Leonard Bernstein, das figuras mais fascinantes do mundo da música, compositor, regente e musicólogo

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Leonard Bernstein: o mais completo músico contemporâneo

Compositor, maestro e pianista dedicou a vida a popularizar a música clássica

 

 

‘Leonard Bernstein’ em cena do documentário ‘Maior que a vida’, exibido pelo canal Arte 1 – divulgação

 

 

 

O superastro da batuta

 

Leonard Bernstein (Lawrence, 25 de agosto de 1918 – Nova York, 14 de outubro de 1990), um dos maiores regentes de todos os tempos. Uma das figuras mais fascinantes do mundo da música, na sua tríplice atividade de compositor, regente e musicólogo. Ao longo se sua carreira, Bernstein conseguiu ser, ao mesmo tempo, um maestro respeitado e um astro do mundo dos espetáculos tanto quanto Mick Jagger ou Arnold Schwarzenegger. Nasceu em 25 de agosto de 1918, em Lawrence, Massachusetts, Estados Unidos. A condição de regente de primeira grandeza foi conquistada com um punhado de gravações memoráveis e eletrizantes performances ao vivo.

 

 

 

A de superastro, através de seus programas de televisão – em que, com carisma e didatismo, desvendava os mistérios das sinfonias de Beethoven com a simplicidade de um cozinheiro ensinando uma receita de omelete – e de seu tino para aparecer nas manchetes dos jornais. Esse tino o levou a tocar a Nona Sinfonia, de Beethoven, no Muro de Berlim, em 1989, alterando a letra original – a Ode à Alegria virou Ode à Liberdade, numa gravação que chegou às lojas brasileiras em novembro – e a varar uma noite sambando no baile Gala Gay durante uma visita ao Rio de Janeiro, em 1985. Foi inspirado no comportamento de Bernstein que o escritor americano Tom Wolfe cunhou a expressão “radical chique”.

 

 

 

Nascido em Lawrence, Massachusetts, em 25 de agosto de 1918, Bernstein fez tudo bem. Ninguém mais atuou tão competentemente em tantas áreas musicais. Um ecletismo que pode ter existido no tempo de Mozart, Beethoven e outros gênios, mas é único na música contemporânea.

 

 

Richard Beymer e Natalie Wood na versão cinematográfica de ‘West side story’ – (Divulgação)

 

 

 

A fama de Bernstein se deve, sobretudo, a “West Side story”, musical da Broadway e, depois, filme premiado. Mas sua obra de concerto é mais reconhecida. Destacam-se nessa obra as três sinfonias (“Jeremy”, “The age of anxiety” e “Kaddish”), os “Chichester Psalms”, a “Serenata” para violino, o “Noturno” para flauta e cordas, a “Sonata” para clarinete, entre outras. O crítico Paul Griffiths define seu estilo como uma combinação de Stravinsky com a tradição, de música judaica com o jazz e a canção popular americana.

 

 

CONTRA O MACARTHISMO

 

 

Politicamente, aliou-se com a esquerda à época do macarthismo, rompendo com dois amigos e importantes parceiros, o cineasta Elia Kazan e o coreógrafo Jerome Robbins, quando eles delataram colegas à comissão do Senado.

 

 

Como Robbins, Bernstein conviveu conflituosamente com sua bissexualidade. Algumas de suas obras, como a ópera “Trouble in Tahiti”, tratam de crises familiares. O casamento com a costarriquenha Felicia Montealegre durou de 1951 até a morte dela, em 1978. Tiveram três filhos. Como maestro, principalmente em seus mais de dez anos à frente da Filarmônica de Nova York (onde começou substituindo, em cima da hora, sem ensaio, um Bruno Walter adoentado), regeu e gravou praticamente todo o catálogo clássico, incluindo as nove sinfonias de Beethoven. Especial atenção conferiu à música dos americanos Copland e George Gershwin. Deste, como pianista, interpretou ou levou ao disco o “Concerto em Fá” e “Rhapsody in blue”.

 

 

Sua produção para o teatro começa com “On the town”, um show tipicamente Broadway, em 1944. E segue até 1976, com “1600 Pennsylvania Avenue”, sobre alguns dos personagens que viveram na Casa Branca desde 1709. Embora compusesse para musicais (um deles, “Candide”, é das poucas operetas escritas no século passado ainda representada), preferia os balés: “Fancy Free” (1944) e “Facsimile” (1946). E as óperas, a última delas “Quiet place” (1978). O que explica não ter se dado por satisfeito enquanto não regravou “West Side story” com oscantores líricos Kiri Te Kanawa e José Carreras. Em 1971, para a inauguração do Centro Kennedy, em Washington, e por encomenda de Jacqueline Kennedy, escreveu sua ambiciosa “Missa”, peça teatral para ser celebrada por cantores, atores, dançarinos e orquestra.

