Leonid V. Kantarovich, matemático e economista do governo soviético, laureado com o Prêmio Nobel.

Kantarovich: ideias suspeitas

Leonid V. Kantarovich (São Petersburgo, 19 de janeiro de 1912 – Moscou, 7 de abril de 1986), matemático e economista do governo soviético indicado e empenhado exclusivamente para estudar os trabalhos de Tjalling C. Koopmans (1910-1985), com quem dividiu o Prêmio Nobel de Economia de 1975.

Tal diferença e a incompatibilidade entre os dois regimes econômicos de seus países, igualmente, não impediu que os dois cientistas – escolhidos em outubro para dividir o prêmio, no valor aproximadamente de 1,2 milhão de cruzeiros – tivessem desenvolvido estudos de notáveis afinidades no campo da economia matemática.

Kantarovich é conhecido por sua importante contribuição à “análise de atividade”, setor da econometria que procura a melhor forma de combinar os fatores de produção de uma economia a partir de metas preestabelecidas.

Seu trabalho e o de Koopmans tem um sentido sobretudo instrumental. Esta flexibilidade, certamente, explica o interesse soviético na obra de Koopmans.

Uma atenção que, por sinal, Kantarovich por muito tempo não mereceu em seu próprio país. Com efeito, só depois da morte de Stálin seu valor passou a ser reconhecido pelas autoridades soviéticas. Desde 1971 trabalhava no Instituto de Controle Automático, em Moscou, órgão que coordena a aplicação de computadores eletrônicos em todo o país.

Mesmo ostentando os prêmios Lênin e Stálin e apesar de, naquele instituto, lecionar economia matemática a altos burocratas, Kantarovich não gozava da irrestrita confiança do governo. De seu currículo consta uma herética sugestão que escandalizou as autoridades soviéticas: permitir que, após três anos de exercício profissional, os motoristas de táxi se tornassem proprietários de seus automóveis – no caso, um fator de produção, que na União Soviética só pode pertencer ao Estado.

(Fonte: Veja, 22 de outubro de 1975 – Edição 372 – NOBEL – Pág: 108)