Julio Cortázar, escritor auto-intitulado latino-americano

0
Powered by Rock Convert

 

 

 

 

 

Escritor e intelectual argentino, é considerado um dos autores mais inovadores e originais do seu tempo.

Julio Cortázar (Bélgica, 26 de agosto de 1914 – Paris, 12 de fevereiro de 1984), escritor auto-intitulado latino-americano. “Sei onde tenho o coração e por quem ele bate”, disse em 1982, um ano depois de tornar-se cidadão francês e ser duramente criticado em seu próprio país. Ele reafirmava assim seu amor pela Argentina, onde foi criado e estudou até 1951, quando se mudou para Paris, fugindo – por simples opção de vida – à situação implantada pelo peronismo. Mas foi em Paris que o seu coração parou, por causa de um enfarte, pouco depois do meio-dia de domingo, dia 12 de fevereiro de 1984.

Essa aceitação da condição de “escritor latino-americano” sob a qual sua obra sempre foi analisada, no entanto, pode ter-lhe sido desfavorável. As seguidas comparações de Cortázar com outros escritores argentinos, como Manuel Puig (Boquinhas Pintadas, O Beijo da Mulher Aranha) e Jorge Luis Borges, parecem ter confundido alguns críticos. Na verdade, seria difícil comparar o cosmopolitismo de Cortázar – nascido na Bélgica –com a apaixonada criatividade de Puig ou a amarga erudição de Borges, que, aliás, o reconhece como “autor de contos magníficos”. E foi justamente nos contos que Cortázar exercitou com mais brilho seu incomparável estilo.

Comumente ambientados na Argentina, eles não contêm o que se convenciona chamar de cor local, nem o ritmo regional do país, nem seus personagens têm nacionalidade definida. Pelo contrário, esses personagens emergem de situações fantásticas e são trágicos, comoventes ou engraçados como poderiam ser em Tóquio, no Rio de Janeiro ou em Adis Abeba. Assim, as situações e personagens da novela Os Prêmios (1960) parecem ter resultado de uma diluição de seus predecessores do Bestiário, coletânea de contos da década de 50, que voltam a aglutinar-se em Todos os Fogos, o Fogo e nas engraçadíssimas Histórias de Cronópios e Famas, os dois de 1962. Mas foi com a comuníssima ideia de distribuir os capítulos do romance O Jogo da Amarelinha (1963) em um cansativo quebra-cabeça que chamou a atenção do continente para sua obra. No Jogo, Cortázar dispôs os capítulos de forma que possam ser lidos linearmente, ou seguindo uma certa numeração, ou de trás para a frente.

Em 1973, quando publicou El Libro de Manuel, de profunda inspiração política, tratando dos movimentos armados em curso na América Latina, Cortázar começou a aparecer como militante político mais definido: defensor do socialismo no continente, ele passou seus últimos anos pregando em favor de Cuba e, mais recentemente, da causa sandinista na Nicarágua, país ao qual doou os direitos do livro Los Autonautas de La Cosmopista, que escreveu a quatro mãos com sua segunda mulher, a jornalista canadense Carol Dunlop, cuja morte, em 1982, o abalou profundamente e o deixou entregue à leucemia que enfraquecia seu corpo de quase 2 metros de altura. Julio Cortázar morreu no dia 12 de fevereiro de 1984, aos 70 anos, de enfarte, em Paris, na França.

 

(Fonte: Veja, 22 de fevereiro de 1984 –- Edição 807 -– DATAS – Pág; 84)
(Fonte: Veja, 27 de agosto de 1969 –- Edição 51 -– LITERATURA -– Pág; 56/57)

Powered by Rock Convert
Share.