Jules Sauer, joalheiro francês, foi o fundador da joalheria Amsterdam Sauer, grande desbravador das pedras brasileiras

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Jules Sauer, grande desbravador das pedras brasileiras

 

Jules Sauer em foto de 2003 - (Foto: Ana Branco / Agência O Globo)

Jules Sauer em foto de 2003 – (Foto: Ana Branco / Agência O Globo)

Fundador da Amsterdam Sauer

Jules Sauer (Alsácia, França, 1921 – Avenida Atlântica, no Rio de Janeiro, 2 de fevereiro de 2017), joalheiro francês, foi fundador da joalheria Amsterdam Sauer

Uma das maiores autoridades em gemologia e alta joalheria do Brasil e do mundo, Jules Sauer era membro do Círculo de Honra do Gemological Institute of America (GIA), autoridade máxima em análise, certificação e conhecimento de pedras preciosas. Ele também era Cidadão Honorário de cidades como Belo Horizonte, Teófilo Otoni e Governador Valadares (MG), São Paulo e Rio de Janeiro.

Filho de pais judeus e nascido em 1921, na região da Alsácia, na França, Jules Sauer vivia na Bélgica quando teve de fugir da perseguição aos judeus em 1939. Ele pedalou mais de 1.500 quilômetros em sua bicicleta até a Espanha, onde foi detido, sem documentos, pela polícia. Conseguiu escapar e seguiu para Portugal, onde embarcou para o Brasil.

Aqui, começou a dar aulas de francês e conseguiu um emprego no negócio de pedras preciosas do irmão de um aluno, em Minas Gerais. Quase dois anos após ter deixado a Bélgica, já era dono da própria empresa.

Na década de 1950, o empresário comprou 43% da água-marinha mais famosa do país, batizada de Martha Rocha, inspirado nos olhos azuis da Miss Brasil. A pedra pesava 36,5 quilos e suas gemas lapidadas foram parar em joias que correram o mundo.

Em 1963, Jules interrompeu suas férias em família na Bahia para ver de perto as pedras verdes que garimpeiros tinham encontrado na região de Salininha, a leste do Rio São Francisco. Eram as primeiras esmeraldas encontradas no país. A partir daí, a Amsterdam Sauer tornou-se expert em esmeraldas brasileiras e colombianas na América do Sul.

Como joalheiro, ficou famoso por manter, ao máximo, o tamanho natural da gema bruta, com um design que não ofuscasse a pedra.

A primeira loja da marca foi inaugurada no térreo do Edifício Chopin, ao lado do Hotel Copacabana Palace, em 1956. E está lá até hoje. Em 1966, Jules Sauer conquistou seu primeiro prêmio Diamond International Awards, a consagração máxima da joalheria internacional, por conta do anel Constellation.

 

Zilda e Jules Sauer com Rosana de Moraes (Foto: GALERIAS | Lu Lacerda | iG/Divulgação)

Zilda e Jules Sauer com Rosana de Moraes (Foto: GALERIAS | Lu Lacerda | iG/Divulgação)

 

Jules Roger Sauer, chegou ao Brasil aos 18 anos. Em Minas Gerais, começou a trabalhar com pedras preciosas, nos garimpos. Em 1941, a Lapidação Amsterdam Limitada foi fundada. Era o início da joalheria Amsterdam Sauer, responsável pela divulgação internacional de gemas valiosas e raras no país, como o topázio imperial (encontrado apenas no Brasil), a opala do Piauí e a turmalina paraíba

Fundador da Amsterdam Sauer, uma das joalherias mais antigas e respeitadas do Brasil, que em 2016 completou 75 anos de história, ele teve uma trajetória digna de filme hollywoodiano, começando por sua fuga espetacular dos horrores do nazismo na Europa e culminando no reconhecimento internacional no mundo dos diamantes e das pedras preciosas coloridas.

Nascido em 1921, na região da Alsácia, na França, Jules mudou-se, ainda pequeno, com os pais para a Bélgica, de onde teve de fugir ante a aproximação dos nazistas, em 1940. O diretor da Escola Politécnica avisou ao jovem de 18 anos o perigo iminente do avanço das tropas alemãs. Ele pegou a bicicleta e pedalou mais de 1.500 quilômetros até chegar à Espanha, onde foi detido, sem documentos, pela polícia. Jules conseguiu fugir pela fresta do basculante do quartinho onde estava preso e rumou para Portugal. De lá, pegou um navio para a América do Sul e veio parar no Brasil, onde começou a dar aulas de francês.