 

 

 

DISTÂNCIA DE HOLLYWOOD

 

 

 

Bernstein manteve certa distância de Hollywood. “On the town” (com grande parte de sua música substituída por um subcompositor da Metro), “Wonderful Town” e, é claro, “West Side story” viraram filmes. Mas foi com “Sindicato dos ladrões”(1954) que compôs sua única partitura original para o cinema — e fez as pazes com Kazan. Bernstein não aceitou as liberdades tomadas com sua partitura na trilha sonora. Afinal, para alguém capaz de “odiar de joelhos” a composição de um gênio, respeito era o mínimo que se esperava diante da boa música.

 

 

 

 

Leonard Bernstein em 1955. (Photo: Getty Images)

Leonard Bernstein em 1955. (Photo: Getty Images)

 

 

 

Como compositor, Bernstein deixa uma obra de grande apelo popular, West Side Story (Amor, Sublime Amor, na versão brasileira), musical da Broadway de grande sucesso no qual se encontram melodias inspiradas, como a famosa Tonight Tonight. Que o compositor achava que esse musical tinha a categoria de uma ópera atesta-se por sua decisão de gravar a peça há poucos anos com um elenco de cantores líricos de primeira grandeza – José Carreras, Kiri Te Kanawa e Marilyn Horne – sob sua regência. Outras composições de Bernstein, como sua Missa e suas sinfonias, bem menos conhecidas, são obras de extrema erudição, que só a posteridade julgará.

 

 

 

Como regente, Bernstein é uma das figuras supremas das três últimas décadas, capaz não apenas de arquitetar uma formidável concepção para cada obra que dirigia mas também de transmitir contagiante entusiasmo às orquestras. Ao contrário de Herbert von Karajan, tão exigente nos ensaios quanto discreto no pódio, Bernstein extravasava toda sua emoção nos espetáculos ao vivo, gesticulando e pulando com entusiasmo juvenil. Esse entusiasmo em cena, que levava o público ao paroxismo, foi sua marca registrada desde a estreia, em novembro de 1943, quando substituiu, à frente da Filarmônica de Nova York, o legendário maestro alemão Bruno Walter, acamado em virtude de uma gripe. Bernstein, aos 25 anos, assombrou o público e a crítica, decolando para uma carreira ao longo da qual foi titular da Filarmônica de Nova York durante onze anos e regeu as maiores orquestras do mundo.

 

 

 

PITÁGORAS – Por isso mesmo, Bernstein fez questão de deixar seu legado discográfico baseado em gravações de espetáculos ao vivo. Esse legado inclui uma estupenda série das nove sinfonias de Beethoven com a Filarmônica de Viena, as quatro sinfonias de Brahms (as pares muito melhores que as ímpares), interpretações inigualáveis das sinfonias de Mahler, uma respeitável gravação integral de Tristão e Isolda, uma bela interpretação da sinfonia Júpiter, de Mozart, uma gravação clássica do Cavaleiro da Rosa, de Richard Strauss, mais uma bela leitura do Fastaff, de Verdi. Em quantidade, o legado não se compara ao de Von Karajan e de Karl Böhm. Mas, em qualidade, é do mesmo padrão e com lances raros de originalidade. Basta ouvir sua gravação da Quinta Sinfonia, de Beethoven, diferente do padrão convencional, mas de extraordinária beleza.

 

 

 

 

Leonard Bernstein: equilíbrio de lirismo e energia

Leonard Bernstein: equilíbrio de lirismo e energia

 

 

 

As preferências do Bernstein musicólogo se revelam gradualmente emm seu extraordinário livro The Unanswered Question (A Pergunta Não Respondida), em que se condensa um ciclo de conferências suas na Universidade de Harvard. Trata-se de um passeio pela história da harmonia guiado pela suprema inteligência de um musicólogo eminente. No livro, Bernstein toma como ponto de partida as relações entre matemática e música desenvolvidas por Pitágoras na Antiguidade para explicar a origem das consonâncias e dissonâncias. Com base nesse referencial, analisa obras-chave da música tonal até chegar ao revolucionário Tristão e Isolda, de Wagner, a partir do qual, segundo ele, a harmonia se bifurca entre o serialismo de Schoenberg e o politonalismo de Stravinsky. Bernstein posiciona-se decididamente ao lado de Stravinsky, considerando a música atonal, pela sua dissociação com as relações pitagóricas, capaz apenas de exprimir estados de esquizofrenia.

 

 

 

Após reger “Siegfried” em Viena, sendo dos raros maestros judeus do pós-guerra a se aproximar da música do antissemita Richard Wagner, Leonard Bernstein explicou: “Odeio Wagner, mas o odeio de joelhos”.

