José Wilker, ator e diretor, ficou conhecido por trabalhos marcantes em novelas como Roque Santeiro.

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José Wilker: de santo a matador, de galã a homem comum

José Wilker (Juazeiro do Norte, 20 de agosto de 1946 – Rio de Janeiro, 5 de abril de 2014), ator, diretor e crítico de cinema que ficou conhecido por trabalhos marcantes em novelas como “Roque Santeiro”, em que interpretou o personagem-título, e “Senhora do destino”, em que interpretou o bicheiro Giovanni Improtta. No cinema, fez filmes como “Bye bye Brasil” e viveu o Vadinho de “Dona Flor e seus dois maridos”.

TRAJETÓRIA

José Wilker de Almeida nasceu em Juazeiro do Norte no dia 20 de agosto de 1946 e se mudou com a família, ainda criança, para o Recife. A mãe, Raimunda, era dona de casa, e o pai, Severino, caixeiro viajante.

O primeiro trabalho de Wilker foi com apenas 13 anos, como figurante no teleteatro da TV Rádio Clube, do Recife. “Ficava por ali aguardando alguma ponta”, lembrou ele em depoimento.

A aparição inicial foi como cobrador de jornal na peça “Um bonde chamado desejo”, de Tennessee Williams.

Sua carreira no teatro começou no Movimento de Cultura Popular (MCP) do Partido Comunista, onde dirigiu espetáculos pelo sertão e realizou documentários sobre cultura popular.

Em 1967, Wilker se mudou para o Rio de Janeiro para estudar Sociologia na PUC, mas abandonou o curso para se dedicar exclusivamente ao teatro.

Em 1970, após ganhar o prêmio Molière de Melhor Ator pela peça “O arquiteto e o imperador da Assíria”, foi convidado pelo escritor Dias Gomes o para o elenco de “Bandeira 2” (1971), sua primeira novela. Seu personagem foi Zelito, um dos filhos do bicheiro Tucão (Paulo Gracindo).

“Eu fazia teatro há dez anos, não tinha nada. Uma semana depois de estar no ar, eu era um cara com uma conta no banco, identidade, residência fixa e reconhecimento na rua. A resposta era muito imediata, intensa. Acabei gostando”, afirmou Wilker ao Memória Globo.

Ele interpretou o seu primeiro papel principal na TV em 1975: foi Mundinho Falcão em “Gabriela”, adaptação de Walter George Durst do romance de Jorge Amado, um marco na história da teledramaturgia brasileira.

Personagens conhecidos
Wilker tem em seu currículo personagens memoráveis, como o jovem Rodrigo, protagonista da novela “Anjo mau” (1976), de Cassiano Gabus Mendes.
Em 1985, viveu Roque Santeiro, personagem central da trama homônima escrita por Dias Gomes e Aguinaldo Silva. Em 2004 interpretou o ex-bicheiro Giovanni Improtta, de “Senhora do destino”, de Aguinaldo Silva, um personagem com diversos bordões como “felomenal” e “o tempo ruge, e a Sapucaí é grande”.

O artista dirigiu o humorístico “Sai de baixo” (1996) e as novelas “Louco amor” (1983), de Gilberto Braga, e “Transas e caretas” (1984), de Lauro César Muniz. Durante uma rápida passagem pela extinta TV Manchete, acumulou direção e atuação em duas novelas: “Carmem” (1987), de Gloria Perez, e “Corpo santo” (1987), de José Louzeiro.

Apaixonado pelo cinema, o ator participou de filmes como “Xica da Silva” (1976) e “Bye bye Brasil” (1979), ambos de Cacá Diegues, “Dona Flor e seus dois maridos” (1976) e “O homem da capa preta” (1985). Fez ainda o personagem Antônio Conselheiro em “Guerra de Canudos” (1997), de Sérgio Rezende. Além disso, foi diretor-presidente da Riofilme.

Wilker também se destacou em minisséries como “Anos rebeldes” (1992), de Gilberto Braga; “Agosto” (1993), adaptada da obra de Rubem Fonseca; e “A muralha” (2000), escrita por Maria Adelaide Amaral e João Emanuel Carneiro.
Em 2006, interpretou o presidente Juscelino Kubitschek na minissérie “JK”, de Maria Adelaide Amaral e Alcides Nogueira.
O artista ainda escreveu textos para revistas e jornais e comentou a cerimônia do Oscar durante vários anos, para a TV Globo e para a GloboNews.

José Wilker deixa duas filhas. Mariana, com a atriz Renée de Vielmond, e Isabel, com a também atriz Mônica Torres.

UM ATOR COMPLETO

Um ator completo. Usar o clichê é inevitável. Não há outra classificação para definir José Wilker. E isso já se dizia dele quando estava vivo. Tornou-se uma unanimidade entre os colegas de profissão, a imprensa e o público. Uma de suas maiores qualidades era a versatilidade. Um artista de mil faces, unidas por dois traços em comum: a inconfundível voz grave e um delicioso cinismo ao estilo Jack Nicholson.

Para ele não havia personagem inapropriado. Wilker se adequava a qualquer tipo. Na TV foi galã na juventude (Rodrigo, na primeira versão de Anjo Mau, 1976) e também na maturidade (Marcelo, A Próxima Vítima, 1995). Santo de araque (Roque, em Roque Santeiro, 1985) e contraventor apaixonado (Giovanni Improtta, Senhora do Destino, 2004).

Machão violento (Jesuíno, Gabriela, 2012) e gay romântico (Ariel, Desejos de Mulher, 2002). Presidente da República (Juscelino Kubitschek, JK, 2006) e matador arrependido (Zeca Diabo, O Bem Amado, 2011). Um ator com habilidade de camaleão.

Fora de cena, Wilker era personagem de si mesmo. Culto, politizado, irônico, devotado ao cinema, colecionador de tênis All Stars e armações de óculos coloridas. E um apaixonado pelas mulheres. Casou-se algumas vezes, teve duas filhas e dizia jamais desistir do amor. Sabia, porém, suportar os momentos de solidão. Teve incontáveis amigos e fãs de várias gerações. Foi um ser gregário, como costuma dizer.

O último papel na TV não foi compatível com a grandeza de sua trajetória. O médico Herbert de Amor à Vida era excessivamente introspectivo. Não teve história relevante nem um final criativo. Uma saída de cena distante do triunfal, como o ator merecia.

Mas a galeria de personagens carismáticos e memoráveis compensa um ou outro insucesso. José Wilker construiu uma carreira notável. Soube ser popular sem flertar com o popularesco. Fez-se célebre antes de ser celebridade. E despediu-se da vida na tranquilidade do sono. Provavelmente durante um sonho bom.

José Wilker morreu, aos 67 anos, na madrugada do sábado dia 5 de abril de 2014, no Rio de Janeiro. Ele sofreu um infarto.

(Fonte: http://diversao.terra.com.br/gente – FAMOSOS – Por Jeff Benício – 5 de abril de 2014)
(Fonte: http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2014/04 – Do G1, no Rio – 05/04/2014)

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