Um aluno lhe ofereceu emprego no negócio de pedras preciosas do irmão, em Minas Gerais. Sagaz, Jules aprendeu rapidamente as técnicas de lapidação e virou o homem de confiança do patrão. Em pouco tempo, alçou sua independência. Embrenhou-se Brasil adentro como comprador e negociante de pedras. Em quase dois anos desde que deixou a Bélgica, já era dono da própria empresa, que, detalhe, foi instalada numa zona de baixo meretrício de Belo Horizonte.

Foi um verdadeiro bandeirante em pleno século XX. Fundada em 1941, a Lapidação Amsterdam foi crescendo; além de obter as melhores pedras, Jules também as lapidava e fez uma verdadeira escola de exímios lapidadores pioneiros. Com a expansão do negócio, ele se viu carente de uma secretária. Zilda Waks, estudante de contabilidade, candidatou-se ao cargo e foi empregada. Célere, disciplinada, pôs ordem na administração do escritório durante as muitas viagens do patrão. Viraram uma dobradinha imbatível: o cérebro administrativo e o coração criativo.

Jules com a mulher, Zilda, e os dois filhos, Daniel e Débora, na década de 1950 (Foto: Reprodução)

Jules com a mulher, Zilda, e os dois filhos, Daniel e Débora, na década de 1950 (Foto: Reprodução)

 

Acabaram, é claro, se apaixonando perdidamente e se casaram em 1950, no Rio. Ela segurava os ímpetos da personalidade transbordante do marido, ele recusava negócios mirabolantes colocando a conta na justa fama de durona da mulher. Eram inteligentes, discretos, elegantes e sociáveis. Quantas vezes, ao saber que uma turma de gringos poderosos estava embarcando para o Brasil, eles pegavam o mesmo navio, onde Zilda desfilava peças inacreditáveis e despertava a curiosidade das mulheres? Impossível imaginar o sucesso da Amsterdam Sauer sem essa mulher única.

Imigrante polonesa que chegou ao Brasil em 1936 também fugindo dos horrores da Europa, Zilda passou a vida dizendo que deveria retribuir ao Brasil ter sido aqui recebida de braços abertos. Abria sua casa para reuniões e eventos filantrópicos, estava sempre inventando uma maneira de levantar fundos para projetos sociais em dificuldade e para as causas em que acreditava, como a afirmação da identidade judaica e o Banco da Mulher, instituição que incentivava a autonomia financeira de mulheres de baixa renda, muito antes que se falasse em empoderamento feminino.

Deixou uma enorme lacuna quando partiu em 2013. Reconhecido como pedrista, Jules precisava agora se celebrizar como joalheiro. E escolheu o caminho mais difícil: nada de destruir o cristal bruto para transformá-lo em pequenas pedras lapidadas, como era o gosto da época. Ele decidiu manter, ao máximo, seu tamanho natural, ampliando sua magnitude, à moda da realeza. As joias deveriam ser simplesmente es-pe-ta-cu-la-res, com desenhos que não ofuscassem as gemas. E, como não havia no país grandes ourives dedicados à montagem das gemas, ele recrutou o artista belga Henrique Wijstraat para supervisionar sua oficina.

Antes de trabalhar no mundo das joias, Jules dava aulas de francês (Foto: Reprodução)

Antes de trabalhar no mundo das joias, Jules dava aulas de francês (Foto: Reprodução)

 

 

As clientes se desmanchavam ao conhecer a história das pedras fabulosas que compravam, e a fama da empresa começou a correr o Brasil e o mundo. A evolução do transporte aéreo trazia, cada vez mais, estrangeiros ao país. O attaché mineral da embaixada americana, por exemplo, recomendava aos compatriotas em busca de pepitas que comprassem com o casal.

Em 1956, ao lado do Copacabana Palace, no térreo do Edifício Chopin, os Sauers abriram a primeira loja da Amsterdam Sauer, seguindo o padrão de atendimento das joalherias da Place Vendôme, em Paris. Até então, a alta sociedade torcia o nariz para as pedras brasileiras, preferindo os diamantes, mas Jules tratou logo de alçá-las à condição de objeto do desejo.

