extensos que os investigadores da polícia uma vez os consultaram em busca de evidências de quem havia participado de um comício político décadas antes. Eles faziam parte do que ela uma vez chamou de “um arquivo de sangue”.

 

Entre o final da década de 1980 e o início de 1990, ela entrou na política e tornou-se secretária de cultura pelo Partido Verde. Ao longo de sua carreira, a italiana conquistou inúmeros prêmios, incluindo o Eugene Smith, o Erich-Salomon Preis, em 2007, e o Cornell Capa Infinity Award, em 2009.

 

Uma mulher no que era tradicionalmente um mundo masculino, ela realizou inúmeras exposições individuais e foi tema de vários documentários de cinema, incluindo o “Shooting the Mafia” de 2019 do cineasta britânico Kim Longinotto.

 

Ainda conquistou prêmios na área de fotografia, tais como Erich-Salomon Preis, em 2007, e o Cornell Capa Infinity Award, em 2009.

 

Em 2016, após anos de negociações com autoridades locais, Battaglia conseguiu criar um Centro Internacional de Fotografia em Palermo, para promover exposições e oficinas, além de abrigar o arquivo fotográfico da cidade.

Letizia Battaglia faleceu na capital siciliana Palermo na noite de 13 de abril de 2022, aos 87 anos.

“Ela documentou as atrocidades da máfia muito antes de ser popular ou seguro fazê-lo”, escreveu Alexander Stille, autor de “Excellent Cadavers”, um livro de referência sobre a máfia, na New York Review of Books em 1999.

“Palermo perde uma mulher extraordinária, um ponto de referência”, disse Leoluca Orlando, atual prefeita da capital siciliana e colega reformista antimáfia quando ocupou o mesmo cargo durante as mais ferozes guerras de clãs, três décadas atrás.

“Letizia Battaglia era um símbolo reconhecido internacionalmente, uma porta-bandeira no caminho da libertação da cidade de Palermo do governo da máfia”, disse.

(Fonte: https://www.terra.com.br/diversao/arte-e-cultura – DIVERSÃO / ARTE E CULTURA / por ANSA – 13 abr 2022)

(Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br/estilo – ESTILO / por Philip Pullellada / Reuters – 14/04/2022)

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