Kathe Kollwitz, desenhista e gravadora alemã, é uma das mulheres mais importantes da historia alemã.

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Kathe Kollwitz, uma artista por Berlim

Kathe Kollwitz (Königsberg, Alemanha, 8 de julho de 1867 – Moritzburg, 22 de abril de 1945), desenhista e gravadora alemã, é uma das mulheres mais importantes da historia alemã do final do século XIX até meados do século XX. A envergadura do seu trabalho, faz com que ela seja conhecida e respeitada também fora do seu país, não somente por sua qualidade técnica, com traços de realismo e expressionismo, mas também como artista, por sua preocupação humanitária em retratar a classe operária, a fome, a guerra e a pobreza, males do capitalismo.

Kathe nasceu na pequena cidade de Konigsberg, na época pertencente à antiga Prússia, entre Stutgart e Leipzig, em 8 de julho de 1867. Antes dos 20 anos de idade, ela foi estudar desenho em Berlim e Munique. Casa-se, logo em seguida, com o médico Karl Kollwitz, com quem vai morar em Berlim, no bairro Prenzlauer. Em 1892 e 96 nascem, respectivamente, seus dois filhos, Jean e Pierre, o segundo morto no começo da I Guerra Mundial.

Em plena atividade como artista, ela expõe pela primeira vez em 1898 na “Grande Exposição Berlinense de Arte Contemporânea”. Em seguida, começa a dar aulas de desenho na Escola de Arte Feminina de Berlim. De 1902 a 1908, Kathe Kollwitz trabalha em uma serie de gravuras em água-forte, com o tema “A guerra dos camponeses”. Em 1904, ela e seu marido vão morar em Paris por três anos, onde ela aprende as bases das artes plásticas na Academia Julian, além de frequentar o atelier do escultor Auguste Rodin. Após passar por Paris, o casal passa o próximo ano em Florença, na Itália, fazendo com que ela também tomasse contato com a arte italiana.

Em 1914, seu filho Pierre é morto na guerra que começava. A morte do filho refletiu-se em seu trabalho, tornando-o ainda mais dramático, fazendo com que a artista expusesse ainda mais suas próprias feridas e as de todos os que sofrem com a guerra, em seus desenhos. A morte, a perda maior, é um dos temas recorrentes em seu trabalho. Ela viveu o trágico período entre o começo do século XX e a II Guerra mundial, onde a morte rondava a todos, especialmente os alemães. Em 1919, Kathe Kollwitz foi nomeada professora da Academia de Belas Artes de Berlim, mas não chegou a dar aulas. Por ser mulher, simplesmente, uma vez que o governo daquela época não aceitava mulheres ocupando cargos públicos.

De 1920 a 1925 ela produz a serie de gravuras com os temas “Guerra” e “Proletariado”, alem de produzir numerosos cartazes de propaganda da luta dos trabalhadores e do povo pela paz. Em 1927, viaja a Moscou, onde recebe uma atenção especial do governo soviético e dos artistas plásticos russos.

De volta a Berlim, em 1928, ela dirige um atelier de artes gráficas na Academia de Belas Artes. Em 1933, é obrigada a deixar a Academia de Belas Artes, por suas posições políticas ao lado dos operários alemães. Em 1936, sai uma interdição oficial, por parte do governo do partido nazista, para ela expor. Durante o período da Segunda Guerra Mundial, entre 1943-44, ela se refugia, já viúva, no povoado de Moritzburg, próximo a Dresden e morre no dia 22 de abril de 1945, com 77 anos de idade.

No Museu Kathe Kollwitz em Berlim funciona numa antiga casa de quatro andares, todos repletos de sua obra: desenhos, gravuras, esculturas.

Ela era a artista dos mais pobres, dos famintos, dos renegados socialmente. No período do século XX que vai ate a II Guerra Mundial, a Alemanha, onde vivia Kathe Kollwitz, era um país sombrio, o que se refletiu profundamente em seu trabalho.

Na década de 1920, apos a I Guerra, os alemães estavam desempregados, famintos, doentes, e com medo. O filme do diretor de cinema Ingman Bergmann, “O Ovo da Serpente”, dá um quadro bem real do que era viver em Berlim naquela época.

Grande parte de suas gravuras usa a imagem da mulher, especialmente da mãe. A mãe, como detentora potencial da vida, aquela que supre e nutre, a que cura e protege. Em várias de suas gravuras há uma mãe, ou grupos de mães unidas, protegendo os corpos de seus filhos com seus próprios corpos. E toda sua energia. Parece que a artista queria mostrar, através da imagem simbólica de uma mãe, que a sociedade deveria ser a mãe que agrega, ao invés de dividir; que envolve, ao invés de desprezar; que protege, ao invés de abandonar. Essa sociedade, basta uma olhada rápida para qualquer rua hoje, não é dentro do sistema capitalista.

Talvez por ter perdido seu próprio filho na guerra, hajam tantas mães em seus trabalhos, defendendo seus filhos da morte. E talvez por ser uma mulher vivendo em uma época dura, ela tantas vezes sentiu necessidade de se auto-retratar, como se tentasse encontrar nos traços do seu rosto algum delineamento coerente. Ou pode ser que tentasse se rever como mulher, diante do próprio espelho, com rosto atualizado, vendo o processo do envelhecimento deixar marcas em sua face.

Mas… por trás dessa aparente tristeza presente em sua obra que escancara as zonas sombrias da vida, existe uma forca nos traços, uma forca pulsante e latente, a forca da vida, da mulher que não se rende, da mãe que não se acomoda, da artista inquieta.

Seu trabalho mostra, acima de tudo, a energia da vida, a fortaleza, a determinação e a consciência que inspiram aqueles que se engajam na luta por um mundo mais humano. Tudo isso mostrado dentro de um trabalho que apresenta gravuras, esculturas e desenhos que falam por si só, de tão imensa e tecnicamente belos!

(Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna – Mazé Leite – 9 de Agosto de 2010)
(Fonte: Veja, 2 de outubro de 1985 – ARTE – Edição 891 – Pág; 157)

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