Entre os feitos mais conhecidos está a compra, em meados da década de 1950, da água-marinha mais famosa do país, batizada por Jules com o nome da miss mais badalada de todos os tempos, Martha Rocha – uma alusão aos imbatíveis olhos azuis da musa. A pedra pesava 36,5 quilos e tinha 50.000 quilates. Ele adquiriu 43% de sua propriedade, por US$ 750 mil na época. Depois da lapidação, pedaços da pedra correram o mundo e valeriam hoje, juntos, cerca de US$ 50 milhões. Ele, claro, presenteou Zilda com algumas peças.

Em 1963, Jules estava de férias com a família – Zilda e ele tiveram dois filhos, Debora e Daniel – quando recebeu um chamado de garimpeiros baianos que queriam lhe mostrar umas pedras verdes que haviam encontrado na região de Salininha, a leste do Rio São Francisco. Não eram cristais, como eles acreditavam, mas esmeraldas, as gemas que todo mundo procurava no Brasil havia 400 anos.

Especialistas alemães e ingleses recusaram-se a reconhecer as pedras como tal, então Jules recorreu ao Gemological Institute of America, a mais prestigiosa instituição de gemologia do mundo, em busca de um veredicto final. Foi positivo. E, assim, nasciam as esmeraldas brasileiras…

Três anos depois, ele conquistaria seu primeiro prêmio De Beers – Diamond International Awards, a consagração máxima da joalheria internacional, por causa do anel Constellation. Outros dois viriam fazer-lhe companhia: um para um bracelete de ouro branco e amarelo e diamantes em 1992 e outro para a gargantilha Fireworks, em 2000. Jules seria responsável também por introduzir no mercado brasileiro o gosto por pedras até então desconhecidas ou pouco populares, como o topázio imperial, a tanzanita e, mais recentemente, a celebérrima turmalina da Paraíba.

 

 

Nascido em 1921, na região da Alsácia, na França, Jules mudou-se, ainda pequeno, com os pais para a Bélgica, de onde teve de fugir ante a aproximação dos nazistas (Foto: Reprodução)

Nascido em 1921, na região da Alsácia, na França, Jules mudou-se, ainda pequeno, com os pais para a Bélgica, de onde teve de fugir ante a aproximação dos nazistas (Foto: Reprodução)

 

Em 2004, ele foi eleito membro do Círculo de Honra do Gemological Institute of America (GIA), uma das mais importantes entidades internacionais de proteção da confiança pública em pedras preciosas por meio de serviços laboratoriais, programas educativos e descobertas de pesquisa.

Uma anedota que ele adorava relembrar: nos anos 1980, a atriz inglesa Joan Collins, da série televisiva americana Dinastia, visitou o Brasil e pediu para conhecer uma das butiques da Amsterdam Sauer. Pediu para ver as joias mais espetaculares; separou uma, duas, cinco. Quando o gerente lhe apresentou a conta, ela fez cara de espanto e perguntou se deveria mesmo pagar. Claro que sim. Não importava se Joan era a maior estrela da TV americana na época. Ainda não existia essa cultura de empréstimos de tapete vermelho…

Boa parte dessa história está contada nos muitos livros que ele escreveu sobre as pedras brasileiras e no Museu Amsterdam Sauer, com seu acervo de mais de 3 mil peças, incluindo a maior alexandrita não lapidada do mundo, de 122.400 quilates e 24,48 quilos. Uma verdadeira aula sobre a alta joalheria nacional do século XX, em pleno coração de Ipanema.

Jules Sauer morreu em 2 de fevereiro de 2017, aos 95 anos, em seu apartamento na Avenida Atlântica, no Rio de Janeiro, após uma longa enfermidade.

Ele deixa dois filhos, Debora e Daniel, frutos de seu casamento, em 1950, com a polonesa naturalizada brasileira Zilda Waks Sauer, falecida em 2013, sete netos e quatro bisnetos.

 

(Fonte: Zero Hora – ANO 53 – N° 18.707 – 22 de fevereiro de 2017 – ALMANAQUE GAÚCHO – Pág: 32)

 

(Fonte: http://epoca.globo.com/sociedade/bruno-astuto/noticia/2017/02 – SOCIEDADE/ Por Bruno Astuto – 01/02/2017)

(Fonte: http://oglobo.globo.com/ela/gente  – ELA – GENTE /POR O GLOBO – 01/02/2017)

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