 

O maestro americano, foi reconhecido como uma das maiores culturas musicais do século XX, é pouco provável que o episódio cause o mesmo espanto de três décadas atrás. Ainda assim, vale como prova do quanto a música representava para o compositor, regente, pianista, professor: uma arte acima do bem e do mal.

 

 

 

 

A morte de Leonard Bernstein, dia 14 de outubro de 1990, de insuficiência respiratória causada por enfisema pulmonar – o maestro fumava cerca de três maços de cigarro por dia – agravada por um tumor pleural, deixa um imenso vácuo no mundo da música.
(Fonte: Veja, 24 de outubro de 1990 – ANO 23 – Nº 42 – Edição 1153 – MEMÓRIA/ Por Mário Henrique Simonsen – Pág; 85)

(Fonte: https://oglobo.globo.com/cultura – CULTURA / Leonard Bernstein: o centenário do mais completo músico contemporâneo / POR JOÃO MÁXIMO – 

© 1996 – 2018. Todos direitos reservados a Editora Globo S/A.

 

 

 

 

 

 

 

Regente, compositor, pianista graduado, apresentador de televisão, comentarista e militante pela paz mundial. Este foi Leonard Bernstein. Como definiu seu professor de música Fritz Reiner, “Leonard é feito um giroscópio humano”.

Filho dos imigrantes russos Jennie Resnick e Samuel Joseph Bernstein, o músico era norte-americano, nascido em 25 de agosto de 1918 na cidade de Lawrence, Massachussetts (EUA).

A maior incentivadora por seu interesse pela música foi sua tia Clara, que lhe deu um piano de presente quando ele completou 10 anos. Passou a ter aulas particulares com a pianista Frieda Karp, e, em 1930, foi matriculado no New England Conservatory of Music.

Um dos maiores prazeres de sua vida era estudar, tanto que seu currículo acadêmico era vasto. Formou-se na conceituada Universidade de Harvard, completou seu histórico disciplinar no Curtis Institute of Music, da Filadélfia, freqüentou diversos seminários especializados, e em 1940 esteve presente no curso de verão do Tanglewood Music Center, ministrado pelo maestro Koussevitzky.

Nessa época conheceu o compositor Aaron Copland, que viria a se tornar seu amigo inseparável. Eram cúmplices em tudo, principalmente no trabalho.

Bernstein gravou quase todas as obras de Copland para orquestra.

A grande chance que teve de mostrar ao público seu talento aconteceu por acaso em 1943, quando precisou substituir às pressas o maestro Bruno Walter numa apresentação no Carnegie Hall. Foi tão aplaudido que no dia seguinte seu nome estava na primeira página do jornal The New York Times.

Agraciado pela crítica, após dois anos assumiu o posto de Diretor Musical da Orquestra Filarmônica de Nova York.

Sua forma enérgica de reger sofria a influência de Mahler, e ainda conseguia chocar. Compôs peças nos mais diversos estilos e foi o maestro norte-americano que mais fez apresentações pelo mundo.

A primeira vez que Bernstein regeu um concerto fora dos Estados Unidos foi em 1944, na cidade de Montreal (Canadá). Após a Segunda Guerra, foi contratado para acalmar os ânimos dos ingleses, seguindo depois para a França e para Praga, onde se apresentou no Festival Internacional de Música.

Fez também inúmeros concertos em Israel, país escolhido por ele para a estréia de diversas obras, entre elas a Sinfonia nº 3 “Kaddish”, estreada em 1963 na cidade de Tel Aviv.

Em 1951, Bernstein se casou com a atriz chilena Felícia Montealegre Cohn, com quem teve três filhos: Jannie Anne Maria, Alexander Serge Leonard e Nina Maria Felícia.

Ele tornou-se ainda mais popular na década de 50, quando começou a apresentar programas de televisão. Entre os mais famosos estão “Omnibus” (1954), em que ensinava música clássica para leigos, e “Young People’s Concert” (1958), na CBS.

Em 1957, chegou a ser aclamado pela estréia de seu teatro musical West side story (Amor, sublime amor). A peça, que foi exibida na Broadway, conta a história da rivalidade entre duas gangues no subúrbio americano. Anos mais tarde, a obra seria adaptada para o cinema e ganharia o Oscar de melhor trilha sonora.

Cansado das apresentações, na década de 70 passou a dedicar-se apenas às composições. Apresentou trabalhos famosos como o balé Dybbuk (1975), 1600 Pensylvania Avenue (1976) e Songfest (1977). Em 1978 enviuvou, voltou a dar aulas de música e a realizar alguns breves concertos.

Um pouco antes de falecer em Nova York, no dia 14 de outubro de 1990, vítima de uma parada cardíaca, fundou a Beta (The Bernstein Education Through the Arts Fund), uma entidade filantrópica dedicada à música.

(Fonte: farelosdodia.blogspot.com/2010)

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